Suponhamos que muito antes do Caso Marquês os responsáveis
da SONAE pretendiam vingar-se do BES e do Ricardo Salgado, por os ter impedido
de comprara a PT, decidissem vasculhar os ficheiros do grupo BES em busca de indícios
de corrupção. Pagavam umas dezenas ou mesmo centenas de milhares de euros a um
bom hacker e nada fosse encontrado tudo bem, ao menos ficavam a saber de todos
os segredos do Ricardo Salgado. Se encontrassem algo que pudesse indiciar
Sócrates por corrupção, antecipavam o caso Marquês em vários anos e o hoje o
hacker concorria com o Carlos Alexandre no protagonismo.
Por este andar os grandes grupos passariam a contratar
hackers para saber os segredos da concorrência, os clubes de futebol tentariam
ganhar com a ajuda de um hacker o que não conseguiam com os muitos milhões
gastos em contratações falhadas. Daqui a que os próprios governos decidissem
iludir as regras em matéria de direito penal, arranjando formas mais expeditas
de investigação é um passo. Se já ouvi uma ministra de um governo de esquerda
manifestar apoio à delação premiada não me admiraria se a ouvisse defender a
investigação paga.
Os fins justificam os meios e parece que toda a evolução
civilizacional em matéria de direito penal está sendo ignorada em nome de mais
justiça. Primeira a delação premiada, a seguir os hackers contratados, um dia
destes alguém encontra bons argumentos contra a tortura. Pergunte-se a um pai
cujo filho desapareceu se concorda ou não com o recurso à tortura de um suspeito
para recuperar esse filho com vida. Faça-se um referendo e vejam-se os
resultados.
Num tempo em que são os jornalistas a promover o crime ou a
aproveitarem-se dele para conseguirem primeiras páginas vale de tudo. Lá se
foram os bons princípios de Balsemão, agora que a sua empresa é a beneficiária
local dos negócios de um hacker os bons valores da democracia devem ser
ignorados.
De certeza que o hacker que copiou os servidores do Benfica
não foi pago por um ou vários rivais com o fim de destruir este clube? De
certeza que o Estado angolano não pagou o serviço ao hacker para desta forma
conseguir o que o seu general procurador-geral não conseguiria? De certeza que
o hacker é um rapaz generoso que vive do ar enquanto se dedica a copiar
servidores de bancos, de procuradores, de clubes e de advogados?