Num país que precisa de se superar se quer ultrapassar o seu atraso endémico deveríamos servir-nos dos bons exemplo, ter referenciais de excelência eleger aqueles que com as suas qualidades e esforço poderiam ser um estímulo para um povo que começa a duvidar de si próprio. Não faltam gestores com mérito, professores que teriam lugar nas melhores universidades do mundo, estudantes que contrariam a má qualidade do ensino ou mesmo políticos que não sabem em que bolso guardam a carteira.
Mas não é a isso que assistimos, os grandes modelos de sucesso são o Cristiano Ronaldo ou o José Mourinho, como se fossem os únicos portugueses que alcançaram o sucesso no Reino Unido e ainda assim nem serão as personalidades mais questionáveis, basta assistir a um dos rituais de distribuição de medalhas em que as sucessivas Presidências da República são férteis para descobrirmos que onde menos se espera há um cidadão exemplar.
Num país com ambição os modelos de referência deveria ser o professor universitário cujo esforço leva a sua escola a ter prestígio internacional, o empresário que sem apoios do Estado e cerimónias de assinaturas com o ministro da Economia abre portas para assegurar à sua empresa o sucesso financeiro que lhe permite ter nos seus empregados verdadeiros colaboradores, o político que é capaz de decidir em função do interesse do país e que depois de exercer o seu mandato regressou à sua profissão sem sinais de enriquecimento, o estudante que conseguiu obter uma bolsa para doutoramento numa universidade de prestígio internacional ou o funcionário público que exerceu as suas funções com isenção e competência. Um país que se preza e tem confiança no futuro escolhe como modelos os que foram capazes de provar que é possível fazer mais, à custa do esforço pessoal, sem truques, sem golpes baixos, sem se ser corrupto ou corruptor e sem favores políticos.
Mas não são esses os nossos heróis, os nossos modelos são o Valentim Loureiro porque ganha eleições, o Alberto João porque graças a políticos cobardes consegue desviar dinheiro para a sua região, ou o Isaltino porque independentemente dos seus defeitos consegue promover Oeiras.
O estudante que conseguiu uma bolsa em Harvard ou no MIT que se deixe por lá ficar, em Portugal o ministro da Ciência elegeu como um exemplo para os estudantes portugueses um aluno que abandonou uma escola com prestígio para fazer as última cinco cadeiras numa obscura universidade privada onde as cadeiras valem menos do que a Sagres oferece às barracas e comes e bebes da Praia da Caparica. E não foi preciso esperar muito tempo para que Pina Moura fosse eleito por Sócrates como o modelo de isenção política e de gestor competente, apesar de ninguém lhe conhecer grande percurso como gestor, sabendo-se que os seus cargos políticos foram importantes para a sua escolha como gestor da Iberdrola e que durante mais de dois anos acumulou as funções da eléctrica espanhola com a de político influente do partido no Governo.
Se com Sampaio basatava acertar 11 no totobola para se ter direito a uma comenda, com Sócrates basta ter apostado na sua ascenção política, todos os seus apoiantes se estão a tornar referências de sucesso e pouco falta para que Armando Vara seja promovido a pequeno Nóbel da Economia.
Com tanto modelo oportunista não admira que em vez de ambicionar estar entre os primeiros, Portugal ande sempre a ver se falta muito para ser o último.