segunda-feira, dezembro 31, 2012

O último ano do ciclo de Abril

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Hoje o país chega ao fim de um ciclo iniciado no dia 25 de Abril de 1974, um ciclo em que todos os políticos, na oposição ou no poder, assumiam que o objectivo da governação era melhor a vida dos portugueses, aperfeiçoar a democracia e aumentar o bem-estar social.
  
Portugal ainda tem o mesmo regime democrático mas transformado numa palhaçada, tem a mesma Constituição da República mas aquele que jurou respeitá-la e fazer respeitá-la parece ignorar as obrigações do mandato que os portugueses lhe confiaram, tem um ministério Público responsável pela defesa da democracia mas está nas mãos de um estranho sindicato e a ministra da Justiça até ameaça tudo e todos com um suposto fim da impunidade.
  
Portugal ainda tem um parlamento mas os deputados não passam de paus mandados e quem lá fala arrisca-se a chegar a casa e já ter um processo disciplinar ou judicial por ter ousado abrir a boca. Tem um primeiro-ministro mas os que há tanto escrevem colunas no DN a dizer mal do acordo ortográfico esqueceram-se de lhe perguntar com base em que acordo escreve as mensagens no Facebook, um primeiro-ministro que não se esquece de levar consigo a biblioteca sobe Salazar. Tem um Presidente da República que nos vai obrigar a reavaliar o desempenho de Américo Tomaz e ter mais consideração pelo almirante pois o último presidente da ditadura estava muitos palmos acima do último presidente da democracia.
  
Amanhã o país entra num novo ciclo, fala-se em refundar o Estado, Portugal volta a ter um ministro das Finanças que se sente com poder para decidir o que é o Estado e um Presidente, os patrões já falam em diluir subsídios na esperança de desaparecerem, querem introduzir as propinas e acabar com a Segurança Social, Passos Coelho não quer ser apenas mais troikista do que a troika, quer também ser mais Salazarista do que o Salazar. O problema e que é mais imbecil do que todos nós pensávamos e está conduzindo o país para o abismo.
  
Uma direita que devia ter apanhado nas orelhas em 1974 sonha com o regresso ao passado e pensa que o apoio tecnocratas neo-nazis da troika pode fazer vergar um povo, impondo um regime de privilégios socialmente inaceitável contra a vontade da maioria. Esta extrema-direita não quer apenas liberalizar a economia, quer instalar um esquema de empobrecimento forçado que permita a uma classe conservadora continuar a enriquecer sem correr grandes riscos empresariais.
  
É evidente que mais dia menos dia o país chega a um beco sem saída, o Estado está a desagregar-se, a economia a entrar num ciclo de exploração de aposta na mão de obra não qualificada, os jovens mais qualificados estão abandonando Portugal, a rotura social é quase inevitável. Mas um governo de betinhos e uma extrema-direita gulosa são incapazes de perceber, não tenderam o 15 de Setembro, não perceberam que no próximo dia 15 de um qualquer mês será o rastilho para a mudança política.
  
Se o governo não respeita a vontade do povo, se governa de forma ilegítima e com base em desvios colossais inventados ou provocados pela incompetência do ministro das Finanças, se a Constituição não é respeitada e o Presidente está com Alzheimer político não há solução democrática para provocar uma mudança. É esse o perigo da forma irresponsável como este PSD governa o país, este PSD de Cavaco e Passos Coelho vai conduzir o país para a ruptura e para o conflito social.