terça-feira, junho 12, 2007

Eu também quero aeroporto no meu quintal


Independentemente da opção que venha a ser feita quanto à construção ou à localização de um novo aeroporto para Lisboa (ou mais propriamente na região de Lisboa ou algures perto de Lisboa) talvez merecesse a pena questionar as vantagens ou desvantagens que a construção do aeroporto poderá trazer para a região envolvente.

Por aquilo que se tem visto os nossos autarcas olham para a possibilidade da construção de um aeroporto nos seus municípios como um El Dorado, que lhes resolverá todos os problemas. As próprias populações olham para tal como a solução divina para todos os seus males.

Só que um aeroporto não trás apenas benefícios, também implica custos e se estes atingem todos os que moram na envolvente deste tipo de infra-estrutura, o mesmo não se pode dizer dos supostos benefícios. O aumento dos preços, o impacto ambiental da construção de uma grande infra-estrutura, as consequências sociais da deslocação de uns largos milhares de trabalhadores durante a construção, a perda de qualidade de vida resultante da degradação ambiental e os constrangimentos à actividade económica na zona envolvente do novo aeroporto são custos de que nenhum autarca quer falar.

É possível que um novo aeroporto crie algum emprego, que traga novos habitantes e actividades económicas, mas também é verdade que a habitação e a alimentação será mais cara e os muitos (diria mesmo a esmagadora maioria dos que viverão na envolvente do aeroporto) que não ganham um único tostão por passarem a ser vizinhos da nova infra-estrutura terão que suportar elevados custos em consequência do suposto progresso.

São muitos os que imaginam um grande progresso à volta do aeroporto não só pelas actividades associadas ao seu funcionamento como pelos efeitos induzidos, mas esse impacto será assim tão grande? As boas infra-estruturas na região envolvente do novo aeroporto levarão muitas empresas a evitarem os custos elevados, preferindo localizar a sua actividade a alguma distância do aeroporto. Por outro lado a maioria das actividades associadas a um aeroporto, desde o trabalho na pista aos hotéis, são actividades que recorrem a mão-de-obra barata e o seu valor acrescentado pouco se sentirá para além do perímetro do aeroporto.

Pensar que o novo aeroporto será um novo pólo de desenvolvimento é não reparar no fracasso que foram outros projectos como, por exemplo, a Área de Sines, esses sim com mais vocação para promoverem a industrialização.

É evidente que estas questões pouco importam aos autarcas, sejam da margem norte ou da margem sul, da margem direita ou da margem esquerda, do PSD ou do PCP, admiradores de Estaline, de Trotsky ou de Belmiro de Azevedo. Para os autarcas o novo aeroporto significa novas receitas, muitas licenças a conceder, isto é, significa a sua reeleição e, muito provavelmente, o seu enriquecimento.

Toda a gente se preocupa com a localização, todos andam muito incomodados com o número de sobreiros que terão de ser abatidos ou o incómodo que os aviões representa para os passarinhos. Estão-se todos a esquecer das populações, partindo do falso benefício de que todos os habitantes têm a ganhar com a construção do aeroporto.