quarta-feira, junho 25, 2008

As organizações representativas

Ao referir a presença de correias partidárias na CNA e na CAP Jaime Silva, ministro da Agricultura, fez um disparate político mas disse o que todos sabemos, nem se compreende a ofensa de Jerónimo de Sousa quando todos sabemos para que foi inventada a CNA, ou dos responsáveis da CAP que tem deixado a sua defesa política entregue a Paulo Portas.

Mas se a CAP e a CNA representam agricultores, mais a primeira do que a segunda, multiplicam-se no país “organizações representativas” que ninguém sabe quem representam, quem as promove ou quem as dirige, aparecem como cogumelos sempre que convém. Poderia desempoeirar os velhos manuais do marximo-leninismo e abordar esta questão na perspectiva do frentismo, mas prefiro não o fazer.

Não deixa de ser curioso que quase no mesmo dia em que afirmou que a UGT não representa os trabalhadores, Jerónimo de Sousa venha considerar a CNA uma organização representativa dos agricultores. No meio sindical quer a unicidade sindical, na agricultura inventou este simulacro de organização porque como se sabe nunca conseguiria controlar a CAP.

Ainda há poucos dias uma Comissão dos Utentes Públicos organizou um buzinão a que, coincidência das coincidências, se associou a CGTP e a que o site do PCP deu o devido destaque. O que é esta CUP, quem representa, quem faz parte dos seus órgãos dirigentes, quem os elege, quantos membros tem? Era bom saber.

Neste país deve haver pessoas que fazem parte de dezenas de organizações representativas, num dia pertencem à CUP, no outro pertencem a uma comissão de reformados, no seguinte vão à manif dos professores em representação dos docentes reformados, depois caracterizam-se devidamente para as altas funções da comissão de utentes do hospital local, etc..

Imagino que estas comissões de utentes existem mesmo pois na hora do tempo de antena da manif os jornalistas encontram sempre quem as representa. Devidamente organizadas têm sempre os seus artistas do costume, o representante da comissão, o popular que já se arrependeu de votar no partido do governo, o idoso que assegura que vai morrer, se não for à fome é por falta de assistência médica.

Todas estas organizações têm uma função fundamental pois são aquilo a que alguns apelidam de “sociedade civil” e outros consideram manifestações da democracia representativa, uma democracia onde os portugueses são representados por líderes que ninguém sabe muito bem que escolheu, mas são mais genuínos do que os deputados eleitos por eleições. São tão representatitas que há quem diga que o que conta são as ruas e não as votações parlamentares, o que se compreende, é mais fácil organizar uma manif do que escolher deputados, até porque nesta democracia burguesa os que estão representados na manif viram parvos e deixam-se enganar na hora da votação.

Sem esta miríade de organizações representativas o país seria monótono, não teria notícia, os telejornais teriam que abrir com o boletim meteorológico.