Não me parece que um primeiro-ministro deva ser escolhido em função do currículo académico, se assim fosse quase nenhum dos líderes partidários portugueses sobreviveria à primeira avaliação curricular, salvo o Francisco Louça qualquer um deles teria grandes dificuldades em conseguir o seu primeiro emprego. Ninguém votou em Sócrates por ser engenheiro, em Cavaco por ser economista ou em Sampaio por ser jurista, o único que chegou a primeiro-ministro ou, para ser mais preciso, a presidente do conselho em consequência das suas habilitações foi Salazar, mas nesse ninguém votou.
Por isso não me incomoda que licenciatura em engenharia seja uma manta de retalhos feita com tecidos de má qualidade e, ao que parece, com buracos mal preenchidos. Mas é um facto que Sócrates considerou importantes ter um canudo, não é por acaso que raramente alguém se refere, por exemplo, a Sampaio como o dr. Jorge Sampaio, enquanto em relação ao primeiro-ministro é raro ouvir alguém referir-se a ele como o José Sócrates, o eng. vem sempre atrás. Pelos vistos teremos que passar a tratá-lo por lic. José Sócrates já que a Ordem dos Engenheiros não lhe reconhece o canudo.
A democracia tem destas coisas, ao mesmo tempo que um funcionário público que se candidate ao mais baixo cargo de chefia tem que ser avaliado por um júri que integra um professor universitário, o primeiro-ministro que adoptou esta regra tem um canudo que pouco mais vale do que um diploma de um curso de formação profissional financiado pelo Fundo Social Europeu.
O problema não está nas habilitações do primeiro-ministro, a não ser que tenha que remendar alguma canalização na residência oficial de São Bento o desempenho das suas funções não lhe vai exigir grandes conhecimentos de engenharia. Também não foi para ser engenheiro que Sócrates fez as cadeiras em várias “carpintarias” baratas, e quanto a inteligência é a qb.
O que se questiona é a fórmula de sucesso que levou Sócrates dos devaneios na companhia de Armando Vara ao cargo de primeiro-ministro, fórmula tão eficaz que também serviu para o amigo chegar a administrador da Caixa Geral de Depósitos. O problema é que nem o cargo de primeiro-ministro escapa à fórmula de sucesso assente na vida fácil.
Que vou dizer a um filho? Aproveita a vida, namora e gasta as mesadas nos casinos que depois vais num instante à Univeridade Independente, sais dali engenheiro e ainda te arriscas a ser primeiro-ministro?