segunda-feira, outubro 08, 2012

Começa a ser tempo de a troika assumir as responsabilidades


Aproveitando-se da ambição desmedida de Vítor Gaspar a troika deixou de dará a cara pelos resultados das avaliações da situação da economia, aceitando que seja o ministro das Finanças a fazer o papel ridículo de seu porta-voz. Se a troika exagerava na sua presença no país, com os três funcionários a exibirem a sua vaidade pelo país como se fossem os eunucos de um imperador romano, foi oportunista ao aceitar o protagonismo de Vítor Gaspar. Não o fez por acaso, fê-lo quando percebeu que as notícias iriam começar a piorar tornando as conferências de imprensa incómodas, se dantes não perdiam a oportunidade para dar nas vistas agora desapareceram.
 
Desta forma tentam evitar assumir as responsabilidades, assumir a sua parte das culpas não só nas violações grosseiras da soberania portuguesa, da ingerência abusiva na política interna e no desrespeito pelo próprio memorando.

A troika não é nenhuma entidade anónima, dela fazem parte três instituições, o FMI, a Comissão Europeia e o BCE. Portugal é membro de pleno direito das três instituições, não perdeu quaisquer direitos e as instituições europeias são associações de países democráticos. Não se entende, portanto, a forma como meros funcionários das instituições da troika, que nem directores-gerais são, se comportam num país soberano, tratando abaixo de cão os seus governantes.
 
Apesar de gostar muito de exibir internacionalmente o consenso político em torno do memorando, a verdade é que desde que os técnicos da troika perceberam que tinham no governo gente em quem podiam mandar passaram a ignorar o PS enquanto parte do memorando e este partido nunca mais foi tido nem achado nas revisões do memorando.
  
Chega-se ao ponto vergonhoso de um presidente da Comissão Europeia ignorar que nos países democráticos da Europa a cuja comissão preside a decisão em matéria de impostos e de despesas públicas ser  competência dos parlamentos. Durão Barros, que é parte da troika, chega ao desplante de informar que a troika já aprovou as medidas que substituíam a TSU, sabendo que essas medidas não substituem TSU nenhuma e que não passam de um aumento brutal de impostos.
  
Esta tentativa de Durão Barroso de influenciar o curso político português, tentando influenciar e intimidar a opinião públicas, não passa de um desrespeito grosseiro e mesmo de uma ingerência nos assuntos internos da política portuguesa. Durão Barroso pode ser português apesar da forma pouco honrosa como fugiu das suas responsabilidades no país, mas quando fala enquanto presidente da Comissão não pode ignorar que há limites ao que pode dizer.
  
Aliás, esta ingerência nos assuntos internos é uma regra de algumas personalidades da troika, para além de Durão Barroso também Mário Draghi gosta muito de emitir opiniões para além do aceitável. O FMI é mais discreto, mas antes da substituição do seu representante nas missões da troika era frequente ver o funcionário do FMI fazer elogios políticos ao governo português metendo-se claramente no debate político-partidário.
  
Começa a ser tempo de a troika assumir a sua quota de responsabilidades pelo desastre a que conduziu ou ajudou a conduzir a economia portuguesa. Os seus representantes têm sido incompetentes, não perceberam a economia portuguesa e nem sequer têm conseguido que o governo português aplique o memorando em pontos em que está em causa o interesse de algumas personalidades, dos boys ou de algumas empresas.

Se o FMI tem uma história triste em matéria de desprezo pelos regimes democráticos já no caso da Comissão Europeia e do BCE a democracia é um dos pilares destas instituições pelo que é historicamente vergonhoso que os mais altos responsáveis destas instituições desrespeitem as regras mais elementares da democracia, violem a soberania de um Estado-membro, façam chantagem sobre esse país só porque respeita a sua própria constituição democrática e autorizam que os seus técnicos usem um pequeno Estado-membro em experiências, mesmo que isso o conduza à ruína.