sexta-feira, outubro 21, 2011

Somos o Chile para não sermos a Grécia?

Em democracia quando os governos pretendem adoptar medidas duras de austeridade porque são inevitáveis ou por opção de política económica dialogam com as forças sociais e os partidos da oposição, tentam concertar posições, convencer da justeza das suas propostas, encontrar acordos. Em ditadura dispensa-se o diálogo, conta-se com a repressão para eliminar qualquer oposição. No Portugal de 2010 Passos Coelho muito antes de divulgar a sua política de austeridade ameaçou eventuais promotores de tumultos, reforçou o orçamento das polícias, optou por não negociar com nenhum partido da oposição e, nem sequer com o que tinha assinado o acordo com a troika.


Em democracia as políticas económicas têm sempre alternativas que correspondem a diferentes posições económicas, ideológicas ou partidárias, a redução do défice pode ser conseguida por diversas vias, a explicação das opções é política e económica. Em ditadura as opções de política económica são sempre apoiadas numa inevitabilidade divina, na total ausência de alternativas. No Portugal de 2011 a política económica é apresentada por um ministro que não acredita em qualquer alternativa à sua política.

Em democracia valores como a equidade e a justiça prevalecem, distribuem-se os sacrifícios em função da capacidade dos cidadãos. Em ditadura escolhem-se os inimigos políticos a sacrificar, elegem-se culpados pelas crises, julgam-se sumariamente os culpados. No Portugal de 2011 elegeram-se culpados, inventaram-se privilegiados, defendem-se julgamentos de responsáveis.

Com este Orçamento de Estado o governo diz pretender afastar-nos da Grécia. Mas pela forma como o OE foi apresentado, pela natureza das medidas adoptadas, pela forma como discrimina os cidadãos, pelo desprezo que revela por princípios como a justiça e a equidade, pelo reunir de forças polícias, pelo desprezo revelado em relação ao diálogo, ainda não sabemos que conseguiremos afastar-nos da Grécia e já estamos quase no Chile de Augusto Pinochet.

Duvido que que gente como Vítor Gaspar perceba isso, mas antes sermos a Grécia falida e berço da democracia, do que o Chile do ditador Augusto Pinochet.