sexta-feira, abril 15, 2011

Do Pedro ao Pedro, a evolução política do PSD

Com Pedro Santana Lopes o maior argumento para que os portugueses o escolhessem era sua famosa  masculinidade. O outdoor dizia que de Pedro todos sabíamos quem era, o mesmo era dizer que sabíamos quantas namoradas (vulgo gajas) teve, ninguém duvidava da paternidade em relação aos filhos, nem ninguém acreditava que se tivesse mudado e a boazona da Cinha Jardim era um verdadeiro certificado de macho. Já quanto a Sócrates havia muitas dúvidas, se o outdoor dos crescidos nos assegurava que conhecíamos o Pedro de ginjeira, o outdoor dos putos perguntava-nos se tínhamos a certeza de que conhecíamos Sócrates. Invadiram-nos o email com mensagens sobre a homossexualidade de Sócrates, o candidato do PS era panasca, paneleiro, bicha, maricas, roto, alguns até eram mais simpáticos e diziam-nos que era gay, ficou famoso um paquete chamado Sócrates onde viajavam gays.

Derrotados nas legislativas o PSD ficou desorientado durante algum tempo, com Marques Mendes tentou dar ares de partido com projecto político, falou-se na refundação da direita e convidaram-se altas individualidades, com Pinto Balsemão à frente, para produzirem um novo programa. Mas depressa o PSD encontrou um novo projecto político, um modesto professor lembrou-se de andar aos berros num corredor chamando filho da puta ao Sócrates, falhadas as dúvidas quanto ao filho havia que questionar a mãe o que, aliás, voltou a suceder com o processo Freeport, se o filho não era corrupto era a mãe que tinha que provar a sua inocência. Como há um estauto disciplinar da Função Pública tão antigo como fazer o serviço de cócoras, o corajoso professor levou com um merecido processo disciplinar, para que da próxima se metesse com a sua mãezinha e deixasse a dos outros descansadas. E nasceu o novo programa político revisto do PSD, Sócrates não era panasca mas era pior isso, era autoritário.

Como as sondagens não ajudavam Marques Mendes a crescer, nas sondagens porque no resto não há milagres, nem mesmo na dimensão política, veio Luís Filipe Menezes, o tal que se queixava dos liberais da linha mas agora é um admirador do liberal de Massamá, ao que parece o liberalismo de Passos Coelho tem o perfume que Mendes Bota cheirou na antiga terra onde moravam os fidalgos da capital. Marques Mendes depressa beneficiou do enriquecimento programático do PSD, falhada a panasquice de Sócrates e com os portugueses a concordar que não cabe a um professor armar-se em inspector do trabalho da mãe do primeiro-ministro, Menezes encontrou mais três grandes pilares do programa político do PSD, Sócrates era mentiroso, Sócrates não sabia falar inglês (quanto mais francês e tocar piano) e Sócrates é um mau desenhador de construção civil. Azar, São bento não é o atelier de uma empresa de obras públicas, quanto a línguas o grave seria o primeiro-ministro de Portugal só saber falar espanhol e quanto a mentirosos estamos conversados, o seu pupilo Pedro acaba de perder uma corrida de 60 metros em que o adversário até era um coxo e maneta.

Retomado o PSD pela ala cavaquista não se perdeu tempo a mudar o programa político, desta vez o grande objectivo traçado para o país já não passava pela utilização dada à pilinha de Sócrates, pouco importava se falava inglês ou se sabia distinguir uma recta de uma curva, algo de mais grandioso era proposto ao país, Sócrates era corrupto! Foi o que se viu, o pelotão do PSD na magistratura tomou a liderança dos acontecimentos. Mas pelo sim, pelo não, não fosse o diabo do Sócrates tecê-las, havia que diversificar os grandes projectos do programa políticos do país e lá veio a famosa asfixia democrática, uma homenagem póstuma ao professor desbragado, e a política de verdade, uma forma mais liberal e própria da linha de Cascais da acusação de mentiroso do gajo rasca de Gaia. Cavaco até ajudou à festa, recebia os magistrados em Belém, dava umas bicadas no caso TVI e para se certificarem de que partiam mesmo uma perna a Sócrates avançou-se com as escutas a Belém.

O mais que Ferreira Leite conseguiu foi mudar o aeroporto da Ota para Alcochete, ganhou as europeias por falta de comparência e levou uma tareia nas legislativas, isso apesar do enriquecimento programático do PSD, Sócrates além de paneleiro, corrupto, autoritário, mau desenhador e uma desgraça a falar inglês, sofria de voyeurismo, tinha sido apanhado a espreitar por cima das paredes do palácio tentar ver a cor das cuecas da secretária presidencial num momento em que esta se debruçava para apanhar uns clips que tinham caído no chão.
 
Chega Passos Coelho, um rapaz com ar sério, fala cuidada, penteado sempre impecável e parco de inteligência, discordou do programa político de Manuela Ferreira Leite mas à falta de melhor e enquanto lhe iam escrevendo o projecto de revisão constitucional lá foi esperando que a comissão parlamentar de inquérito o ajudasse a promover eleições antecipadas, além de paneleiro, autoritário, corrupto, mau desenhador, sem jeito para línguas e, piro ainda, "espreita" Sócrates era umm manipulador. Mas tinha azar, quanto mais subia nas sondagens menos oportunidades tinha para exigir eleições antecipadas e a preciosa ajuda do BE (onde anda o tal deputado que deu tanto nas vistas na comissão parlamentar de inquérito, terá ido para tratamento na costa do Mar Negrito?).

Cavaco percebeu a incompetência de Passos Coelho que ainda não tinha chamado nada de jeito a Sócrates e veio em socorro do seu PSD, quando Sócrates apresenta o PEC IV os ideólogos de Belém lá disseram a Passos Coelho para se armar em indignado com tanta austeridade e ainda por cima feita nas suas costas. Os rapazes de Belém pensaram bem, com a fama de mentiroso que Sócrates tem ninguém iria pensar que desta vez o mentiroso era Passos Coelho, que nem sequer teve grande opção, não podia desperdiçar uma crise política que tinha tido honras de discurso presidencial, além disso ainda estava a pensar no assunto e já o mandatário nacional da campanha de Cavaco dizia ao DN que as eleições antecipadas pareciam inevitáveis.

Agora temos um Passos Coelho divido entre dois projectos políticos para Portugal, um projecto sugerido por Belém que apresenta Sócrates como o grande bandalho financeiro e um outro projecto, mais nobre, que consiste em querer ajudar o PS a livrar-se do Sócrates, digamos que já se sente a influência da AMI e se o PSD tem grandes responsabilidades no pedido de ajuda externa, não quer deixar de dar o seu contributo para o país, provavelmente inspirado pela presença de Nobre como candidato a presidente do parlamento mas não a deputado, quer ajudar o país armando-se em ONG e ajudando o PS a encontrar novo líder.

Ou estou muito enganado ou no fim disto tudo o Passos Coelho sai, o Cavaco retira-se para Boliqueime, Nobre volta a significar lata de salsichas e Sócrates fica, é paneleiro, é corrupto, é autoritário, é mentiroso, é manipulador da comunicação social, não sabe falar inglês, é incapaz de desenhar uma barraca, é espreita, é manipulador, mas é melhor do que cinco líderes que o PSD já teve, mais o Cavaco, o Fernando Lima e a dona Maria juntos.