sexta-feira, setembro 28, 2007

Dez conselhos de amigo ao novo director-geral dos Impostos


1.º Deixe cair a receita no primeiro ano do mandato

Sejam quais forem os resultados do primeiro ano terá sempre a sombra do seu antecessor que ficará sempre com os louros do seu trabalho. Ainda por cima quanto maior for o crescimento percentual da receita no primeiro ano, menor será no segundo ano. Se deixar cair a receita no primeiro ano aumentará a possibilidade de sucesso no segundo podendo dizer que conseguiu ainda melhores resultados.

2.º Jogue com as primeiras páginas dos jornais

Uma primeira página de um jornal possibilita um aumento das suas vendas em mais de 10% se contiver um petisco fiscal, isso faz dos jornalistas seus amigos. Deverá aproveitar todas as oportunidades para fazer manchete. Não esgote os assuntos com uma única notícia, dê várias de mão com o mesmo assunto, a mesma medida pode ser divulgada várias vezes, primeiro diz que pensa fazer, depois que vai fazer, a seguir que já começou a fazer, de seguida que está fazendo, segue-se a informação de que está quase feito e, por fim, diz os resultados do que foi feito.

3. Deixe os corruptos e incompetentes no seu lugar

A corrupção e a incompetência, fenómenos que normalmente aparecem associados e se dissimulam um ao outro, quando instalada tem numerosas metástases, se há um responsável corrupto é certo de que teve condições para multiplicar a sua influência. De pouco serve substituir o corrupto por quem está a seguir, o mais provável é que o seja tanto o primeiro. O combate contra a corrupção e pela competência tem resultados, mas estes resultados só serão visíveis a médio e longo prazo, nessa ocasião o director-geral será outro, para um director-geral só á curto prazo.

Por definição, os serviços dos corruptos e incompetentes são os que apresentam maior potencial de receita pelo que se pretende resultados a curto prazo a melhor estratégia será mantê-los em vez de os demitir, desde que, em contrapartida, se empenhem nos resultados da sua gestão.

4.º Aplique o PRACE tão cedo quando possível

Já que tem que reduzir serviços e mandar funcionários para casa faça-o tão cedo quanto possível, de preferência nos primeiros meses, desta forma todos dirão que está fazendo o que alguém adiou para ficar bem na fotografia, maximizando os seus resultados à custa do viesse a seguir.

5.º. Não cobre tudo o que há a cobrar

Não precisa de ter pressa, o ano tem doze meses e os resultados são medidos ao fim do ano, se cobrar demais em Outubro vai ter piores resultados em Novembro e Dezembro e é nesses meses que o Governo se preocupa com a receita fiscal. Deixe o que está por cobrar para o próximo ano, os resultados deste ano nunca serão seus e o Governo pode compensar a quebra da receita com o congelamento das despesas e ainda lhe agradece pois a quebra da receita será um excelente argumento em favor da manutenção da carga fiscal no momento da discussão do Orçamento de Estado.

6.º Sincronize a cobrança de impostos com a sua agenda pessoal

Na perspectiva dos jornais cada mês do ano tem a sua “fruta da época”, por exemplo, em Junhos os nossos jornalistas estão mais preocupados em saber em que praia Sócrates vai molhar os burrinhos do que com o défice orçamental, em Setembro a Frenprof dá-lhe folga. Faça com que os resultados coincidam com as épocas do ano em que os jornais não têm nada para informar, o que não é notícia em Março pode ser primeira página no mês de Agosto.

7.º Não se preocupe com a modernização das instalações

Tem maior impacto lavar as paredes de um serviço na Baixa dizendo que se está a produzir a mudança da imagem da DGCI do que modernizar as quase duas dezenas dos serviços de finanças de Lisboa. E se o fizer no final do mandato ainda melhor pois pode mudar o logótipo deixando para o seguinte a despesa com a mudança de imagem nos outros setecentos serviços.

8.º Aproveite bem o trabalho alheio em proveito próprio

É evidente que a informatização é obra da DGITA mas não se preocupe com isso, nem políticos, nem jornalistas estão interessados nisso, eles não sabem que a DGITA é responsável pela modernização informática, nem que as Alfândegas cobram 25% da receita do Estado. Tudo que de bom for feito ser-lhe-á atribuído.

9.º Se não tiver nada para fazer, volte a fazer o que está feito

É provável que não tenha ideias novas, nesse caso volte a fazer o que está feito. As declarações electrónicas foram introduzidas há nove ou dez anos? Não faz mal, reinvente-as, introduza uma qualquer alteração e dê-lhes um novo fôlego. Se não inventou chame a si a reinvenção das declarações electrónicas. Charles Linberg atravessou o Atlântico de lá para cá? Faça o mesmo mas de cá para lá ou então opte pelo helicóptero, o resultado é o mesmo mas fica famoso por o ter feito e como foi o último será o seu nome a ficar para a história.

10.º Dê prioridade aos impostos pagos pelos mais pobres

Se cobrar os impostos devidos pelos mais ricos só vai arranjar problemas com muita gente importante, a banca não vai gostar pois os mil milhões de euros que entram nos cofres do Estado saem dos cofres dos banco que terão de tapar o buraco com o recurso ao financiamento externo. As dívidas dos mais ricos estão para muita gente como o krill os oceanos, dessas dívidas alimenta-se a gestão de fortunas dos bancos, que por sua vez alimentam os escritórios de advogados, que ajudam a manter os corruptos e todos junto são um excelente mercado publicitário e fonte de informação para os jornais.

Se atinge esta “cadeia alimentar” cava a sua cova, os corruptos começam a mandar informação fiscal escandalosa para os jornais, os mais distintos advogados da nossa praça vão falar mal de si para a SIC Notícias, os mais distintos opinion makers começam a duvidar da sua competência e os mais distintos lutadores contra a corrupção vão aproveitar a informação dos corruptos para insinuar que nada fez neste domínio.

Se aumentar a eficácia na cobrança dos impostos dos mais pobres será mais bem sucedido, continuará a ter a admiração das pessoas mais distintas da nossa praça, dos jornalistas, dos políticos financiados pela banca, dos fiscalistas, dos opinion makers, das magistraturas e até terá o empenho dos corruptos. Os mais pobres não têm acesso nem a políticos nem à comunicação social, comem e calam.