Por mais perfeitos que sejam os modelos de avaliação podem ter resultados perversos, por exemplo, no modelo implementado por Manuela Ferreira Leite os serviços definiram os objectivos de baixo para cima e os funcionários passaram a trabalhar em função dos objectivos, recusando-se a desempenhar tarefas que não constassem da sua lista de objectivos, o objectivo era “produzir para os objectivos”.
O modelo actual não vai fugir à regra, qualquer pessoa de bom senso já sabe quais vão ser os “funcionários excelentes”, no topo da lista estarão as namoradas dos chefes, os afilhados dos directores-gerais, os boys e os familiares e amigos das chefias. Algum director de serviços corre o risco de penalizar um funcionário que reúne periodicamente com o secretário de estado para lhe dar conta (bufar) o que se passa nos serviços? Algum chefe de divisão vai correr o risco de penalizar uma funcionária que namora, mais ou menos discretamente com um subdirector-geral? Os valores deste sistema de avaliação não combinam com a realidade da nossa Administração Pública e ao fim de dois anos já se percebeu que este, como todos os governos anteriores, segue o velho ditado “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”.
A quota reservada ao funcionário comum é bem menor do que a que a lei estipula e só um idiota se vai esfalfar a trabalhar para chegar ao fim do ano e perceber que foi ultrapassado por uma procissão de “funcionários excelentes por inerência”. E mesmo que o funcionário venha a ser condecorado com o estatuto de “herói do trabalho nacional” vai perceber que o Governo lhe deu um chouriço em troca de um porco.
O resultado está à vista, tal como na ex-URSS os “Heróis do Trabalho” vai ser os funcionários exemplares do partido e todos os outros trabalharão para chegarem ao fim do ano e levarem umas palmadinhas nas costas porque ajudaram a cumpriram as metas do plano quinquenal. Na prática vão aprender a tratar o cão com o pêlo do próprio cão.
Um dos exemplos mais caricatos da perversidade deste tipo de regras vem do ministério da Agricultura, onde os funcionários estão a ser colocados em listas de despedimento (há quem lhes chame de mobilidade, o que faz sentido pois será mobilidade para o “olho da rua”) com base no seu desempenho nos anos anteriores. Só que naquele ministério (o tal onde o actual secretário de Estado dos Assuntos Fiscais se fez assessor do ministro da Agricultura de Santana Lopes num tempo em que ficou sem cargo de importância) o PSD reinava e abusava. Resultado: aqueles que o PSD avaliou negativamente por serem do PS são agora os candidatos ao despedimento. Ou seja, o PSD está a tratar o cão com o pêlo do próprio cão, em Santiago do Cacém os homens daquele partido que chefiam os serviços locais do ministério da Agricultura vão para a cervejaria divertir-se porque graças ao Sócrates vão despedir os do PS, incluindo o único presidente de uma junta de freguesia do PS naquele concelho.