sábado, fevereiro 28, 2009

Ideologia, oportunismo, ignorânia ou má-fé?

Se um grande banco privado português fosse à falência o meu "eu" ignorante abraçaria o meu "eu" de esquerda e exultaria de alegria, para além disso representar uma pequena vingança contra os que me têm sacado milhares em juros oportunistas, seria a oportunidade de ver muitos portugueses aderirem a qualquer idiotice que lhes propusesse.

Invocando o marxismo não sentiria qualquer sentimento de culpa pelas dificuldades que isso traria a muitos portugueses, senão mesmo à esmagadora maioria, a história confirmaria a minha ideologia científica e mais importante do que o mal estar que isso pudesse provocar ao povo, a abertura das portas do paraíso que tal situação traria justificaria todos os prejuízos. Eu que tinha andado décadas a propor sonhos aos que insistiam em ficar acordado seria, de repente, o salvador, as minhas soluções tão desprezadas durante anos eram agora consumidas avidamente por quem está disposto a tudo o que se pareça com uma solução.

Enquanto o meu "eu" de esquerda exultaria pela benesse recebida o meu "eu" de direita ficaria desorientado e até alinharia na crítica ao sistema e às intervenções governamentais, lembraria os tempos em que o PSD emitia comunicados em defesa do socialismo e aprovava uma Constituição à esquerda da de Chávez, para depois andar trinta anos a queixar-se do gonçalvismo.

Se um banco português, e nem é necessário que seja o BCP, ceder à crise financeira e falir a crise internacional instala-se no país e é todo o sistema financeiro que poderá ruir. Nessas circunstâncias as empresas, as famílias e o próprio Estado deixarão de ter acesso ao crédito, as empresas não exportarão, o Estado não poderá pagar a trabalhadores e fornecedores, as famílias reduzirão drasticamente o consumo. A seguir ao sistema financeiro será toda a economia a ruir. Estarão criadas as condições para Jerónimo de Sousa aparecer como candidato credível a presidente vitalício e o próprio Louça deixará de se assumir como marca branca da esquerda e afirmará a fidelidade de sempre dos seus bloquistas ao trotskismo, estalinismo e maoísmo (anterior ao revisionista a Deng Xiaoping).

Ao lado dos prejuízos que poderiam resultar da falência do BPN ou da insolvência dos accionistas do BCP as intervenções da CGD no banco dos bandidos cavaquistas ou o negócio da CIMPOR não passam de alcagoitas, se por cá o Governo nacionalizou o BPN e investiu 2.000 milhões de euros (uma boa parte dos quais será recuperável) os ingleses compraram 672 milhões de euros de títulos tóxicos, a troco de nada pois estes títulos valem tanto como as antigas acções da Torralta.

Defender que 10% das acções da CIMPOR apenas valem o que resulta das suas cotações, fixadas num momento de crise na bolsa oé ignorância ou má fé, os que criticam esta operação com base em pressupostos falsos ficaram caladinhos quando foi notícia a compra pela camarada filha de José Eduardo dos Santos da participação do BCP no BPI por valores muito acima das cotações do mercado. Será que a camarada Isabel dos Santos é estúpida ao ponto de não seguir os critérios de Francisco Louça, cujos admiradores até o elogiam pelos vastos conhecimentos em economia? A filha do presidente angolano comprou uma participação de 9,69% do capital do BPI pagando por cada acção 1,88 euros, 33,3% acima do mercado e não me recordo de ninguém lhe ter chamado estúpida, mais 3,3% do que o prémio pago na operação de compra das acções da Cimpor pela CGD. Talvez os nossos amigos preferissem que fosse a camarada Isabel a comprar as acções da CIMPOR, seria um investimento progressista...

Gosto tanto de Manuel Fino como o pessoal da extrema-esquerda, mas ao contrário dos marxistas-leninistas-trotskistas-maoistas não tenho nenhum prazer em ver os accionistas do BCP irem à falência, indo as suas acções parar às mãos da CGD ao preço da uva mijona. Isso seria o descalabro das acções do BCP no mercado, acções que já perderam quase 90% do seu valor em menos de um ano e, muito provavelmente, seria o fim do banco. Para Louçã isso seria a confirmação da sua ideologia, para mim seria o início da maior crise económica na história de Portugal, para Louçã seria um milagre, para a maioria dos portugueses seria a miséria.

