Quando há alguns meses denunciei algumas práticas oportunistas na gestão das escola públicas não faltaram os comentários e as mensagens de mails a dizer que há muito que não entrava nas escolas, que aquilo que escrevi era coisa do passado. Na ocasião critiquei a forma oportunista como muitas escolas organizam as turmas e os horários, favorecendo professores instalados e filhos dos amigos, segregando novos professores e alunos com mais dificuldades.
Acredito que a situação tenha melhorado ainda que baste falar com professores e alunos para se constatar que nem tudo vai bem na gestão das escolas. Se tivesse dúvidas deixaria de as ter ao ler a notícia do Jornal de Notícias que dá conta das conclusões de um estudo realizado por dois investigadores especializados em Sociologia da Educação. Aqui ficam dois extractos da notícia:
«Os estudiosos apontam a existência de estabelecimentos de ensino muito próximos um do outro, mas com populações estudantis muito distintas, fruto de uma selecção que tanto dá origem a "nichos de excelência" como a "guetos de exclusão". Segundo afirmam, o comportamento "pouco democrático" de estabelecimentos de ensino público - que origina grandes assimetrias na rede de ensino - engloba, também, a constituição de turmas com base na diferenciação social e aproveitamento escolar. »
«Pedro Abrantes vai mais longe, ao realçar a própria constituição da turmas. "Em muitas escolas, numa lógica perversa, constituem-se turmas com filhos de professores, médicos e juristas e outras onde predominam alunos problemáticos. Mais grave ainda é ficarem os professores mais velhos com as turmas de excelência, cabendo aos mais novos as restantes", concluiu.»
Foram precisamente estas as críticas que fiz e pelas quais fui violentamente criticado.
Esta realidade mostra à evidência que a tão defendida “gestão democrática das escolas” pode ter efeitos muitos perversos pois a democracia não é exercida por aqueles a quem a escola pertence, a comunidade, mas sim por alguns do que as escolas empregam.
É urgente a adopção de uma política de ensino, mas uma política total e abrangente, mas uma política que “agarre” o problema em todas as dimensões e não orientada para falsos inimigos e objectivos panfletários.