Lembro-me do tempo em que nos anos 80 um vizinho ganhou a taluda do Natal, era um recorde de 100.000 contos. Anos depois quando o prémio do Totoloto chegou ao recorde dos 700.c0ntos dizia-me um amigo que não saberia o que fazer a tanto dinheiro. Quando o Euromilhões foi sorteado pela primeira vez o país parou para saber onde iria sair tão grande fortuna.
São coisas que me vieram à cabeça quando soube que o Manuel Pinho Só poderia voltar a tomar a bica numa esplanada se depositasse 6.000.000 no tribunal, por decisão do grande juiz Carlos Alexandre. Dei comigo a sentir alívio por o dinheiro ficar mesmo depositado. Imaginem o que sucederia se os ministros pudessem usar o dinheiro tal como podem usar as viaturas de luxo que são apreendidas à ordem dos tribunais. Um dia destes ainda alguém seria atropelado nalguma autoestrada por uma pilha de notas de 50 ...
Enfim, de sermos atropelados por uma pilha de notas estamos livres. Do que não nos livramos é da dúvida sobre até onde é que irá o limite das cauções decididas pelo ilustre juiz. Um dia destes ainda alguém rouba um papo-seco no LIDL e como caução para ficar em liberdade o perigoso gatuno vai ser obrigado a depositar o equivalente a uma moagem.
A partir de agora cada vez que algum arguido for presente ao juiz de instrução vitalício vamos ter todas as televisões ansiosas, não por saber se o arguido vai dormir a casa, mas sim pelo montante de caução que lhe vai ser exigido. Ao ritmo com que o juiz acrescenta milhões não tardará muito para que o país fique mais paralisado do que durante o último episódio da telenovela “Gabriela, cravo e canela”. Será que a caução é maior ou menor do que o prémio do Euromilhões.
A partir daí passaremos a ter arguidos designados por excêntricos criados de um dia para o outro pelo Carlos Alexandre.