terça-feira, janeiro 25, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Juvenil de verdilhão-comum [Carduelis chloris]. Estádio Universitário, Lisboa

IMAGENS DOS VISITANTES D'O JUMENTO

Ontem em Pristina, Kosovo [J. Lopes]

Largo do Carmo, Lisboa[A. Cabral]

JUMENTO DO DIA

Alberto João Jardim

Apesar de ter ficado calado ou, talvez, por isso mesmo Alberto João, o ditador democraticamente eleito da Madeira merece a distinção do dia. Até parece que Alberto João adivinhava os resultados que transformaram José Manuel Coelho num vencedor nestas presidenciais e no seu grande opositor regional, foi por isso que lhe deu um fanico cardíaco, sorte a dele, se lhe tivesse dado o fanico ao saber dos resultados teria sido bem pior. Imagino os secretários regionais reunidos à porta do quarto do doente a discutir qual a melhor forma de lhe dar a notícia.

Sem ter concorrido e apesar de ter passado a campanha eleitoral na cama, sem poder fumar charuto e dizer baboseiras à comunicação social, Alberto João Jardim foi um dos derrotados destas eleições presidenciais. É por isso que continua em silêncio. O silêncio é um atributo que não raras vezes anda associado à cobardia.

O JULGAMENTO "POPULAR" DE CAVACO SILVA

Confundir o voto popular com um julgamento não é próprio do Presidente da República de uma democracia, os julgamentos populares sejam feitos na praça pública ou nas urnas de voto não são próprios de democracias. Se Cavaco quer afirmar a sua honestidade deve fazê-lo esclarecendo as dúvidas, senão terei que concluir que as eleições confirmaram a sua honestidade tanto quanto confirmaram a inocência de Isaltino Morais, o antigo ministro do Ambiente de Cavaco Silva.

Será que Cavaco Silva vai chamar o Procurador-Geral da República para lhe pedir que desista dos processos contra Isaltino Morais porque os eleitores de Oeiras provaram a sua inocência nas urnas?

Será que o senhor Palma do sindicato dos magistrados virá a público opinar so

ONTEM RESOLVEU-SE DÚVIDA IMPORTANTE

«A tradição cumpriu-se: quem estava em Belém ganhou à 1.ª volta. Nada que os partidos não soubessem, eles que nas eleições de repetição de um Presidente apresentam sempre candidatos de segunda. Ou não apresentam candidato nenhum: em 1991, Cavaco Silva, então líder do PSD, deu apoio tácito a Soares. Ontem, pois, a reeleição esperada de Cavaco, com uma vitória que não pode ser beliscada pela abstenção recorde (cabia a quem lhe dava luta, dá-la, e não o fez). A dúvida que havia para estas presidenciais situava--se num plano menor. Manuel Alegre, um franco-atirador do Partido Socialista que se apresentara à revelia do partido em 2006, voltou a fazê-lo em 2011. Com a soberba de patrão do milhão de votos então ganho, permitiu-se uma manobra nestas presidenciais: aceitou o apoio do Bloco de Esquerda, encostando o seu partido, o PS, à parede. Este, se não apoiasse Alegre, corria o risco de ter um candidato com menos votos que o do BE. Então, tivemos o PS a apoiar quem já era candidato de um partido que ainda não decidiu se deixou de ser revolucionário, o que é muito diferente de um candidato socialista arrastar, entre outros, um partido com dúvidas existenciais. Era o PS misturável com este BE? - essa, a dúvida destas presidenciais. Uma boa votação de Alegre (e, sobretudo, uma 2.ª volta) alimentaria essa via. O esfarelar do famigerado milhão de votos repudiou essa ideia.» [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

PEQUENOS MILAGRES DEMOCRÁTICOS

«...O meu pai nasceu em 1929, já em ditadura. Cresceu numa aldeia do Ribatejo, em ditadura. Veio a Guerra Civil de Espanha, havia refugiados do país vizinho pelos campos, "comiam até o musgo das paredes, com a fome que tinham" dizia-me ele de vez em quando. Depois a II Guerra Mundial, o racionamento, e as irmãs dele - minhas tias - adoeceram gravemente - "entuberculisaram", como se diz na Arrifana. O pai do meu pai morreu, e era ainda ditadura. O meu pai namorou e desfez-se o namoro, casou e teve filhos e enviuvou, e casou de novo com a primeira namorada e teve mais filhos e, em todo este tempo, era sempre, sempre, sempre a mesma ditadura.

