sábado, abril 09, 2011

Louçã: do político sinistro ao político sinistrado

  

Longe vão os tempos em que Louçã estava na moda, as jovens trotkystas eram lindas e viçosas, os jovens da Mackenzie eram simpatizantes do BE, todos os dias contava piadas novas, desdobrava-se entre entrevistas à comunicação social onde assegurava que nunca usaria gravata. À medida que as votações do BE subiam os jovens da McKenzie envelhecera, as beldades do BE foram sendo substituídas por senhoras que me recordam as mulheres anafadas dos kolkhozes que apareciam em foto da revista “Vida Soviética”, Louçã começou a exigir nacionalizações e a assumir-se como o grande líder da esquerda.

Convencido do seu sucesso sonhou com a destruição do PS e do PCP, pensou usar Manuel Alegre e chegou a dar entrevistas em que dizia que tinha por objectivo dividir o PS, promovia uma falsa união da esquerda de onde excluía o PS e o PCP e exibia militantes anti-Sócrates do PS ou um Carvalho da Silva zangado com o PCP. Atacava Sócrates dizendo que o líder do PS era da direita e tirava o tapete ao PCP atacando as relações deste partido com a China ou com as FARC colombianas. Era a esquerda moderna por oposição ao PS da direita e ao PCP dos ditadores.

A estratégia tinha sucesso, o BE ia de vento em popa até ao dia em que Louçã teve mais olhos do que barriga e fez de Manuel Alegre o seu candidato presidencial, se ganhasse receberia o prémio, se perdesse a culpa seria do PS, de caminho cilindrava a candidatura de Francisco Lopes. Teve azar, Manuel Alegre perdeu e Francisco Lopes foi um dos grandes vencedores, o PCP sobreviveu, Alegre voltou a apoiar Sócrates e o grande derrotado das presidenciais foi Francisco Loução de adoptou uma estratégia presidencial sem sequer ouvir os seus pares. Louçã pensava que ia à lã do PS e acabaou por ser tosquiado.

Em queda nas sondagens, derrotado nas presidenciais, com ameaças de cisão no BE e com a direita a recusar-lhe o protagonismo televisivo Francisco Louçã sentiu a necessidade de dar um golpe de mágica que lhe devolvesse o protagonismo, ouviu o PCP falar numa hipótese de moção de censura e não se conteve, mais uma vez esqueceu-se de ouvir os seus pares e a meio de uma intervenção parlamentar tirou o coelho da cartola, que ia apresentar uma moção de censura daí a mais de um mês.

Pensava voltar a ter o protagonismo que tinha nos tempos em que a direita o usou para fazer oposição ao PS, mas teve azar, caiu no ridículo. A queda só não foi maior porque Jerónimo de Sousa foi condescendente e votou favoravelmente a sua moção, deixou de ser amparado pela direita e passou a ser útil ao PCP que poupou o ridículo da apresentação da moção de censura.

Ridicularizado pela apresentação da moção de censura, descredibilizado pelas sucessivas alianças parlamentares com o PSD e o CDS Loução percebeu que para sobreviver só lhe restava uma aproximação ao PCP. A perder votos para o PS e para a direita resta-lhe enterrar o machado de guerra eleitoral com o PCP, desta forma assegura tréguas à esquerda minimizando o risco de perder votos para o PCP. E o grande líder da esquerda moderna que há pouco tempo recusou-se a receber o presidente chinês no parlamento tenta agora uma união de facto com o defensor local da anexação do Tibete.

Longe vão os tempos em que Louçã parecia ser um perfume agradável, envelheceu, o perfume oxidou e começa a cheirar mal, deixou de estar na moda, parece um frasco de perfume que foi vendido aos ciganos para o saldarem na feira de Carcavelos a algum cliente descuidado e com o nariz entupido. Está convencido de que aquilo que julga o seu brilhantismo ofusca Jerónimo de Sousa e esquece que será vítima da sabedoria do líder do PCP, ao dar-lhe credibilidade o velho serralheiro está a acabar com a credibilidade do professor com muitos artigos publicados

Louçã está a ser vítima das suas estratégias sinistras, estratégias que passam sempre por tentativas de destruição dos seus adversários e dos seus aliados, em que não tem escrúpulos de servir a direita julgando estar a servir-se dela, em que um dia diz que é moderno por oposição à ortodoxia do PCP, em que estabelece alianças para actuar como o cuco pondo os ovos em ninhos alheios, mas mais uma vez vai ser tosquiado. O político sinistro não passa de uma borboleta cujo curto ciclo de vida o vai transformar num político sinistrado.