quinta-feira, agosto 03, 2017

O submundo autárquico

Na política portuguesa convencionou-se que o mundo das autarquias é uma espécie de paraíso da política, tendo sido elegidos os autarcas como modelos de virtudes, eles próprios interiorizaram essa mentira e comportam-se como virgens, ofendendo-se muito facilmente sempre que alguma voz mais desafinada os questiona. Por oposição aos autarcas, os políticos da capital são a imagem da corrupção, do desprezo pelos cidadãos e da incompetência.

Os diversos modelos de turismo institucional interno promovido por sucessivos Presidentes da República basearam-se no GPS das autarquias, na base das quais estavam as células que os elegeram. Da mesma forma, a ascensão de um candidato a líder partidário passa por uma longa procissão autárquica, ao longo da qual foram sendo feitas promessas a tudo quanto é cacique local, coisa que hoje existe em maior abundância do que no tempo de Salazar.

Um secretário de Estado vai a Paris ver um par de chutos na bola e é perseguido até se demitir e ainda se arrisca a levar umas bordoadas nas nalgas dadas pelo nosso zeloso MP. Em contrapartida, o Maduro do Algarve, o distinto autarca de Vila Real de Santo António vais mais vezes a Havana do que eu vou a Almada e é enaltecido por tal turismo oftalmológico, a arte de tratar dos olhos. No fim e num concelho onde há muita miséria, ainda gasta euros a rodos para produzir um filme dedicado à sua figura. O Maduro original, o da Venezuela, não faria melhor.

A verdade é que se Portugal fosse governado como o concelho que Marquês de Pombal orgulhosamente fundou, é muito provável que viesse a pedir a nacionalidade espanhola ou a requerer autorização de residência naquele país, a título de refugiado. Aquilo que visto de Lisboa é uma grande preocupação com os velhotes pobres, visto de perto é um cruzamento entre o Maduro da Venezuela com o Putin. 

Esta não é uma realidade exclusiva, é a que resulta do modelo de funcionamento do nosso sistema partidário, que deu lugar a verdadeiros especialistas no aproveitamento das situações, na falha das leis e no medo que num pequeno concelho todos tens dos olhos, dos ouvidos e do chicote do presidente da autarquia. Cidadão que se oponha está lixado! 

De longe muitos autarcas parecem modelos de virtudes, ao perto alguns são pequenos títeres, verdadeiros Maduros de pacotilha, chicos espertos a quem deram mais poder do que valores, que usam os dinheiros públicos para gerirem os processos eleitorais e promoverem as suas carreiras.