quinta-feira, outubro 04, 2012

Delírios: a culpa é do faroleiro das Berelengas


Há uns dias para justificar o golpe da TSU o primeiro-ministro dramatizou durante meia hora, o resultado foi um desastre, o povo foi para a rua, o governo correu às fraldas para incontinentes e Pedro Passos Coelho desapareceu, ao que parece aproveitou o último feriado do 5 de Outubro para ir a Bratislava a uma reunião de vendedores Avon.
   
Foi uma injustiça, tudo estava a correr bem e agora que o Gaspar tinha forma de arranjar o dinheiro para uma estimulante política de crescimento veio o Passos e estragou tudo. Mas o governo tem o Super Gaspar que em meia dúzia de dias tira dois mil milhões daqui e coloca ali, a sua unidade de medida não é nem o euro nem o milhão de euros nem os mil milhões de euros, a unidade de medida do Super Gaspar é o vencimento, até porque desta forma só se incomodam as cigarras e ficam de fora as formigas patronais, um vencimento de funcionários e pensionistas, dois vencimentos de funcionários e pensionistas, um vencimento de funcionários e pensionistas mais um dos privados, para o Super Gaspar todas as medidas de política económica são medidas em vencimentos.
   
É evidente que o Super Gaspar, que em todos os seus discursos aprecia fazer profissões de fé na democracia, ignora valores constitucionais, despreza o parlamento, tudo o que respeita ao regular funcionamento da democracia são cenas que ele desconhece, por isso o Durão Barroso fez de secretário de Estado da Presidência e informou este povo desprezível que já tinha aprovado as medidas que substituíam a TSU. Aliás, o Super Gasparzinho não só é um defensor da democracia como aprecia a concertação social o que, aliás, não se cansou de afirmar, não só terá negociado tudo como recolheu algumas ideias, foi o caso da medida mais importante, o aumento do imposto sobre o tabaco. E o que entende o Super Gasparzinho por diálogo político e concertação social? Ignorar a oposição parlamentar, incluindo a que assinou o memorando, ignorar os sindicatos e chamar os patrões ao meio dia e obrigá-los a ficar calados. Brilhante!
   
No dia seguinte o Passos Coelho desapareceu, talvez tenha caída no alçapão de algum teatro da capital, e veio o Gaspar dar uma conferência de imprensa que segundo o próprio nada tinha que ver com qualquer acontecimento recente, era apenas a continuação da eu anteriormente tinha dado. Para o Gaspar tudo se mede em vencimentos e a realidade é cronologicamente pautada pelas suas intervenções, tudo o resto são cenas da realidade que não lhe assistem.
   
E quais são as medidas que substituem a TSU? Nada mais nada menos do que um aumento de impostos tão duro que nem as ratazanas vão encontrar comida nos caixotes do lixo. Mas milagre dos milagres, no segundo semestre de 2013 já será palpável a erecção da economia portuguesa. É o milagre económico português, quanto mais o Gaspar corta vencimentos mais promete crescimento, o problema é que o crescimento económico espanhol é pontualmente muito mais atrasado do que o comboio espanhol, nunca mais chegará.
   
O divertido é ver essa personagem minúscula armada em Super Gaspar deleitar-se a chamar às suas medidas um aumento brutal de impostos. O Super parece ter um enorme complexo de inferioridade, o que basta olhar para o coitado para se perceber, e aprecia palavras duras, dantes elogiava a política robusta, agora evoluiu para o “brutal”.
   
E o que justificou este aumento brutal de impostos? A acreditar na primeira parte da comunicação ao país a brutalidade desta política deve-se aos seus grandes sucessos, o ajustamento corre às mil maravilhas, os resultados estão a superar tudo o que se poderia imaginar, garças às medidas do BCE a que o Gaspar se opunha até os mercados estão simpáticos. Ora se uma política robusta estava a ter tanto sucesso então a solução era passar de robusta para brutal.
   
É evidente que a evasão fiscal, o aumento da dívida, o défice brutal nas contas públicas, a inércia da máquina fiscal, a total ausência de combate à fraude e evasão fiscais, as benesses fiscais concedidas às empresas mais lucrativas, tudo isso são cenas que não assistem ao ministro, digamos que são coisas que não se passam em Portugal e devem ser imputadas à responsabilidade do faroleiro das Berlengas. Foi o faroleiro das Berelengas que provocou um buraco fiscal nos primeiros seis meses de 2012 equivalente a um BPN ou a três meses de PPP ou, para usar a unidade de medida do Gaspar, um vencimento a todos os portugueses.