A ideologia mistura-se com má-fé e Manuela Ferreira Leite, que até defendeu que a CGD deveria ser presidida e gerida por um dos seus, não resistiu à tentação do oportunismo, tal como Louça e Jerónimo de Sousa aposta na desgraça como o caminho para chegar ao poder. A oposição não tem resistido à tentação e a direita junta o seu oportunismo e má-fé à ideologia da extrema-esquerda numa cruzada contra a economia, só resta saber quem ganharia com a falência da economia portuguesa.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Há ideologia à esquerda?

Em vésperas do congresso e com o PS a tentar conquistar os votos do seu eleitorado à esquerda seria de esperar um debate em torno do que será ser de esquerda, do que difere o PS da direita e, em particular, do PSD. O debate tem-se centrado mais em torno das políticas do que dos princípios ideológicos e as políticas propostas como sendo de esquerda não passam de medidas dispersas de políticas de rendimentos que visam combater a exclusão resultante das alterações profundas do capitalismo decorrentes do processo de globalização.

O essencial da política económica do PS tem visado a modernização das empresas e do Estado numa lógica de competitividade da economia, sem que se consiga descortinar qualquer objectivo social de médio ou longo prazo que distinga esta política das sugeridas pela direita. O famoso “Estado social” não é suficiente como argumento ideológico, no essencial não difere do adoptados em países europeus que ao longo de décadas foram governados pela direita, nem sequer difere muito do herdado do 24 de Abril, no essencial os princípios são quase os mesmos.

Mesmo as divisões internas provocadas aparentemente por diferenças ideológicas não passam de pequenas guerras tribais conduzidas por velhos “senhores de guerra” da esquerda que insistem em manter os seus exércitos, usando-os numa lógica de partilha de poder. Manuel Alegre usa as suas tropas para garantir cargos para os seus apoiantes, Cravinho usa a corrupção para manter o protagonismo que o levou a uma situação confortável numa instituição europeia e Paulo Pedroso tenta superar os traumas do processo Casa Pia e regressar ao poder. As divisões internas do PS têm como argumento as divisões ideológicas mas visam essencialmente a partilha do poder, só isso explica que o debate seja em torno do desempenho no poder e o PS estivesse na oposição não haveriam ameaças de criação de novos partidos.

À esquerda do PS o deserto ideológico é o mesmo, o PCP tem vergonha da sua ideologia escondendo-a atrás de programas de falsas coligações e omite-a do programa político que defende em público, desdobra-se em medidas para transformar o capitalismo simpático, mas é incapaz de fazer do seu programa político um programa eleitoral. Afirma a perenidade do marxismo-leninismo mas é incapaz de propor as soluções que evitem o descalabro económico e social que ocorreu em todas as experiências socialista, com excepção da China desde que aderiu ao capitalismo. Opta por justificar a queda das experiências socialistas europeias com erros humanos, omitindo o falhanço na tentativa de criar um modelo económico alternativo ao capitalismo, capaz de gerar mais bem-estar em vez de levar povos inteiros a uma situação de quase miséria, como se assistiu em muitos países da Europa de Leste.

O BE é o paradigma desta ausência ideológica à esquerda, depois de décadas a tentarem provar que eram comunistas mais puros do que o PCP as diversas correntes de extrema-esquerda juntaram-se para retirar qualquer princípio comunista dos seus programas e apresentar aos eleitores um capitalismo simpático, uma espécie de marca branca na prateleira ideológica da esquerda. O BE parece querer chegar ao comunismo por uma via light, sem ninguém dar por isso ou saber para onde vai, transformando os capitalistas nuns “gajos porreiros” por força de medidas como a proibição de despedimentos nas empresas com lucros.

A verdade é que a esquerda não tem ideologia ou tem vergonha de defender em público os projectos que defende em privado, as diferentes correntes de esquerda defendem um capitalismo mais simpático ou capaz de gerar fundos que permitam iludir a realidade com políticas de rendimentos para encobrir o empobrecimento dos marginalizados pelo desenvolvimento económico. Nenhuma corrente de esquerda defende um projecto de sociedade, limitam-se a propor medidas mais ou menos simpáticas ou, pior do que isso, a invocar diferenças ideológicas para terem mais peso na partilha do poder e das benesses que daí resultam.

