terça-feira, outubro 11, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento


Flor da Quinta da Bela Vista, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Os ministros não são os únicos a andar de lambreta [A. Cabral]
  
Jumento do dia


António Barreto, assalariado do hiper-merceeiro Soares dos Santos

Numa altura em que a credibilidade externa das contas públicas está ao nível das da Grécia por causa do grotesco madeirense o empregado de Soares dos Santos ignora o presente e prossegue a sua cruzada contra Sócrates. Este parece o Correio da Manhã, adormece e acorda a pensar em José Sócrates.

«"A verdade é que se escondeu informação e se enganou a opinião pública. A acreditar nos dirigentes nacionais, vivíamos, há quatro ou cinco anos, um confortável desafogo", afirmou o também presidente do conselho de administração da Fundação Manuel dos Santos, num discurso que fez em Lisboa.

Depois de uma situação que permitia "fazer planos de grande dimensão e enorme ambição", passou-se, "em pouco tempo, num punhado de anos", a uma "situação de iminente falência e de quase bancarrota imediata", acrescentou António Barreto na intervenção intitulada "Portugal, Que futuro?", que proferiu na Academia de Ciências durante a inauguração do 2º ano lectivo do Instituto de Estudos Académicos para Seniores.» [JN]
     
 

 Falta de lentes aumenta buraco

«Para ontem estava marcado o fim da campanha "Quem Empresta uns Óculos a Jardim?", que tem decorrido há vários dias na Madeira. O conhecido animador da campanha, Alberto João, como bom profissional que é, apresentou-se dentro do espírito da coisa: pólo escuro, o pouco do cabelo desgrenhado e umas folhitas escritas à mão. Enfim, com ar de quem pede óculos emprestados. E sem mais delongas, lançou o mote: "Quem me empresta uns óculos?" Pergunta aparentemente banal mas que ocasionou um dos minutos mais dramáticos da história política nacional: arrastaram-se segundos e segundos, sem que alguém se prestasse a ajudar. Um minuto! E por uns simples óculos, que nem eram pedidos, mas emprestados, e a um idoso de cara simpática... O crédito da Madeira anda ainda mais baixo do que se pensava. Enfim, alguém lhe estendeu um par, manhoso, daqueles com uma fitinha entre as hastes. Alberto João Jardim ainda os pôs, mas num assomo de orgulho, devolveu-os. Atirou-se, então, à tarefa de ler as folhas manuscritas. Lembro: ele, que nos tem maravilhado com as palavras mais soltas e afiadas da política nacional. Mas sem crédito nem para óculos, soletrou, engasgou-se, por três vezes cometeu o erro que noutros tempos nunca faria, sublinhou uma fraqueza: "Desculpem-me, estou sem óculos..." E calou-se. Dizem os números, 25 deputados, que Jardim vai poder governar sozinho. Mas nós vimos, ontem: sem que lhe emprestem, Jardim já não pode governar sozinho.» [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.
  
 Tumultos

«O povo português é geralmente conformista - ou pacífico, como diriam os adeptos do politicamente correcto. Protesta muito entre dentes, mas tira o chapéu à autoridade.

Face à crise, à perda de direitos e ao empobrecimento, a grande maioria dos portugueses acha que não há nada a fazer e procura arranjar-se como pode.

Apesar disso, agora toda a gente fala nas grandes perturbações da ordem pública que se adivinham. O primeiro a lançar a pedra foi Passos Coelho, advertindo publicamente para a repressão de tumultos que ninguém tinha visto nem tido como prováveis. Depois foram as polícias a avisar, em documento oficial, que vêm aí os piores motins de que há memória. Por fim, os comentadores passaram a escrever obsessivamente sobre o assunto, augurando o pior, ou mesmo o inimaginável. Mas por que será que isto acontece? Creio que as razões são diferentes para os diversos protagonistas.

Os comentadores sabem que essa é a melhor forma de serem escutados. Muitos deles não escrevem para ajudar os leitores a pensar, mas antes para atrair a atenção sobre si mesmos. Se disserem coisas razoáveis, ninguém lhes liga. Mas, caso se especializem na profecia da desgraça, todos falarão deles. O grande sonho de muitos dos nossos comentadores é o de se transformarem no ‘Mr. Doom' português.

