Ao acusar o vice-presidente angolano Manuel Vicente dos
crimes de corrupção ativa, branqueamento de capitais e falsificação de
documento a justiça portuguesa criou aquilo a que num momento dispensável de
humor o primeiro-ministro português designou por irritante, logo ele que
costuma dizer “à política o que é da política e à justiça o que é da justiça”.
O problema resolveu-se quando o Tribunal da Relação decidiu
que o caso devia ser enviado para a justiça angolana. Sendo Angola, ao que
agora dizem, um Estado de direito e uma democracia seria de esperar que o PGR daquele
país dê continuidade ao processo, até porque se Angola está tão empenhado em
combater a corrupção teria aqui um bom exemplo. Enquanto não apanham a Isabel
Eduardo dos Santos podia pegar no Vicente que está ali mesmo à mão e treinar os
seus dotes de justiça democrática.
O próprio presidente João Lourenço disse que se o problema
era a imunidade de Vicente a solução seria fácil, bastaria que fosse pedido à Assembleia
Nacional o levantamento da imunidade parlamentar. Acontece que o mesmo procurador-geral
de Angola que para combater a corrupção até diz que está a caminho de Lisboa, enquanto
por este lado todos manifestam a disponibilidade para colaborar com a justiça
angolana, nada faz no tal caso que era um irritante.
Parece que há irritantes e irritantes ou que há corrupção e
corrupção e no caso do Vicente bastou uma pomadinha para que a irritação
passasse. Agora parece que o poder doi dinheiro está do lado do Vicente e dos
amigos e já nada irrita.
Tudo isto começa a parecer hilariante.