quarta-feira, dezembro 19, 2007

E porque não três referendos?


1. São em maior número os que discutem a democracia e exigem o Tratado do que os que exigem o referendo para poderem participar directamente na ratificação ou não ratificação do Tratado. Mesmo descontando os que defendem o referendo porque em termos eleitorais não são representativos, as personalidades que se têm manifestado sobre a questão do referendo raramente se pronunciam sobre o próprio Tratado.

Está em causa a democracia que temos e não faz sentido que sempre que uma personalidade ou um partido discorda de uma decisão governamental exige um referendo na esperança de transformar uma minoria numa maioria, graças à elevada abstenção nos referendos. Parece que faria sentido fazer um referendo para perguntar aos portugueses se querem um referendo ao Tratado.

2. Quando Portugal entrou para a CEE ainda alguns camaradas de Louça nos propunham as maravilhas da Albânia enquanto Jerónimo de Sousa sonhava com a oportunidade perdida de Portugal participar naquele espaço de progresso económico que era o COMECON. De progresso, de soberania nacional de democracia, a crer nas críticas que o líder do PCP faz ao Tratado.

O que Jerónimo de Sousa, como uma boa parte dos que defendem o referendo, queria mesmo era um referendo à presença de Portugal na EU, já que no caso da NATO não têm havido oportunidades para propor um referendo. Aliás, mesmo no meio dos defensores do referendo, como é o caso de Jorge Sampaio, são muitos os que justificam a realização de um referendo porque os portugueses nunca se manifestaram sobre a adesão à CEE. Não faz sentido fazer um referendo para uns votarem não porque não foram convidados para a redacção do Tratado, outros porque são contra a CEE, outros porque com o euro a bica passou de 45$00 para 0,55€. O correcto seria fazer um referendo para perguntar aos portugueses se querem continuar na EU.

3. Se os portugueses estão de acordo que as decisões políticas devem ser adoptadas em ambiente de RGA, com referendos para tudo e mais alguma coisa, e se votaram a favor da continuação da EU passar-se-ia ao referendo ao Tratado. Poderíamos então mostrar aos europeus comos somos grandes, votando contra poríamos a Europa de pernas para o ar, alguns dos nossos comentadores ganhariam fama internacional, o Jerónimo afirmar-se-ia omo o herdeiro de Brejnev e teríamos mais uns meses de diversão. Com sorte até se poderia dar o caso de um impasse europeu levasse a que fosse uma próxima presidência de Sócrates a resolver o imbróglio. Depois voltaríamos ao ponto de partida, e tal como agora discutiríamos se deveria ou não haver um referendo.