sábado, abril 21, 2007

A campanha das “Novas Oportunidades”


Vai por aí mais um burburinho luso por causa da campanha publicitária do programa “Novas Oportunidades’, o Manuel Alegre saiu do hibernação para falar em defesa da dignidade das profissões menos remuneradas, o Daniel Oliveira usa a sua coluna do Expresso para elogiar a falta de escolaridade dando exemplos de sucesso de personalidades que abandonaram os estudos, o Bloco de Esquerda aproveitou a oportunidade para se colar aos cartazes governamentais e fazer mais uma campanha nas suas “fábricas” preferidas, os bares das universidades.

Esgotados os erros administrativos do currículo de Sócrates e sem paciência para discutir mais a Opa, agora que o envolvimento de alguns grandes interesses na tentativa de trazer o aeroporto para próximo de alguns investimentos imobiliários, a nossa elite da opinião vira-se para os cartazes das “Novas oportunidades”.

Os mesmos que não se cansam de terem pena dos coitadinhos dos trabalhadores portugueses que ganham mal, não têm habilitações literárias, etc., etc., ficam muito incomodados porque o Governo usou essa realidade de forma nua e crua na sua campanha. Fazem-no em representação de profissionais a quem ninguém perguntou se queriam ser representados por tão ilustres personalidades ou se sentiam assim tão orgulhosos por ganharem o ordenado mínimo e não poderem almoçar nos restaurantes do Manuel Alegre, ir ao ginásio do Francisco Louçã e ganharem menos num mês de trabalho do que o Daniel de Amaral com um artigo para que semanalmente o Expreeso possa assegurar a pluralidade política.

O meu pai era motorista marítimo, sempre teve orgulho pela sua competência mas tinha muito mis orgulho por ter um filho engenheiro maquinista naval. A minha mãe teve o orgulho de com a sua quarta classe ter conseguido fazer com que três dos seus quatro filhos tivessem cursos superiores, exactamente para que tivessem as possibilidades que ela não teve de usar os seus recursos intelectuais. O facto de se ter orgulho e se ser competente numa profissão mal remunerada não implica que se fique ofendido porque uma campanha lhe recorda que se tivesse outras habilitações se poderia ter ido mais longe na realização profissional.

Estamos perante uma posição que combina três vícios de alguns dos nossos políticos. Pena pelos pobrezinhos, uso e abuso da sua representação e paternalismo. Esquece que ao contrário deles, que escolheram o que quiseram ser, ninguém é taxista ou ardina por vocação, mas sim por sobrevivência.

A campanha pode ser questionável como muitas campanhas publicitárias que ninguém questiona, mas uma coisa é certa, rompe com a tradição das campanhas idiotas feita pelo Estado, como a campanha das facturas é um bom exemplo. Oxalá que sejam muitos os que devido a esta campanha regressem aos estudos, é algo que quase diariamente faço usando precisamente a estratégia da campanha, perguntando aos meus amigos se não gostariam de ter uma profissão diferente daquela que têm.