terça-feira, abril 24, 2007

A última boa nova de Marques Mendes


Ainda não percebi se é azar meu, sempre que Marques Mendes toma uma posição eu discordo. Desta vez foi a promessa de numa legislatura os portugueses atingirem 80% do rendimento médio dos europeus. Quando há poucos dias critiquei aqui a mania dos políticos portugueses fazerem promessas neste capítulo, nem imaginava que voltaria tão cedo ao tema, não mepassaria pela cabeça que um político supostamente responsável e no seu pleno Juízo fizesse tal proposta eleitoral com dois anos de antecedência.

Não conheço as premissas técnicas (será que existem?) em que se baseou Marque Mendes, quais as previsões de crescimento de Portugal e da Europa nos próximos dois anos de que partiu para poder fazer a sua promessa, em que modelo econométrico testou as medidas que tenciona implementar para a considerar realizável. Não me parece que baste prometer mais economia e mais Estado social, objectivos que Marques Mendes parece esquecer serem antagónicos, e no meio de um discurso de hora de almoço desatar a prometer o céu e a terra.

Partindo do pressuposto razoável de que Marques Mendes não vai conseguir fazer baixar o rendimento dos europeus, até agora os governos em que participou só conseguiram esse milagre com o rendimento dos portugueses, e de que não vão chover fundos comunitários ou investimentos estrangeiros em montante suficiente para em quatros anos conseguir esse objectivo, como vai Marques Mendes alcançar tal milagre?

O crescimento da nossa economia depende da exportação e o nosso sector exportador não tem potencial de crescimento para realizar tal meta. E mesmo que Marques Mendes conseguisse captar investimentos estrangeiros suficientse para tão grande passo teria que nos explicar onde iria encontrar a mão-de-obra qualificada de que esses investimentos careceriam. E se conseguisse tudo isto no primeiro dia do seu mandato teria que aguardar dois anos ou mais para que as novas indústrias exportadores entrassem em velocidade de cruzeiro, traduzidno a sua actividade em crescimento económico.

Não haverá convergência europeia enquanto não formos melhor do que os outros e estamos longe de sê-lo, estamos longe na qualificação da mão-de-obra, estamos longe na qualidade do ensino, estamos longe na modernização tecnológica das nossas empresas, estamos longe nas nossas infra-estruturas portuárias, estamos longe na qualidade dos nossos políticos, estamos longe no combate à corrupção e como se tudo isto não bastasse estamos geograficamente longe dos Pirinéus.

Marques Mendes fez o que a generalidade dos políticos portugueses fazem, não resistiu à promessa pacóvia da convergência como objectivo da política económica. Só que essa convergência não é um objectivo, é o resultado da conjugação de muitas políticas eficazes e não apenas de “mais economia e mais Estado social”. Talvez fosse mais inteligente propor metas ao nível sectorial e defender uma maior concorrência nos mercados da economia portuguesa para se assegurar que os resultados se concretizassem.