terça-feira, junho 03, 2008

Os nossos males (1)


Segundo a lógica do politicamente correcto os portugueses são tão bons como os melhores, o problema é que são mal dirigidos, é disso que nos queixamos há séculos e nem nos passa pela cabeça assumir culpas individuais ou colectivas. Aliás, isto é uma verdade universal, as grandes ideologias apresentam sempre uma culpa abstracta para a incapacidade de se ir mais longe.

Para o comunismo a culpa é do capitalismo e dos capitalistas, os males seriam resolvido entregando tudo ao Estado até que os seres humanos atinjam um estádio superior desenvolvimento entrando o homem novo para um paraíso de contornos desconhecidos. Para os liberais a culpa é do Estado, para os social-democratas tudo se resolverá com uma distribuição mais justa dos rendimentos, etc.. Todas as ideologias desculpam o indivíduo e o colectivo, o trabalho dos políticos é tentarem convencer-nos de que são os mais capazes de nos levar ao paraíso com o menor esforço.

Segundo este princípio universalmente e convenientemente aceite enquanto indivíduos e enquanto povo já atingimos a perfeição, mas tivemos azar com a classe política. Mas será mesmo assim? O desenvolvimento depende apenas das riquezas nacionais e da qualidade das elites?

É verdade que não temos grandes recursos naturais e que as nossas elites não são grande coisa, mas se nada podemos fazer quanto aos recursos a não ser voltar a procurar petróleo no Beato temos que assumir que as nossas elites são aquilo que somos enquanto povo, seriam tão más como o são independentemente do regime político, os genes de Sócrates não são muito diferentes do de Ferreira Leite da mesma forma que entre Belmiro de Azevedo e Jerónimo de Sousa para além da fortuna as diferenças poderão não ser assim tão diferentes, nem vale a pena ir tão longe como dizer que Paulo Portas e Miguel Portas são duas faces da mesma moeda.

Talvez seja tempo de reconhecer que os povos não são rebanhos conduzidos por pastores, são o somatório de muita gente com mais ou menos defeitos ou qualidades e que esses defeitos e qualidades tanto deverão ser assumidos individualmente como enquanto colectivo. É tempo de assumirmos colectivamente as causas dos nossos fracassos e de não limitar as razões do nosso insucesso às responsabilidades dos políticos que promovemos e elegemos.

A velha teoria de que se os nossos emigrantes fazem lá fora o que não fazem por cá é porque a culpa é exclusiva dos dirigentes é falível, todos sabemos que não podemos fazer noutros países o que tanto apreciamos fazer por cá. Se os meus vizinhos vivessem na Áustria tornar-se-iam instantaneamente em cidadãos exemplares e não trariam os cachorros a defecar na minha rua, mas à porta dos outros. Lá fora somos aquilo que não queremos nem gostamos de ser quando cá estamos.