quarta-feira, setembro 20, 2006

Pacto da Justiça ou Pacto com o Diabo?


[Foto de Павел Каплун Link]
Depois de ter assinado o “pacto da justiça” Marques Mendes já parece outro, de líder do PSD condenado à derrota eleitoral transformou-se, graças ao alto patrocínio do Presidente da República, no anjo bom de José Sócrates. Marques Mendes deixou de ser candidato a primeiro-ministro a tempo inteiro, de manhã desempenha essa função, à tarde parece ser um dos muitos assessores do primeiro-ministro a tentar convencê-lo de que o seu é o melhor projecto.

Marques Mendes ganhou com o pacto, quase acabou com a oposição interna e já ninguém se recorda do espectáculo da Festa do Pontal, o Menezes foi tratar das vendas dos créditos da CM de Gaia e o António Borges ficou por Londres a tratar do créditos alheios já que os de Cavaco Silva foram entregues ao líder em exercício do PSD. O pacto fez mais por Marques Mendes do que os dois congressos que organizou para se eleger e reeleger, no momento em que assinou o pacto Sócrates estava a dar posse definitiva a Marques Mendes enquanto líder incontestado do PSD.

A crer nas sondagens podemos concluir que Marques Mendes ganhou o partido e Sócrates ficou com o país, Marques Mendes adquiriu credibilidade e Sócrates a certeza de reeleição. Cavaco Silva também deve ter ficado contente, deu uma mãozinha a Marques Mendes, salvou a justiça do país e mostrou que era capaz de convencer Sócrates.

Terá Sócrates pensado estrategicamente ou limitou-se a ceder à pressão de Cavaco Silva?

Se o pacto resultou de uma estratégia política premeditada o líder do PS revelou possuir uma inteligência política que até aqui não lhe reconhecia, ao dar algum oxigénio ao líder do PSD José Sócrates optou por governar com oposição dividindo as atenções da opinião pública com o líder do PSD, sabe que governar sem oposição não é saudável para um primeiro-ministro. Durão Barroso beneficiou dessa situação graças ao Processo Casa Pia e não ganhou nada com isso.

Centrar a atenção dos media no líder da oposição em vez de dar espaço a Francico Louçã ou aos imensos snipers da política portuguesa (desde Marcelo a António Borges, passando por Paulo Portas ou Saldanha Sanches) só traria prejuízos a Sócrates, como se viu com Durão Barroso. O aumento do protagonismo de Marques Mendes favorece Sócrates, e se esse protagonismo for conseguido à custa da sua credibilidade enquanto alternativa (e vai ser esse o resultado da “pactologia” de que Marques Mendes passou a sofrer) ainda melhor. Sócrates matou dois coelhos com uma cajadada.

Ao aceitar o pacto da justiça Sócrates ganhou credibilidade à direita, ao recusar o da Segurança Social limitou o espaço político do PCP e do BE sem ter incomodado o eleitorado da direita já que neste capítulo os partidos da direita estão mais preocupado com os lucro dos seus financiadores do que com os seus eleitores.

Se o fez pressionado por Cavaco tem que dar graças ao Presidente da República, mais duas ou três ajudas destas e o líder do PS arrisca-se a ganhar as próximas legislativas com mais votos do que os que elegeram Cavaco Silva. E se isso sucedesse Portugal teríamos uma crise política original, uma crise provocada por excesso de estabilidade. É um exagero? Talvez, mas que Sócrates saiu melhor do que a encomenda, lá isso saiu, quanto a isso já ninguém tem dúvidas. Marques Mendes poderá ter assinado um pacto com o Diabo.