O lado mais preocupante da crise ocorrida na CML não está nos jogos políticos de António Costa e Luís Filipe Menezes mas sim no nível de endividamento da autarquia. Seria compreensível que esse endividamento tivesse resultado de uma estratégia autárquica de longo prazo, capaz de gerar recursos financeiros. Mas não foi isso que sucedeu, Lisboa está pior do que estava, não se modernizou, está suja e desarrumada, o dinheiro gasto “à Lagardère” foi para obras de fachada, para pagar a rebanhos de assessores inúteis, para campanhas publicitárias. Lisboa gastou demasiado e mal, empenhando o seu futuro.
O que a autarquia de Lisboa fez, à semelhança do que sucede com muitas outras, é o mesmo que fazem muitas famílias portuguesas, gastam o que podem e o que não podem, estabelecem os seus orçamentos confundindo rendimentos com capacidade de crédito e levam o consumo a extremos. O resultado é a asfixia financeira sem que daí tenha resultado bem-estar ou crescimento económico, a maior parte do “dinheiro macaco” vai direito para despesas necessárias, sem grande efeito multiplicador na economia, sejam os bens de consumo adquirido pelas famílias, sejam as obras de fachada das autarquias.
Como se não bastassem as famílias e as autarquias a Administração Pública Central também tem vivido do crédito, sobrevivendo graças a défices que vão agravando a dívida pública, remetendo para as gerações futuras o preço dos excessos do presente. As famílias comprometem a segurança no futuro e o Estado compromete o futuro das novas gerações, as primeiras abusam enquanto os banco deixam, o Estado estica o pé até onde permite o Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Estado e cidadãos confundem o que têm e o que podem vir a ter, gastam o mais que podem esquecendo que as dívidas terão que ser saldadas. Os portugueses vão ter que pagar as dívidas que assumiram enquanto cidadãos e enquanto país, mais tarde ou mais cedo sentirão a ressaca de uma bebedeira colectiva permitida pelo abuso do crédito, se é que muitas das dificuldades já sentidas pela economia portuguesa não são já um primeiro reflexo disso mesmo.