Depois do Major Valentim Loureiro ter exigido um julgamento em directo numa televisão em substituição da sala de audiências, acabando por se contentar com uma grande entrevista gentilmente concedida por Judite Sousa, acabou por ser Sócrates a escolher o palco da televisão para realizar o julgamento da sua conduta universitária..
Em relação ao seu currículo académico Sócrates disse o que se esperava, ainda que se saiba que durante algum tempo os jornalistas possam encontrar mais umas dúzias de erros administrativos feitos pelas universidades por onde passou. Em toda esta história nunca foi a verdade que esteve em causa, pelo que não é um suposto esclarecimento da verdade que interrompe o processo, este morrerá quando não houver nada para dizer ou quando os patrões da comunicação social não quiserem enfurecer mais o primeiro-ministro porque entretanto surge um novo negócio em que dependem da boa-vontade governamental.
A entrevista acabou por ser um espectáculo triste com um primeiro-ministro de um país cheio de problemas a explicar questões menores como a fórmula com que termina as suas cartas pessoais ou as notas que teve nalgumas cadeiras que, diga-se de passagem, nem foram tão brilhantes quanto isso nem justificam desconfianças quanto ás suas capacidades como estudante.
Por fim, Sócrates portou-se muito mal na forma como caracterizou a blogosfera, num gesto de grande falta de respeito pelos cidadãos que têm o seu blogue e não se enquadram na definição de malfeitores que lhes foi atribuída. Sócrates está esquecido quando o PS andava com o rabo entre as pernas por causa do Processo Casa Pia e foi a blogosfera que ajudou a quebrar o medo que se instalou no país. Não foi graças à actividade política do seu partido que ganhou as eleições.
E enquanto se discutiram coisas menores tudo ficou por esclarecer, em vez de saber em que dia os professores lançavam as notas nos livros de termos eu preferi ter ficado a saber que medidas Sócrates vai adoptar para evitar que a construção de um novo aeroporto não venha a ser um manjar para a corrupção. Em vez de saber como termina as suas cartas eu teria preferido ouvir de Sócrates que os critérios para colocar funcionários públicos na mobilidade são isentos, contrariando o que por aí se vai ouvindo de que o cartão do partido assegura o lugar. Em vez de saber quantas cadeiras fez na UNI eu gostaria de ouvir Sócrates assegurar que a reestruturação dos serviços públicos não obedece a critérios oportunistas, preservando os serviços chefiados por amigos como eu já tive a oportunidade de assistir.