(Talvez eu já tenha contado aqui esta história; honestamente não estou certo se o fiz ou não. Para mim é como uma oração familiar.)

Só quando o meu pai tinha já cinco filhos e quarenta e cinco anos que viu a democracia pela primeira vez. Poucos depois do 25 de abril viu em Lisboa, numa manifestação, um velhinho que chorava copiosamente num dos passeios da Almirante Reis, enquanto via a multidão subir a avenida. "Achei que já não chegava a ver este dia", disse-lhe o homem. Um ano depois o meu pai, e espero que aquele homem também, votaram pela primeira vez numas eleições livres e justas.

Hoje o meu pai é aquele velhinho. Ainda na aldeia preparamo-nos para o ritual cada vez mais frágil do voto. "Acho que desta vez ele já não consegue", diz a minha mãe, forçando-se a ser objetiva. Ele insiste uma, duas vezes: "se não votar com a mão esquerda (é canhoto) voto com a direita (com que foi ensinado a escrever)". A voz dele ficou afetada recentemente, temos dificuldade em entendê-lo.

A minha mãe vem com a minha irmã num carro, e eu trago o meu pai no meu. Na estrada para Lisboa digo-lhe em que lugares do boletim estão os candidatos. "Eu conheço a cara deles", diz-me. Já na cidade, apanhamos a minha sobrinha. Aqui há uns anos o ritual dos votos incluía um almoço de bife numa cervejaria. Hoje seria demasiada confusão para eles.

Chegamos à escola secundária onde estudaram os meus irmãos. Novo obstáculo: não trouxemos cadeira de rodas. A minha mãe, apenas um ano mais nova que o meu pai, vota imediatamente e explica o nosso problema à mesa de voto.

E em dia eleitoral opera-se momentaneamente a magia cívica. O presidente da mesa de voto indica-nos os bombeiros. Os bombeiros têm uma cadeira de rodas. Um deles vem buscar o meu pai. Trata com jovialidade, com alguma ternura até, aquele velhinho que nunca viu.

De repente o meu pai está na mesa de voto, sem sair da cadeira de rodas. Foi tão rápido aqui chegar como é lento o que se passa a seguir. Numa sala silenciosa, com todos os membros da mesa de voto, e a minha mãe, e eu, e o bombeiro a torcermos por ele, o meu pai demora uma eternidade a fazer o primeiro traço da cruz. Quando achamos que terminou, demora outra eternidade a fazer o segundo traço. Demorará mais ainda a dobrar o boletim. Ninguém se aproxima, ninguém o apressa, deixamo-lo levar o seu tempo.

Está, finalmente, feito. À saída da escola, a minha mãe diz o que sempre diz nestes dias: custou muito conquistar isto, tantos anos sem poder votar, etc. - outra oração familiar. Ela está orgulhosa. O meu pai acabou por votar com a mão direita, sabemo-lo bem, e num candidato de esquerda. Aconteça o que acontecer, valeu a pena.

Mas, sinceramente, eu gostaria de o ver repetir daqui a quinze dias.» [Público via Cibertulia]

Autor:

Rui Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

UM OUTRO JARDIM

«Com quase 200 mil votos no País e 39% na sua ilha natal (onde ficou a 5% do vencedor das eleições), é sem dúvida o fenómeno destas eleições. Foi um dos principais beneficiados com o voto de protesto. Congregou quer o gesto chocarreiro e nonchalant de elites urbanas que não viram no leque de candidatos alguém que merecesse a sua escolha e quiseram assim, votando no que viram como "palhaço", "castigar" o "sistema", quer o de "recusa dos políticos" que teve em Nobre e em Cavaco - neste em pura esquizofrenia - veículos privilegiados (como Alegre em 2006).

