terça-feira, outubro 25, 2011

A grande revolução cultural portuguesa

O DN lembrou-se de fazer uma manchete com as pensões dos políticos, dois deputados agarraram a deixa, o governo descobriu uma forma de distrair os portugueses e alguns políticos voluntariaram-se a prescindir da pensão. Mas as pensões dos políticos eram tão absurdas dantes como o são agora, quando o governo decidiu tirar o escalpe aos funcionários públicos julgava estar a fazer justiça pois estes ganham demasiado, os políticos generosos que vieram dizer que prescindem da pensão há muito que a recebem e ficam calados.

É evidente que receber uma pensão vitalícia a partir dos trinta ou quarenta anos é um absurdo, é óbvio que os mesmos que agora desencadeiam uma vaga populista estiveram calados no passado. Só se lamenta que uma medida que há muito deveria ter sido tomada o seja num impulso mais próprio dos guardas vermelhos do tempo de Mao.

Aliás, vivemos tempos que nos trazem à memória a grande revolução cultural chinesa, os povos são diferentes, as ideologias são aparentemente antagónicas, mas quer cá, quer na China de Mao há uma mistura perigosa de populismo, pouca inteligência e caça às bruxas. Cá os jovens guardas vermelhos procuram os culpados, ontem foram os funcionários públicos, hoje são os pensionistas da política, tal como na China eram os dazibaos a desencadear as campanhas dos jovens enfurecidos, por cá são jornais envolvidos com o poder que vão dando o mote para as campanhas. Não se perde muito tempo a julgar ou a dar explicações, escolhe-se um culpado, lê-se a sentença e procede-se rapidamente à execução.

Há poucos dias o velho professor de economia teve dúvidas e foi o espectáculo triste que se viu, gente que nunca teria tido dinheiro para comprar fatinhos no Rosa & Teixeira e que tudo lhe devem vieram a público denunciar o professor, até o professor Marcelo mais parecia um jovem guarda vermelho exibindo o velho professor com orelhas de burro pelas ruas de Pequim, do que um Conselheiro de Estado de quem se espera que aconselhe o presidente em vez de o mandar abaixo.

Até as políticas têm o seu quê de semelhante, na China eram as heróicas lutas contra as três pragas ou o grande salto em frente, por cá são medidas brutais justificadas por desvios colossais, medidas robustas, governantes ainda mais troikistas do que a troika. Lá foi o que se viu, produziram aço de má qualidade e morreram à fome porque derreteram as alfaias agrícolas, mataram os pardais e morreram à forme porque os insectos destruíram as colheitas. Cá veremos como vai ser, veremos se o combate ás três pragas, políticos pensionistas, Estado e empresas públicas, resultará num grande salto em frente ou se daqui a um par de meses não estaremos todos numa qualquer praça celestial clamando por vingança e pedindo a cabeça do bando dos quatro, o Passos, o Relvas, o Gaspar e o Paulo Portas.