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Loja de sementes na Praça dos Restauradores, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Danish Ismail/Reuters]

«A Kashmiri protester threw a large rock at a police officer in Srinagar, India, Wednesday. Law enforcement locked down the main city to suppress violence after the army was blamed for the deaths of two Muslim men.» [The Wall Street Journal]

JUMENTO DO DIA

Pinto Monteiro, Procurador-Geral da República

Pinto Monteiro quer levantar o segredo de justiça no caso Freeport pela mais peregrina das justificações, por causa das fugas ao segredo de justiça, isto é, como não consegue fazer com que os seus serviços cumpram a lei quer aproveitar-se da possibilidade oferecida pela lei. Recordo-me que quando esta lei foi adoptada foram muitos os magistrados, incluindo Pinto Monteiro, que questionava a eficácia do combate ao crime económico por causa do prazo para a manutenção do segredo de justiça. Agora é Pinto Monteiro que quer levantar o segredo de justiça.

Por este andar ainda se vai lembrar de propor que a PGR passe a contar com instalações reservadas a jornalistas, assim a far-se-ia justiça pois a fuga ao segredo de justiça era generalizado e todos os jornalistas teriam acesso aos segredos da justiça em igualdade de circunstâncias. Além disso, afastava-se as suspeitas de corrupção ou de interesses obscuros na violação dos segredos de justiça a que o país tem assistido.

Enfim, se não os consegues vencer junta-te a eles.

AVES DE LISBOA

Pintassilgo [Carduelis carduelis], Parque da Bela-Vista

AS SAUDADES DE FUMAR

«Eu gostava muito de fumar. A confusão engraçada entre o pretérito perfeito ("gostava") e o futuro condicional ("gostaria") não podia ou poderia ser mais eloquente. Gostava e gostaria. É assim o amor: a vontade permanece e a esperança de um dia poder recomeçar persiste, como num sonho. O prazer é uma teimosa-maravilha.

Todos os meses, a portentosa Tabacaria Autonomista em Ponta Delgada mandava-me, sempre à cobrança e com a confiança e boa educação que já não sobrevivem no continente, 20 caixas de cedro com cigarrilhas da Fábrica Estrela, tão habilmente encaixotadas e protegidas que me custava rompê-las. Seria ingrato não dar o número da melhor tabacaria do mundo: é o 296287789. Perguntem pelo senhor Marco e descubram uma cumplicidade tão amistosa como comercial. Séria.

Cada caixa, pregada e preenchida à mão, continha 60 cigarrilhas, atadas com um nó na ponta, cujo aroma - de incêndio distante e de cabedal novo; de vime molhado por chuva morna - era, mesmo antes de acendê-los, o suficiente para me pôr a sorrir e a chorar ao mesmo tempo. Quando deixei de fumar (por achar que já tinha abusado durante 40 anos) e devolvi as boas caixas que restavam, a Autonomista reembolsou-me no dia seguinte.Hoje, ao passar de carro pelas ruas portuguesas, só vejo gente a fumar. Puseram-nos na rua, bem sei. Mas dá a ideia que não há ninguém que não fume excepto eu. E isso alegra-me e lembra-me do sabor e do compasso deliciosos das cigarrilhas Estrela. » [Público assinantes]

Parecer:

Por Miguel Esteves Cardoso.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «»

COMISSÃO APROVA AUMENTO DO DÉFICE

«A Comissão Europeia (CE) avalizou ontem as despesas e receitas orçamentais e "autorizou" a Portugal o défice orçamental acima dos 3% do PIB, no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) para este ano. Assim, ao contrário do que sucedeu com França e Alemanha, Portugal está livre de um "procedimento por défice excessivo em 2009", apesar da previsão de desequilíbrio se fixar nos 3,9% do PIB. É que a derrapagem das contas deve-se às "medidas discricionárias" do Governo para conter os efeitos da crise e da "quebra da actividade económica".

Bruxelas explica que as medidas de apoio à economia - tomadas no contexto do plano europeu de recuperação aprovado em Dezembro pelos chefes de Estado e de governo - no caso português, ascendem a 0,8% do produto interno bruto. A Comissão considera que, a par de Itália, Luxemburgo e Lituânia, Portugal optou por medidas orçamentais de reacção à crise financeira que são "oportunas, direccionadas e temporárias" - os três critérios essenciais para que as medidas passem no crivo de Bruxelas. » [Diário de Notícias]

Parecer:

Mais um contratempo para Manuela Ferreira Leite.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Solicite-se comentário à líder do PSD.»

