Nas próximas eleições legislativas já não escolheremos o governo em função das suas promessas ou das suas propostas eleitorais, o governo que sair das próximas eleições será um governo científico, as suas medidas serão inquestionáveis o que nos poupará a debates inúteis, não terá programa, o seu ponto de partida será um portfólio de consultores, assessores e empresas de consultoria em que os eleitores mais confiaram.
Os programas eleitorais terão a validade dos iogurtes, apenas servirão para animar os debates televisivos, serão o argumento para que os candidatos tenham matéria para provar as suas capacidades de comunicação. Os programa de governo terão a mesma validade dos programas eleitorais, funcionarão como se fossem uma tese, o debate do programa do governo não passará de um cerimónia para investir o primeiro-ministro como o próximo contratador de estudos, um misto entre a abertura do ano judicial e do programa Prós & Contras.
Se há dúvidas quanto à necessidade de aumentar os impostos encomenda-se um estudo ao dr. Constâncio, se há dúvidas quanto à necessidade de um novo aeroporto ou quanto à sua localização encomendam-se meia dúzia de estudos, se não se sabe o que fazer às forças de segurança compra-se um estudo à Accenture, se é necessário acabar com as férias judiciais encomenda-se um estudo a quem percebe da coisa, para mudar as urgências há um estudo com tudo devidamente analisado, as maternidades ficarão onde um estudo determinar, se o objectivo é modernizar o Estado manda-se fazer um estudo para cada ministério, para todos os problemas há-de haver um estudo com as soluções mais adequadas e sem margem para discussão.
As melhores soluções serão as dos melhores estudos e o melhor primeiro-ministro será aquele que escolher os melhores produtores de estudos. E um primeiro-ministro que decide com base em estudos, para além de ser mais eficaz pois não perde tempo a pensar nas soluções, nunca será o responsável pelas más soluções o problema era do estudo, nunca lhe poderão ser imputadas as culpas do erros do estudo, os estudo nunca falham, as suas premissas é que podem mudar.
Os cidadãos ficam dispensados de discutir o país, contratado quem faz o estudo e depois de concluído basta ouvir as medidas propostas no estudo, suportar os custos e as consequências e voltar ao trabalho. Um sistema político assente nos estudos vai mais de encontro às necessidades da economia, perde-se menos tempo e a produtividade aumenta. As eleições serão uma mera formalidade, a todo o momento sabemos a opinião dos eleitores e o que eles pensam do governo, de cada uma das suas medidas, o próprio Presidente da República olhará aos estudos para saber se os portugueses gostam mais dele do que o primeiro-ministro.
Depois da ditadura e da democracia chegámos à estudocracia, na ditadura o pensamento do ditador dispensava a democracia, na estudocracia as conclusões dos estudos substituem o debate político, a democracia foi o modelo político de transição entre uma revolução industrial que chegou com atraso e uma globalização adoptada à pressa. A ditadura era o regime de um tempo em que nada mudava, quando a Farinha 33 não precisava de mudar de embalagem, a estudocracia é a resposta política à globalização, no novo mundo a democracia e o debate de ideias é uma perda de tempo, as soluções eficazes são as dos estudos.
A estudocracia é uma forma superior de sistema político, na ditadura o ditador decidiam porque os cidadãos eram ignorantes, na democracia os cidadãos falam do que sabem e do que não sabem, com a estudocracia os cidadãos não só estão dispensados de pensar como ainda são formados e informados por estudos encomendados para esclarecer todas as suas dúvidas. A estudocracia é uma forma superior de democracia, é uma democracia que consegue ter a virtude de dispensar os cidadãos do exercício da própria democracia.