sexta-feira, junho 15, 2007

A entrevista da senhora directora da DREN ao DN



Não é todos os dias que uma responsável intermédia do ministério das Finanças tem direito a entrevista de duas páginas do Diário de Notícias, decidida pela própria porque percebeu que “a escalada desta campanha, que começou a surgir um pouco por todo o lado, intensificou-se e está a pôr em causa” algo que a directora acha sagrado, “os trabalhadores da Direcção Educação Regional do Norte (DREN)”. Portanto a senhor dá a entrevista em nome da sagrada solidariedade com os seus funcionários que terão sido muito prejudicados, principalmente os que ouvem conversas privadas para serem usadas em processos disciplinares.

Uma entrevista dada precisamente na véspera do dia em que o arguido iria ser notificado da acusação. Além disso, foi uma entrevista muito simpática pois as perguntas não seria melhores se tivessem sido escolhidas previamente pela directora e membro do Conselho Nacional do PS.

Mas foi uma entrevista triste e inaceitável, ao mesmo tempo que decorre um processo disciplinar o dirigente do serviço que nomeia o instrutor do processo e que tem competência para decidir diz-se vítima de uma campanha por parte do arguido e afirma a culpa deste para que todos saibam. Melhor do que isto só na Coreia do Norte, estou convencido que em Cuba as coisas já não estão tão mal, o decisor diz aos jornais o que pensa de um processo disciplinar que vai decidir.

A mesma directora que afirma ao jornalista que o processo disciplinar do professor Charrua não é mais do que um processo no meio dos 778 já abertos este ano, afirma que o que o arguido disse “foi um insulto e não tem nada a ver com a licenciatura do primeiro-ministro. É um insulto ao cidadão José Sócrates, que além de cidadão é o primeiro-ministro de Portugal”, assegura que não quer interferir no processo disciplinar, mas vai acrescentando que na sua opinião é um insulto grave.

O que sentirá o instrutor do processo que, em princípio, foi nomeado pela mesma directora que vai tomar a decisão ou, pelo menos, emitir parecer? O que sentirão os instrutores e as testemunhas que também são funcionários que dependem directamente da directora que na própria entrevista justifica a dispensa de quadros porque está a emagrecer os serviços em resultado de instruções superiores?

Mas à directora da DREN não bastaria o uso e abuso dos factos ou, até que se apurem, dos supostos factos. O dr. Charrua não se terá limitado a insultar o “patrão” está a conduzir uma imensa campanha em que jornais e os blogues, esses malditos “de serviço”, participam. E o que motivará tal campanha?

Essa campanha resulta de a senhora directora ter descoberto coisas gravíssimas e ter mexido em interesses “que, por exemplo, em alguns gabinetes de apoio ao deficiente havia uma coisa sórdida, mafiosa: classificavam como deficientes crianças que não são deficientes para que o Estado, via segurança social, lhes pagasse um subsídio de ensino especial”. Portanto o problema é bem mais grave do que saber se o tal professor Charrua disse uma piada ou chamou f. da p. a Sócrates, a campanha que ele promove é porque a directora atacou uma máfia a que ele supostamente pertence ou está a proteger. Portanto não é só a dignidade de Sócrates que está em causa, que descansem os que pensam que se trata de perseguição política.

Enfim, não basta a senhora directora recorrer a um sistema de informações privativo, que usa os sms como forma de relacionamento institucional entre funcionários informadores e dirigentes, faz tábua rasa de todos os princípios de independência de um processo disciplinar e usar o Estatuto Disciplinar como instrumento de perseguição política. A senhora directora ainda teve que usar o poder institucional para usar a comunicação social em simultâneo com o processo disciplinar.

Só um ingénuo pensa que esta entrevista foi feita à margem da vontade ministra ou mesmo do primeiro-ministro , ninguém acredita que a directora da DREN tem influência para conseguir duas páginas do DN para propaganda pessoal e no dia em que mais lhe convinha, no mesmo dia o tal professor Charrua seria notificado da acusação. Esta entrevista só tem como consequência o envolvimento da ministra e do primeiro-ministro nas práticas da directora que até é membro do Conselho Nacional do PS.