LADRÃO DESCUIDADO

«Um ladrão australiano ficou acidentalmente fechado num carro enquanto o tentava assaltar. O caricato incidente aconteceu em Adelaide, quando a polícia foi chamada a uma casa porque dois homens estavam a tentar arrombar uma viatura.

Segundo a Reuters, ao chegar ao local os agentes foram surpreendidos por um homem de 53 anos escondido dentro do veículo trancado. O segundo ladrão estava escondido atrás de uns arbustos. » [Jornal de Notícias]

PROFESSORES DO CONSLHO EXECUTIVO USAM O CARGO CONTRA AVALIAÇÃO

«Os 139 presidentes de órgãos de gestão de escolas reunidos este sábado em Santarém decidiram elaborar um manifesto, a entregar «pessoalmente» à ministra da Educação, contendo a sua posição sobre o modelo de avaliação dos professores, noticia a Lusa.

Numa reunião em que chegou a ser «ponderada» a demissão em bloco de todos os presidentes de conselhos executivos (PCE) presentes, estes acabaram por decidir deixar essa discussão «para outra altura», nomeadamente para o caso de a resposta ao seu manifesto não os deixar «mais tranquilos». » [Portugal Diário]

Parecer:

O cargo de membro do conselho executivo não é de nomeação, se os seus membros discordam das leis da República e não as querem aplicar então só têm uma coisa a fazer, demitirem-se.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sugira-se aos senhores professores que se demitam dos conselhos executivos dando o lugar aos que pretendem gerir as escolas,»

OS AMERICANOS DEVEM ESTAR A GOZAR CONOSCO

«Abusos da polícia portuguesa e dos guardas-prisionais, más condições nas cadeias, violência contra mulheres e crianças e o tráfico de mão-de-obra e de mulheres continuam a ser os principais problemas de Direitos Humanos que os EUA apontam a Portugal, escreve a Lusa.


O relatório sobre Direitos Humanos do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América (EUA), relativo a 2008, divulgado esta quarta-feira, refere que o Governo português «geralmente respeita os direitos humanos dos cidadãos» mas adianta que «existem problemas em algumas áreas». »
[Portugal Diário]

Parecer:

Depois do que se passou em Guantánamo e ns prisões secretas da CIA qualquer crítica ao sistema prisional dos outros países cheira a anedota cínica, os americanos perderam a autoridade moral para fazerem relatórios sobre direitos humanos. A mudança do presidente não basta para que os EUA sejam ilibados pelo que fizeram, até porque este relatório ainda foi elaborado no tempo da administração Bush.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao embaixador dos EUA se acha mesmo que as nossas prisões são piores e os prisioneiros têm menos direitos do que nas prisões americanas.»

O TROCIDADOR ANEDÓTICO

«De acordo com o secretário de Estado, Gonçalo Castilho dos Santos, aos funcionários públicos será assegurado, além da equiparação de direitos com o sector privado em termos de protecção da parentalidade, a garantia de retroactividade das regras à data de entrada em vigor do regime geral, uma vez que o processo legislativo ainda não está concluído.» [Portugal Diário]

Parecer:

Este secretário de estado, o tal que trucidava os que se atravessassem à frente da reforma da AP, é uma verdadeira anedota, tão anedota que para além de só dizer bacoradas ainda não percebeu que ninguém o leva a sério, não passa de um "pet" do ministro das Finanças. Depois de terem tirado direitos aos funcionários com o argumento de os equipararem aos trabalhadores do sector privado esta anedota já fala de equiparação no sentido inverso.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Sócrates onde arranjou este "coiso".»

HAMAS INTRODUZ PENA DE CRUCIFIXAÇÃO

«La agrupación terrorista palestina Hamas, introdujo una Sharia (ley islámica) en el código criminal de la Autoridad Palestina, que legaliza la crucifixión de los enemigos del Islam. El anuncio se hizo simultáneamente con la emisión por la televisión británica del "Mensaje Navideño" del presidente de Irán, principal proveedor de armas al Hamas. » [Los Tiempos]

Parecer:

O que terão a dizer os admiradores locais do Hamas?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Jerónimo de Sousa e a Francisco Louçã.»

INGLESA DE 15 ANOS GANHAVA 100.000 LIBRAS ANUAIS NA PROSTITUIÇÃO

«A 15-year-old schoolgirl earned almost £100,000 a year working as a high-class prostitute, it was revealed yesterday.

