terça-feira, janeiro 28, 2020

O BOM HACKER


Suponhamos que muito antes do Caso Marquês os responsáveis da SONAE pretendiam vingar-se do BES e do Ricardo Salgado, por os ter impedido de comprara a PT, decidissem vasculhar os ficheiros do grupo BES em busca de indícios de corrupção. Pagavam umas dezenas ou mesmo centenas de milhares de euros a um bom hacker e nada fosse encontrado tudo bem, ao menos ficavam a saber de todos os segredos do Ricardo Salgado. Se encontrassem algo que pudesse indiciar Sócrates por corrupção, antecipavam o caso Marquês em vários anos e o hoje o hacker concorria com o Carlos Alexandre no protagonismo.

Por este andar os grandes grupos passariam a contratar hackers para saber os segredos da concorrência, os clubes de futebol tentariam ganhar com a ajuda de um hacker o que não conseguiam com os muitos milhões gastos em contratações falhadas. Daqui a que os próprios governos decidissem iludir as regras em matéria de direito penal, arranjando formas mais expeditas de investigação é um passo. Se já ouvi uma ministra de um governo de esquerda manifestar apoio à delação premiada não me admiraria se a ouvisse defender a investigação paga.

Os fins justificam os meios e parece que toda a evolução civilizacional em matéria de direito penal está sendo ignorada em nome de mais justiça. Primeira a delação premiada, a seguir os hackers contratados, um dia destes alguém encontra bons argumentos contra a tortura. Pergunte-se a um pai cujo filho desapareceu se concorda ou não com o recurso à tortura de um suspeito para recuperar esse filho com vida. Faça-se um referendo e vejam-se os resultados.

Num tempo em que são os jornalistas a promover o crime ou a aproveitarem-se dele para conseguirem primeiras páginas vale de tudo. Lá se foram os bons princípios de Balsemão, agora que a sua empresa é a beneficiária local dos negócios de um hacker os bons valores da democracia devem ser ignorados.

De certeza que o hacker que copiou os servidores do Benfica não foi pago por um ou vários rivais com o fim de destruir este clube? De certeza que o Estado angolano não pagou o serviço ao hacker para desta forma conseguir o que o seu general procurador-geral não conseguiria? De certeza que o hacker é um rapaz generoso que vive do ar enquanto se dedica a copiar servidores de bancos, de procuradores, de clubes e de advogados?