Recentemente apareceu nalgumas páginas web um exercício curioso, coloca-se a fotografia de um qualquer desconhecido e tenta-se identificar o sujeito. Colocado de outra forma tenta-se saber quantos conhecimentos entre pessoas podem ligar dois cidadãos do planeta. Por exemplo, eu conheço alguém que conhece Durão Barroso e este conhece George Bush, isto é, entre mim e Bush há duas pessoas.
O que tem isto a ver com alguma criminalidade em Portugal?
A semana passada Pacheco Pereira escreveu um dos seus melhores artigos no Público com o título “O Meio” em que punha o dedo na ferida sobre o que se passa no Porto. Estamos habituados a tratar o mundo do crime como um mundo paralelo, um sub mundo. Deste lado estão os bons, do outro estão os criminosos e entre os dois as relações, a existirem, são uma excepção. Mas as notícias acerca dos homicídios no Porto dão indicações suficientes para se perceber que há demasiadas conexões entre dois mundos supostamente paralelos, conexões com o futebol, com os políticos locais e mesmo com políticos. Os criminosos fazem parte de claques, partilham da intimidade de políticos, presta segurança a líderes partidários. Onde terminam estas ligações?
O mundo da ilegalidade, onde jorra o dinheiro fácil que tem alimentado muito do pobre riquismo nacional, é feito de uma imensidão de vasos comunicantes, feito de laços, de cumplicidades, de compadrios e de solidariedades que une todo o mundo do crime e não apenas o negócio da segurança na noite do Porto.
O dinheiro do tráfico da droga junta-se ao dinheiro da gestão de influências, o mesmo que alimenta o sistema partidário, juntos percorrem o mesmo percurso com vista ao branqueamento de capitais, nas offshores ou em investimentos insuspeitos. Os sacos de plástico é coisa de amadores, o dinheiro circula pelo sistema bancário para alegria dos banqueiros, o dinheiro do traficante é íntimo do do que se escapa ao fisco, ambos fazem parte de um imenso saco azul que enriquece uns e destrói o país. Destrói os seus valores, destrói a concorrência nos mercados, destrói a transparência do sistema político, destrói a democracia.
Do banqueiro pouco escrupuloso ao segurança do bordel do Porto distam poucos passos, os mesmos que distam do político duvidoso ao banqueiro e, aplicando a propriedade associativa, são os mesmos passos que distam do homicida ao político. O que se passou no Porto foi um pequeno descontrolo, brevemente os que cometeram o exagero estarão na prisão, o esquema regressará à normalidade para tranquilidade de todos, para que os negócios continuem a correr bem, sem sobressaltos desnecessários e inoportunos.