segunda-feira, outubro 01, 2012

A queda de um regime

Quando os cidadãos discordam frontalmente das suas políticas ou das políticas da sua iniciativa num contexto de soberania condicionada como se vive em Portugal, os governos de democratas aceitam essa vontade e ou mudam de políticas ou explicam-nas melhor sem chamar burro ou gandulo a todo um povo. Os governos de "iluminados" não aceitam essa discordância e se não dispõem de instrumentos de ditaduras, uma PIDE ou mesmo a insistência da troika na chantagem, insistem em que eles são inteligentes e todo o povo, políticos, colegas de partidos, empresários, associações empresarias, trabalhadores, sindicalistas, Presidente da República, Conselheiros de Estado são todos burros, todo um país é burro porque não percebeu essa estrela lusa chamada Borges.
 
Quando um Passos Coelho insiste em que não foi compreendido e o António Borges insinua que os empresários portugueses são burros e por isso não passariam no primeiro ano da sua Faculdade temos de concluir que no governo temos iluminados cujas políticas estão a ser condicionadas pelo baixo QI de todo um povo que são burros e cigarras. Não admira que comecem a haver tiques que são mais frequentes em ditaduras, não surpreende que que o segurança de Passos Coelho considere que uma crítica em voz alta ao primeiro-ministro é suficiente para identificação policial do seu autor.
 
Portugal começa a resvalar para a ditadura porque numa democracia é o povo quem mais ordena e os governantes não consideram que o povo é ignorante ou gandulo, os assessores do governo não dizem que todos os empresários chumbariam por serem burros, a ministra da Justiça não fala em fim da impunidade confundindo investigações com uma condenação. Talvez ainda não tenhamos uma ditadura porque o povo não deixa, os militares não o permitiriam e o Cavaco ainda parece que se mexe de tempos em tempos, de fora ficam os jornalistas porque nesses manda o Relvas e os magistradas porque nesses não se sabe muito bem quem manda ou, pior do que isso, é melhor nem saber. Mas contra o povo, os militares e até os padres não é o António Borges que vai ter a coragem de dizer muitas mais baboseiras, está para cada vez mais breve o fim deste regime.

A verdade é que temos um regime de democracia condicionada onde que a Constituição parece ser ignorada por quem a deve respeitar ou fazer respeitar está a dar sinais de se estar desintegrando, onde a democracia se faz na primeira página do Correio da Manhã e onde as iniciativas contam nos currículos dos magistrados. Nesta democracia a regra é a incompetência, a prepotência a vingança e a transformação do país num laboratório mengeliano de política económica. Tudo com a complacência de quem devia dizer não. Cavaco teve a oportunidade de repor a normalidade mas optou por prolongar esta anormalidade.
   
O Gaspar não falhou, o Passos sabia o que estava fazendo, o Álvaro sabe de economia à brava, o Miguel Relvas é brilhante, o Paulo Portas é um doce, o Miguel Macedo trabalha que se desunha, o problema é que em Portugal há o povo errado para o governo certo, depois de décadas ao contrário, um povo certo com governo errados, os portugueses decidiram ser gandulos e burros, nem os empresários se escapam ao carimbo, querem dar-lhes dinheiro fácil e rejeita, querem transformar-lhes os assalariados em escravos e rejeitam, burros! Os empresários andam todos com o passo trocado, os bispos também, os trabalhadores nunca souberam acertar o passo, o único português com o passo certo é Passos Coelho.

Estamos, portanto, no fim de um regime pois se todo o país está com o passo trocado ou trocamos o país ou trocamos o inteligentíssimo homem de Massamá, até prova em contrário o melhor é trocar o segundo, até porque com a crise financeria o país não pode investir mais em polícias, tribunais plenários, e cassetetes para que possa ser governado por alguém tão inteligente com a oposição de tantos burros. O governo já caiu de podre, o Presidente da República é que insiste em não o percber.