By day the teenager attended classes but at night she was regularly paid hundreds of pounds for sex.

The girl, who cannot be identified because of her age, is believed to have been working for an escort agency based in Newcastle.

She lied about her age before going on to earn £1,700 a week, meeting dozens of men on school » [Mail]

MALEWITCH

TRANSPORTE DE OBRA DE ARTE NA CHINA

«An artwork called The World's Largest Breasts, by Chinese artist Shu Yong, is towed by an ox in Qingyuan, Guangdong Province, China» [Telegraph]

Se fosse em Braga já estavam multados e a obra de arte convenientemente coberta.

TÍTULO 52


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quinta-feira, fevereiro 26, 2009

A moda da avaliação

O Governo descobriu na avaliação do desempenho dos agora transformados em trabalhadores que desempenham funções públicas a solução para todos os males da Administração Pública, vendo aí uma forma de aumentar a produtividade transformando a remuneração normal num prémio.

Não está em causa a necessidade de avaliar o desempenho dos trabalhadores, duvido mesmo que sem essa avaliação qualquer organização funcione. O que duvido é que faça sentido avaliar trabalhadores sem avaliar os gestores e sem qualquer grelha de avaliação dos resultados da Administração Pública.

Se uma escola apresenta resultados acima da média que impacto terão estes resultados na avaliação dos seus professores? Se um serviços de finanças tiver cobrado tudo o que havia para cobrar como serão avaliados os seus trabalhadores? Com um modelo que parte do princípio de que quase todos os trabalhadores são medianos, fracos, burros ou mesmo gandulos, reservando os parâmetros máximos para 5% de eleitos os professores da escola e os funcionários dos serviços de finanças serão avaliados como na antiga União Soviética, um de cada serviço receberá a medalha de herói do trabalho enquanto todos os outros desenvolverão estratagemas para trabalharem menos já que o se esforço não foi premiado.

Este conceito de avaliação é tão caricato que num serviço om resultados exemplares todos os trabalhadores poderão ser considerados inadaptados para as funções, como num serviço com resultados desastrosos os seus dirigentes poderão ser elogiados no Diário da República como, aliás, é da praxe. Se daqui a cinco anos forem feitas as estatísticas dos resultados das avaliações concluiremos que os resultados tendem a ser idênticos independentemente dos resultados dos serviços.

Imaginemos que uma empresa deixa de ser avaliada em função dos seus resultados, que apenas 5% dos seus trabalhadores poderão ser premidos e que a sua avaliação é independente dos resultados da empresa. Não é difícil de adivinhar que essa empresa não sobreviverá muitos anos, terá o destino de muitas empresas da ex-URSS, trabalhadores e gestores começarão a trabalhar em função dos parâmetros da avaliação e não dos resultados, o seu destino a falência.

Todos os fundamentalistas são idiotas (como é o caso do tal secretários de estado que ameaçou atropelar os que se metessem no seu caminho) e os que pretendem avaliar só por avaliar, convencidos de que isso substitui a competência dos gestores são idiotas. Qualquer modelo de avaliação que despreze e nõ tenha em consideração os resultados das organizações é uma aberração, inicialmente terá os resultados conseguidos pela imposição do medo, mas a médio prazo estará votado ao fracasso, mas nessa altura os idiotas estarão longe, como já está o secretário de Estado que implementou a actual reforma da Administração Pública.

Ao fim de quatro anos de governo e de reforma da Administração Pública quantos dirigentes foram avaliados? Quantos foram demitidos por incompetênia? Nenhum, são todos execepcionais, no país onde só 5% dos trabalhadores são bons temos sorte porque todos os dirigentes são competentíssimos, basta teremn fgrequentado um curso da treta ministrado pelo INA.

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Amanhando as redes, Vila Real de Santo António

IMAGEM DO DIA

[Adnan Abidi/Reuters]

«A laborer worked Tuesday at the Thyagraj Sports Complex, one of the venues for the October 2010 Commonwealth Games, in New Delhi.» [The Wall Street Journal]

JUMENTO DO DIA

Mário Lino, ministro das Obras Públicas

O ministro Mário Lino não está incomodado com os gastos de quatro milhões de euros em cerimónias de inaugurações de estradas, um disparate num país com as dificuldades do nosso. É evidente que o ministro está a confundir as concessionárias das estradas com fundações de beneficência, ainda não percebeu que estas despesas são lançadas como custos e deduzidas dos lucros pelo que uma parte é paga pelo Estado que cobra menos impostos, o resto vai ser pago pelos automobilistas.

