quarta-feira, abril 11, 2007

As raças autóctones do jornalismo


Caminham para a extinção mas ainda temos bons jornalistas em Portugal, ainda que seja cada vez mais difícil aferir a independência mesmo dos bons jornalistas, são jornalistas que seriam bons em qualquer país. Mas também temos aqueles que poderíamos considerar raças autóctones de jornalistas, espécimes que facilmente seriam explicadas por Darwin, depois de um processo de adaptação ao ambiente político-partidário e jornalístico sofreram mutações suficientes para merecerem o estatuto de raças nacionais protegidas, estatuto que até aqui era exclusivos do burros mirandeses de algumas raças caninas.

Aqui ficam a caracterização de algumas raças nacionais do nosso jornalismo:

Jornalismo Caniche:

Um jornalismo que tem por principais características a mansidão e a obediência total ao dono, nunca ladra e tudo quando faz obedece às ordens do dono. Um bom exemplo desta raça de jornalismo é aquele a que assistimos semanalmente no dazibao televisivo de Marcelo Rebelo de Sousa. O professor muda de estação e mesmo de jornalista e o resultado é sempre o mesmo, o jornalista faz as perguntas que Marcelo mandou fazer e ao longo da entrevistas vão tendo uma intervenções que ficam entre o ronronar e o ganir de bicho que pede festas, mal ouvimos uns imperceptíveis “hum”, “hum, hum” ou “sim”.

Jornalismo Pitbull:

É protagonizado por jornalistas que são usados para morder, se o director da estação de televisão não gosta do ministro que dá a entrevista manda lá um dos seus pitbulls. Estes jornalistas não estão interessados na verdade, limitam-se a morder a vítima até que esta perca o raciocínio ou se descuide a dizer algo que possa ser usado até à exaustão. Para este jornalismo não interessa a verdade, tudo o que a vítima desnorteada diga sem pensar é logo transformada em notícias de abertura do próximo telejornal. Trata-se de uma raça muito apreciada por algumas estações de televisão, em particular pelas do mesmo Pinto Balsemão que em tempos tinha as “boas abertas”, espécie que já se extinguiu.

Jornalismo São Bernardo:

Um bom exemplo desta raça de jornalismo é praticado pelo programa Grande entrevista da RTP, sempre que uma personalidade do PSD ou amigo do presidente da Câmara Municipal de Sintra está em apuros lá vai o são bernardo salvá-lo com uma oportuna entrevista. O último caso deu-se com o major Valentim que perante a impossibilidade de ser julgado num estúdio de televisão anunciou a sua “grande entrevista com duas semanas de antecedência”.

Jornalismo Pastor Alemão:

Trata-se de uma variedade especialmente dotada para ser obediente e fazer o que o dono manda, tão treinada que nem é necessário que o dono do jornal diga o que o jornal deve escrever pondo em causa a independência do órgão de comunicação social, interpreta e cada momento a vontade do dono e antecipa-se a qualquer instrução. É o tipo de espécime vocacionada para a direcção dos jornais e por estes dias têm dado bons exemplos nalguns editoriais.