Nada se sabe, claro, do que Coelho defende como forma de governo ou sequer como ideologia, a não ser que é um inimigo figadal de Alberto João Jardim. O seu estilo, porém, assim como o tipo de discurso, são émulos absolutos dos do presidente da região autónoma, e descontando as matérias que têm a ver directamente com a Madeira, nem sequer o conteúdo é substancialmente diferente. A graça que se acha a Coelho no "continente" é a mesma que muita gente, graças à distância, ainda acha a Jardim. Quanto ao seu score na ilha, há quem considere que é um aviso para Jardim. Pode até ser, mais não seja porque se vê alcandorado a número um da oposição. Mas os madeirenses, hélas, não votaram contra Jardim: votaram num madeirense que, como Jardim, levanta a voz aos "do contenente" e diz umas larachas. » [DN]

Autor:

Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «»

PEÇAS DO 'PUZZLE'

«Mário Soares foi o vencedor das eleições. A astúcia e a imaginação do velho estadista permitiram que Fernando Nobre, metáfora de uma humanidade sem ressentimento, lhe servisse às maravilhas para ajustar contas. É a maior jogada política dos últimos tempos. Um pouco maquiavélica. Mas nasce da radical satisfação que Mário Soares tem de si mesmo, e de não gostar de levar desaforo para casa. Removeu Alegre para os fojos e fez com que Cavaco deixasse de ser tema sem se transformar em problema. O algarvio regressa a Belém empurrado pelos acasos da fortuna, pelos equívocos da época, pelo cansaço generalizado dos portugueses e pelos desentendimentos das esquerdas (tomando esta definição com todas as precauções recomendáveis). Vai, também, um pouco sacudido pelo que do seu carácter foi revelado. Cavaco não possui o estofo de um Presidente, nem um estilo que o dissimulasse. Foi o pior primeiro-ministro e o mais inepto Chefe do Estado da democracia. Baço, desajeitado, inculto sem cura, preconceituoso, assaltado por pequenas vinganças e latentes ódios, ele é o representante típico de um Portugal rançoso, supersticioso e ignorante, que tarda em deixar a indolência preguiçosa. Nada fez para ser o que tem sido. Já o escrevi, e repito: foi um incidente à espera de acontecer. Na galeria de presidentes com que, até agora, fomos presenteados, apenas encontro um seu equivalente: Américo Tomás. E, como este, perigoso. Pode praticar malfeitorias? Não duvido. Sobre ser portador daqueles adornos é uma criatura desprovida de convicções, de ideologia, de grandeza e de compaixão. Recupero o lamento de Herculano: "Isto dá vontade de morrer!"» [DN]

Autor:

Baptista-Bastos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

HELENA ROSETA REAPARECEU NA NOITE ELEITORAL PARA DEFENDER O SEU ALEGRE

«Manuel Alegre assumiu a derrota como sendo toda sua ("a derrota é minha, não é daqueles que me apoiaram"), mas logo a seguir uma das suas principais conselheiras e apoiantes, Helena Roseta, veio desmenti-lo, recusando colocar no poeta todo o ónus do fracasso: "A responsabilidade é de toda a candidatura. Todos podiam ter feito mais."

"Fica-lhe bem [a Alegre] dizer aquilo. É como o treinador que diz que a culpa é dele quando a sua equipa perde. Mas sabemos que às vezes são os jogadores que se portam mal", considerou . Para a vereadora, "a candidatura sofreu com o descontentamento" popular resultante da crise e das medidas de austeridade aprovadas - foi essa "a maior dificuldade a que fez frente".

E, além do mais, "o PS estava dividido" e "houve dirigentes que nunca concordaram" com a candidatura do histórico, disse Roseta, dando o exemplo de declarações ontem à noite de António Vitorino, que considerou o resultado de Alegre "abaixo das expectativas". Ana Gomes pronunciou-se também à Lusa num sentido semelhante ao de Helena Roseta: "O apoio do PS foi inequívoco, a direcção do PS e do grosso dos militantes do PS. Houve, como sabemos, no entanto, elementos do PS que não aceitaram nunca a decisão e que, inclusivamente, patrocinaram candidaturas alternativas, não só a de Defensor Moura, mas também a de Fernando Nobre."» [DN]

Parecer:

Tinha andado desaparecida.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Helena Roseta por onde andou.»

BERLUSCONI JÁ TEM QUEM O DEFENDA

«O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, alvo de uma investigação por suspeitas de que pagou para fazer sexo com uma prostituta menor de idade, encontrou um compatriota famoso disposto a servir-lhe de advogado de defesa: nada mais nada menos que o famoso actor de filmes pornográficos Rocco Siffredi.

