quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Em nome da banca

Ontem foi notícia que apesar de alguns bancos terem visto aumentar os seus lucros pagam menos impostos, uma notícia que em Portugal já não provoca qualquer comentário, da mesma forma que ninguém se incomodou ao saber que uma boa parte dos custos suportados pelo Estado para combater a crise foram para o sistema financeiro e que apenas uma pequena parte foi para combater a pobreza.

Na hora do aperto aumentaram-se as ajudas à banca e injectaram-se muitos milhões em bancos falidos, na hora da recuperação cortaram-se vencimentos, aumentaram-se os impostos sobre o consumo e sobre o rendimento do trabalho. Alguém prometeu aplicar uma taxa aos capitais mas isso já é assunto esquecido, nada que o ministro das Finanças não consiga compensar com mais alguns cortes no Estado, como é o caso dos cortes nos suplementos das chefias algo que na perspectiva da gula populista até faz esquecer os prometidos impostos sobre a banca.

As empresas exportadoras podem deixar de exportar, os trabalhadores podem deixar de ter emprego, os funcionários públicos podem receber menos e até serem despedidos, os pobres podem deixar de receber abono de família, tudo pode ser cortado, o que não se pode fazer é incomodar os interesses da sacrossanta banca. Os banco podem comprar dinheiro a 1% para depois o investir a 6,5% na dívida soberana mas tudo bem, o país suporta a pobreza mas nunca poderá sobreviver sem a riqueza dos banqueiros.

Em nome dos interesses da banca os contribuintes estão a pagar centenas de milhões de euros devido à redução das transferências para o orçamento dos lucros da CGD, mas viu-se como foi muito fácil encontrar solução orçamental para compensar esta redução da receita fiscal. Não admira que todos os dias venha um banqueiro defender em público que o recurso ao FMI é uma péssima solução, claro, é bem mais fácil defender os seus interesses com soluções domésticas.

À escala europeia sucede o mesmo, foi criado um fundo de estabilização que até ao momento não serviu para nada, é como se fosse um extintor colocado numa parede para o caso de ocorrer um incêndio. Compreende-se que alguns governos não queiram que o fundo estabilize os mercados, enquanto os países evitarem a bancarrota creditando os custos dos juros aos seus contribuintes e funcionários públicos há todo o interesse que a banca recupere dos prejuízos sofridos com os investimentos que fizeram nos subprime à custa, de preferência, dos países mais vulneráveis da zona euro. E para que a situação não se torne insustentável em vez de ser o fundo a intervir é o BCE que vai comprando dívida soberana pela socapa. Ninguém quer uma crise financeira em Portugal e Espanha e muito menos que esta se estenda à Itália, Bélgica ou França, mas dá muito jeito à banca europeia que os juros da dívida soberana de alguns países estejam muito accima do razoável.

Os contribuintes pagaram as consequências das asneiras dos banqueiros que levou à crise do subprime, pagaram as ajudas à banca para recuperarem dessa crise, estão a pagar juros soberanos absurdos para que os bancos recomponham os seus lucros, compreende-se perfeitamente que a taxa sobre a banca tenha sido esquecida e que aos aumentos dos seus lucros não corresponda um aumento dos impostos.

Em nome dos interesses da banca os que trabalham ganham menos e pagam mais impostos para que essa mesma banca aumente os lucros e pague menos impostos.