quinta-feira, setembro 20, 2007

Os cinco equívocos de Marques Mendes


A dois anos das legislativas Marques Mendes encontrou a fórmula para a sua sobrevivência, despromoveu Sócrates de imbatível a derrotável. Ao fazê-lo o candidato a líder do PSD cai no primeiro equívoco, reconheceu que Sócrates já foi imbatível, confirmando os resultados negativos do PSD nas sondagens, resultados que não melhoram mesmo quando as expectativas do PS descem.

Para justificar esta tese brilhante conclusão Marques Mendes fala da Ota e de mais um ou dois fait divers da política portuguesa. No caso do aeroporto Marques Mendes esquece que a sua posição anti Ota poderá ter animado os que partilhavam dessa opinião, mas não foram poucos os que associaram a mudança de posição do PSD à influência de grupos económicos que se sentem prejudicados com a posição governamental. Para Marques Mendes a questão do aeroporto nunca foi colocada, como agora confirma, numa perspectiva do interesse nacional, como sucedeu com muitos outros que se opuseram à Ota, para Marques Mendes estava em causa o interesse eleitoral do seu partido e de alguns empresários amigos do PSD.

O segundo equívoco de Marques Mendes está no facto de julgar que tem os notáveis do PSD ao seu lado, ignora que estes notáveis apenas apostam nele não porque vejam um bom candidato a primeiro-ministro mas sim porque é um bom candidato para queimar na derrota. Para os notáveis do PSD mais do que o melhor líder Marques Mendes é o melhor líder descartável. O próprio apoio de Cavaco Silva aposta em Marques Mendes sendo evidente que aposta na continuação de Sócrates.

O terceiro equívoco de Marques Mendes está em confundir a agitação à superfície com a opinião pública e, mais do que isso, com as intenções do eleitorado. O líder do PSD parece não perceber que uma boa parte dos que se manifestam na rua nunca votariam no PSD, só se Cunhal voltasse à terra para lhes pedir que deglutissem mais um sapo. Quando Cavaco Silva alcançou a segunda maioria absoluta a agitação nas ruas era bem maior do que aquele a que se tem assistido.

Esquecer o que os eleitores pensam dele é o quarto equívoco de Marques Mendes, depois de tudo fazer para tentar opor-se a Sócrates, desde a tentativa de governar através de pactos à sucessão de propostas idiotas apresentadas nas almoçaradas ao sábado, Marques Mendes tudo fez para prejudicar a imagem de Sócrates. Mas esqueceu-se de cuidar a sua própria imagem. Para a maioria dos eleitores Marques Mendes é o ganda Nóia, alguém em quem não se confia para governar o país, poderão estar descontentes com Sócrates mas dificilmente optarão por Marques Mendes.

O quinto equívoco de Marques Mendes está em pensar que derrotando Menezes deixa de ter oposição interna, se essa oposição já existe será tanto maior quando a miragem do poder se esvanecer, quando muitos dos que o apoiam perceberem que o líder não conquistará o poder vão abandoná-lo. Além disso, se não conseguir uma vitória esmagadora nas directas passará a ter a sombra de Menezes, este será oposição interna mesmo sem abrir a boca.

No PSD há menezistas, barrosistas, santanistas, marcelistas e cavaquistas, só não há mendistas. Marques Mendes não conseguiu a liderança do PSD graças aos seus apoios internos, recebeu a liderança à consignação, até que venham melhores tempos eleitorais, nessa ocasião os "senhores da guerra" do partido mobilizarão as suas tropas para medirem forças.