Os polícias, por seu turno, estão directamente interessados no assunto. Os polícias sonham com tumultos tal como o corrector Alessio Rastani sonha com recessões. Ou seja, as ameaças graves à ordem pública são a única forma de dar maior importância à polícia. Ao enfatizar a gravidade do que se prepara, os polícias estão a garantir um bom orçamento para a administração interna, manutenção dos salários, inexistência de despedimentos, renovação do material, etc. Para além de tudo isso, garantem os devidos "sinais de honra" por parte da sociedade que, como já Hobbes notou, são quase tão motivadores como o medo da morte.

Por fim, Passos Coelho e o Governo têm toda a conveniência política em lançar o assunto para o debate público. O esquema é clássico. Aqueles que detêm o poder gostam de mostrar ao povo que só existe uma alternativa: ou eles, ou a anarquia. Não há forma melhor de reforçar a autoridade do que a ameaça de violência nas ruas. O povo voltar-se-á agradecido para os putativos fazedores da ordem. Que o diga o dr. Ângelo Correia, grande amigo e mentor de Passos Coelho, que, antes de se ter transformado milagrosamente em sábio televisivo, se notabilizara pela invenção de um dos maiores motins da nossa história: a "conspiração dos pregos".

Os tumultos virão talvez ou, possivelmente, não virão. Mas, enquanto vêm ou não vêm, já estão a dar bons proveitos a muita gente.» [DE]

Autor:

João Cardoso Rosas.
  
 Economia para colorir

«Ninguém parece gostar do ministro Álvaro e já se popularizou, à esquerda e à direita, o radical desporto do tiro ao Álvaro.

Eu gosto do ministro Álvaro. Não por ter anunciado, numa das suas raras aparições, um misterioso (também gosto de mistérios) "programa de empreendedorismo e inovação", o que quer que isso seja. E há-de ser coisa em grande, a crer no seu "romance inovador", com grafismo explicativo e letra em corpos variados e a cores. Gosto do ministro Álvaro porque é uma personagem de um livro de Lewis Carroll que Lewis Carrol nunca escreveu, e que, com os mesmos argumentos com que, antes de ser ministro, criticava coisas como o TGV, defende no Governo coisas como o TGV usando apenas o truque gráfico "inovador" de substituir as maiúsculas por minúsculas para transformar o diabólico TGV num amigável comboio de "alta prestação".

Os contribuintes não irão, assim, pagar um elefante branco, mas um elefante cor-de-rosa, o que, se pouca diferença faz em termos de custos, sempre colorirá não só a paisagem entre Caia e Poceirão mas também as contas da Brisa e da Soares da Costa.

Aguarda-se agora que o ministro revele as cores (eu aposto malevolamente no azul, a mais imaterial das cores, símbolo de irrealidade e de "rêverie") com que pintará o Aeroporto de Beja, que iria ter, segundo "estudos", 178 mil passageiros em 2009 e 1,8 milhões em 2020, e teve este ano, entre » [JN]

Autor:

Manuel Antónónio Pina.
     

 Líder do CDS-Madeira engana os madeirenses

«O líder do CDS-PP Madeira, José Manuel Rodrigues, vai suspender o mandato no Parlamento regional para permanecer como deputado na Assembleia da República, por considerar que é em Lisboa que se tomarão as "grandes decisões" sobre a região.» [CM]

Parecer:

Não admira que o Alberto João já tenha ganho 45 vezes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao líder do CDS qual o tacho que está prometido ao homem.»
  
 Lá vem a Manela

«antiga ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite considerou hoje que o Governo deveria tentar corrigir o prazo de ajustamento orçamental acordado com a 'troika', uma vez que "é inexequível fazer o ajustamento até 2013".» [DN]

Parecer:

Agora é só aguardar que Cavaco diga o mesmo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Consulte-se o Facebook do Anbal.»
  
 Alguém acredita?
  
«O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje que a Madeira "está sufocada pelo peso da dívida", que "vai demorar muito tempo a ser corrigida", realçando que o esforço de ajustamento terá que ser feito pelos madeirenses e pelo futuro Governo.

Na visita à fábrica da Toyota em Ovar, para assinalar o 40.º aniversário da Produção Toyota em Portugal, o primeiro-ministro considerou que "a região está sufocada pelo peso da dívida, o que exigirá a execução de um programa de ajustamento rigoroso, que reflectirá a situação de grande peso da divida que foi criada ao longo destes anos".» [DN]

Parecer:

Alguém acredita mesmo que não vai ser o país a pagar pelos madeirenses do Alberto?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aposte-se que a dívida vai ser parcialmente perdoada.»