Rocco Siffredi, que aos 46 anos já é um veterano do cinema para adultos, disse que "os italianos têm orgulho de alguém como Berlusconi, que já tem 74 anos, continuar a adorar sexo e a ter uma vida sexual bem activa".» [CM]

24 DE JANEIRO É O DIA MAIS DEPRIMENTE DO ANO

«Hoje, 24 de Janeiro, é o dia mais deprimente do ano, segundo uma fórmula matemática concebida por um cientista britânico da Universidade de Cardiff.

São bem variados os ingredientes para esta “receita” que afecta os “humores”, especialmente hoje.

O psicólogo Cliff Arnall chegou à sua conclusão em 2005 através da fórmula: 1/8C+(D-d) 3/8xTI MxNA. Segundo Arnall, “C” corresponde ao factor climático: em Janeiro, os dias são cinzentos e frios; “D” representa as dívidas adquiridas durante a época do Natal e que agora terão de ser pagas, uma vez que o pagamento dos cartões de crédito é feito no final do mês. Já o “d” em minúscula significa os custos monetários relativos ao mês de Janeiro e o “T” é o tempo que passou desde o Natal. A letra “I” representa o período desde a última tentativa falhada de abandonar um mau hábito: os bons propósitos feitos no início do ano – como as idas ao ginásio, deixar de fumar e comer melhor - começam a ficar para trás. Por fim, “M” são as motivações de cada um e “NA” a necessidade de fazer alguma coisa para mudar de vida.» [Público]

Parecer:

Pelo menos para alguns candidatos presidenciais, senão mesmo para o candidato vencedor, isso é verdade.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso.»

A MARKTETST VOLTA AO ATAQUE

«Se as eleições legislativas fossem hoje, o PSD ganhava ao PS com uma diferença de 20%, segundo o Barómetro da Marktest para a TSF e o "Diário Económico".

Segundo as informações da TSF, o Partido Social Democrata (PSD) ganharia com 46% dos votos, contra 26% do Partido Socialista (PS).

A Coligação Democrática Unitária (CDU), do Partido Comunista, manter-se-ia como terceira força política do país, com 7,8% dos votos, seguida do Partido Popular (CDS-PP), com 7%, o que configuraria um empate técnico. O Bloco de Esquerda teria 6% dos votos.» [DN]

Parecer:

Depois das sondagens aldrabadas que produziu em plena campanha eleitoral o lógico seria que estes senhores se retirassem do mercado durante uns tempos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»

"MUITOS PESOS E VÁRIAS MEDIDAS"

É o que diz no "Cachimbo de Magritte" a propósito do testemunho de Jorge Sampaio no processo que envolve José Penedos:

«Se fosse Cavaco Silva, perante a justiça, a afirmar sobre Dias Loureiro aquilo que Jorge Sampaio terá ido dizer de José Penedos ao "Tribunal Central de Instrução Criminal", segundo notícia da SIC, o que não analisariam os do costume sobre o presidente ontem reeleito.»

Há pequenas diferenças que são ignoradas neste comentário:

  • Cavaco falou enquanto Presidente da República para a comunicação social, Sampaio falou enquanto cidadão perante um juiz.
  • Cavaco tentou usar o seu estatuto para influenciar a opinião pública e a justiça em relação a Dias Loureiro, Sampaio testemunhou perante a justiça para esclarecer a verdade.
  • Cavaco tentou defender um amigo que era Conselheiro de Estado e manteve esse estatuto que o protegia da justiça enquanto foi possível, Sampaio apresentou-se perante a justiça, abdicou da resposta por escrito e responde enquanto cidadão pelo que tiver dito sob juramento.
  • Cavaco falou para a comunicação social, Sampaio falou no gabinete do juiz.

Estabelecer um paralelo para defender alguém que protegeu um dos homens que cometeram a maior fraude da história de Portugal e que anda algures por aí usando a postura digna de Jorge Sampaio é manha a mais. Num caso alguém usou o seu estatuto para ditar sentença no tribunal da opinião pública inibindo a justiça, no outro alguém prescindiu do estatuto para servir a justiça.

É a diferença entre alguém que correu riscos enquanto defensor de opositores a uma ditadura e o outro que se deu muito bem com a ditadura e só reparou que era democrata depois do 25 de Abril. Usar Sampaio para branquear Cavaco é muito pouco honesto.

ANCA GERNOSCHI