Ontem gostei de ver o “Prós & Contras” dedicado às exigências materiais exigidas para ter filhos, onde especialistas conhecidos da matéria discutiram questões fundamentais sobre o número mínimo de metros quadrados que devem ter os quartos das crianças, as provas de rendimentos que deveriam ser apresentadas ao delegado do Ministério Público antes de se poder procriar, passando dos treinos à concepção ou a obrigatoriedade de os progenitores tirarem a carta de pais.
E antes de se começarem o debate foram mostradas reportagens onde poderíamos ver como tratam os filho, a forma exemplar como se comportaram quando se divorciaram e do que prescindiram profissionalmente para acompanharem os filhos. É um bom precedente pois espero que quando se debater o fisco os advogados nos digam quem são os nossos clientes, os opinion makers que criticam o fisco vão mostrar-nos as suas declarações de rendimentos e os ministros vão-nos provar que sempre foram cidadãos exemplares.
Hoje acordei ainda mal refeito do programa de ontem e sou surpreendido com uma reportagem num condomínio fechado na freguesia da Lapa, em Lisboa, com um rebanho de jornalistas, cameramens e mirones a entrarem pelo apartamento de um conhecido financeiro, atrás do magistrado e de uma assistente social, que ia buscar uma criança para ficar aos cuidados de uma instituição de acolhimento.
Ao que parece a criança tinha tudo de bom, a televisão mostrou-nos o quarto, a sala de jogos, a sala dos computadores, o hall de entrada, a dispensa, a cozinha e ainda abriram o frigorífico para mostrar que a criança comia do bom e do melhor. Mas nada disso seduziu a magistrada e a assistente social que defenderam aos microfones que o mais importante era o amor e que até estavam pensando libertar o sargento e entregar-lhe a criança no caso de os tribunais se decidirem por entregar a Esperança ao sacana do pai biológico.
A vizinhança não perdeu a oportunidade para aparecerem nas televisões a dizerem que a mãe entre salões de estética, amantes e chás das cinco mal olhava para a criança. No caso do pai era ainda pior, se não estava m Nova Iorque estava em Roma e quando por cá parava era para jogar bridge e cuidar da sua imensa família. Mal uma acabava de dizer isto as outras acenavam com a cabeça e uma mais exaltada assegurava que já não ia o pai há quinze dias e a mãe há dez, que a criança passava o tempo entregue a uma ama, uma rapariga que não acabou o décimo segundo ano e que foram buscar às Beiras, é boa rapariga, a filha de um caseiro de uma quinta que têm lá para essas bandas.
Este país está mesmo a mudar.