quinta-feira, maio 20, 2010

Optimismo

No dia em que um governo decidir ser pessimista o melhor é ir-se embora, fazer como o Durão Barroso que começou com o discurso da tanga e acabou a tanguear-nos com a ida para Bruxelas. Mas se o governo for optimista ao ponto desse optimismo nos conduzir a uma situação de crise o melhor será irmos todos embora e, tal como sucedeu em 75, pintar um graffiti no aeroporto a dizer que "o último a sair que apague a luz".

A actividade económica confronta-se hoje com a atomização crescente dos agentes económicos aumentando a imprevisibilidade dos seus comportamentos. Se é difícil de prever o comportamento de um qualquer consumidor português mais difícil será condicionar o comportamento de muitos milhões de investidores em todo o mundo. Se estes estiverem em pânico dificilmente alguém os consegue contrariar e os movimentos especulativos nas bolsas tenderão a aumentar por mais garantias que lhes sejam dadas. Isso sucede no mercado de capitais, como recentemente sucedeu com o petróleo e mesmo nas bolsas de mercadorias.

O optimismo do governo deve ter como limite o bom senso e isso implica não fazer depender as decisões de cenários que dependem de variáveis que não controlamos. Decidir investimentos ou despesa pública com base em cenários de crescimento económico optimistas quando não se verifica uma retoma consistente na economia dos nossos parceiros é correr o risco de secar o acesso ao financiamento da economia. Se os investidores ainda confiam no Estado pois este aumenta a sua receita com impostos, o mesmo não sucede com as empresas que enfrentarão grandes dificuldades de acesso ao crédito.

Foi bom a economia portuguesa ter crescido acima do esperado mas o facto de termos crescido acima dos nossos parceiros comerciais não permite grandes optimismos, diria mesmo que é um indicador que deveria ser esquecido, todos sabemos que para a economia portuguesa crescer essas economias terão de crescer primeiro. É bom crescer um pouco mais do que os outros, mas o facto é que esse crescimento foi pouco significativo e dificilmente é consistente. Podemos ficar agradados com o indicador do crescimento, mas manda o bom senso que não exageremos no optimismo.

A crise que enfrentamos não resulta apenas de uma conjuntura adversa, não é superável no curto prazo. Se não forem adoptadas medidas a pensar no investimento é uma crise que se repetirá. Mais do que os grandes investimentos, necessários mais cedo ou mais tarde, o Estado deve ser razoável na forma como consome os recursos nacionais, deve emagrecer até ao limite do que é suportado pela economia. Mas isso não chega, para que haja investimento será necessário que os investidores considerem rentável investir em Portugal.

Só será rentável investir em Portugal reformando o mercado de trabalho, estimulando a procura de emprego e eliminando os entraves burocráticos e o proxenetismo estatal em relação aos novos investimentos. Enquanto governantes e sindicatos não perceberem isto lá vamos soluçando de crise em crise.