1972 – Visita de Finalistas da Escola Comercial e Industrial
Era a tradicional viagem de finalistas da escola, um passeio pelo país dos monumentos do regime com dormidas nas instalações do Inatel. Uma viagem que quase não terminada, meio enjoado com os cigarros Valetes da Inter, com paragem obrigatória nas Caldas da Rainha. O “Peniche”, o mariola da turma, lá foi comprar um ‘recuerdo’, julgo que era de meio litro (nunca percebi o porquê desta unidade de medida).
O Peniche lá entrou no autocarro com a recordação das Caldas da Rainha devidamente embrulhada num jornal lido e relido porque apesar da censura ainda havia muito que ler no jornais (naquele tempo o papel de embrulho era coisa de luxo), acabando a brincadeira gerada em torno do vistoso embrulho por despertar a curiosidade da Li**. Atrapalhado, o Peniche não sabia o que fazer, se mostrava ou não a sua peça de artesanato à Li**, e quanto maior era a gargalhada geral mais curiosa ficava a Li**. Finalmente, o director da escola disse ao Peniche para mostrar a coisa à Li**, esta abriu o embrulho, apreciou apalpou e ficou admirada com a perfeição daquela coisa muito bem desenhada e pintada, ainda que não soubesse do que se tratava, naqueles tempos o estudo da anatomia masculina era aprendida em formação intensiva na noite do casamento.
2006 – A tomar banho com a minha filha na Praia dos Três Pauzinhos
Estava a segurar o colchão enquanto a pequenina esticava as pernas quando a miúda, que anda na escola primária, desatou aos gemidos, fiquei baralhado perguntei-lhe o que estava fazendo, respondeu-me que estava a fazer de conta que estava a fazer amor. Perante o meu espanto explicou que tinha aprendido a fazer aquele bom desempenho nos "Morangos com Açúcar".
Entre a Escola Comercial e Industrial e a Praia dos Três Pauzinhos ficam meia dúzia de quilómetros, mas entre a mesma escola e o “colégio da Barra” ou a “escola dos Navegantes” vai a distância de um mundo. Nas escolas dos "Morangos com Açúcar" todos fazem amor sem limites, sem risco de apanhar a sida, sem engravidar apesar de não usarem nem preservativos nem pílula, os pais vivem todos bem e nem aos desempregados falta nada, não é preciso estudar, anda tudo feliz e a maior parte do tempo é passado em férias. Elas são todas bonitas e eles bem parecidos, salvo uma excepção os pais são todos liberais e se for necessário até mudam os lençóis das camas dos filhos, os professores não apresentam mazelas evidentes, não têm problemas na voz, estão frescos que nem alfaces, mostram-se sempre simpáticos e passam todo o seu tempo na escola. Não há ministra e muito menos primeiro-ministro, os professores não têm verrugas nem estatutos de carreira, o sucesso escolar está assegurado e o futuro profissional garantido.
Se eu pudesse escolher, em vez de ter ido para a escola comercial e industrial ainda hoje andava no colégio da Barra ou na escola dos Navegantes e não sairia de lá, nem que o Moniz voltasse para a RTP ou Manuela Moura Guedes para deputada de Paulo Portas. Entre o país desgraçado que a TVI apresenta nos telejornais e o mundo das mil maravilha onde a regra é do "faz amor e não trabalhes" com que educa a criançada a escolha suscita dúvidas.