Enfim, a cabeça deste ministro parece um deserto e não me estou a referir à falta de cabelo.

AVES DE LISBOA

Pisco-de-peito-ruivo [Erithacus rubecula]

TÍTULO 09

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AUTO DO DESEMPREGADO

«E agora, que vou fazer? Ando vazio, a caminhar no interior de dias vazios. Há duas semanas. E ainda não reuni a força necessária para dizer à minha mulher que fui um dos 180 despedidos. Mas suspeito de que ela adivinha qualquer coisa. Não será, propriamente, a situação em si que lhe desperta a desconfiança; mas algo, um pressentimento obscuro, tenaz e desconfortável começa a invadi-la. Conheço-a muito bem. Passámos muitas coisas juntos. Era uma rapariga de grandes olhos luminosos num rosto alevantado que transpirava confiança e coragem. Quando estive gravemente doente manteve-se à minha beira, vigiando-me, tomando-me o pulso, observando a febre. "Nem te atrevas a deixar-me!", exclamou, certo fim de tarde, presumindo, pelo meu aspecto, que a doença se agravara. Fui agitado por estranho solavanco. Olhei-a e ela sorriu: "Eu sabia. Eu sabia que me não deixavas!" É um pouco grotesco, lembrar-me de estas coisas; mas são estas coisas humildes e modestas que formam a consistência das pessoas. Curioso!, há quanto tempo não lhe digo que a amo, há quanto tempo? Quantas vezes lho disse? Não dá muito jeito, reconheço; mas certamente lho disse, embora em português não soe bem; em inglês talvez sim. Talvez. Como fui parar a esta rua? Acontece-me agora isto. Ando por aí à toa, um impulso irresistível e secreto leva-me a caminhar pelas ruas da cidade onde outrora só raramente ia.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Baptista Bastos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

SARDINHA DÁ CHOQUE

«Era fatídico: o cancro tinha de chegar à sardinha assada. No PÚBLICO de ontem transmitia-se a triste descoberta de um grupo de investigadoras portuguesas. Recomendam elas que as sardinhas sejam assadas num grelhador eléctrico ou afastadas das brasas. Que é para ficarem mesmo boas, como a gente gosta.

É que não é a primeira vez que estas investigadoras dão conselhos culinários. Noutro artigo sugeriam que a carne fosse marinada em vinho ou cerveja antes de ser grelhada, para evitar a formação dos tais compostos cancerígenos. Será a marinada uma compensação alegremente alcóolica para a perda do sabor puro dos grelhadinhos? E que tinto recomendarão para acompanhar?

O artigo dos bifes marinados já saiu no Journal of Agricultural and Food Chemistry, que também publicará as sardinhas eléctricas. Terá o seu estrondo cultural saírem de Portugal estudos sobre os malefícios das sardinhas assadas nas brasas. Mostra que não somos facciosos e que os santos populares também têm graça com os castiços cabos enfeitados a ligar os grelhadores eléctricos às tomadas. Resta uma abébia que nos é dada: se as sardinhas forem assadas perto das brasas durante apenas quatro minutos, não há azar. Nem sequer ficam muito mal assadas: ficam bem boas. Isto é, se quer seguir à letra as recomendações destas nossas investigadoras. Que se seguirá? O frango de churrasco? O bacalhau assado? Ou já estamos todos fartos de saber que as coisas excessivamente grelhadas tendem a ser cancerígenas? » [Público assinantes]

Parecer:

Por Miguel Esteves Cardoso.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

AUTARCA DE OLIVEIRA DE FRADES BOICOTA FUNCIONÁRIO QUE É CANDIDATO DO PS

«Porfírio Carvalho apresentou publicamente a candidatura à câmara, da qual é funcionário há 14 anos, no inicio do mês. O candidato, que já foi chefe de divisão no anterior mandato autárquico - também ganho pelo PSD, é técnico superior na câmara e tem por missão a análise de candidaturas aos fundos comunitários, da legislação publicada e produz ainda estudos. Mas desde o anúncio da candidatura que passou a trabalhar sozinho "quanto antes tinha outro colega no gabinete". Porfírio Carvalho acrescenta que também deixou de dispor de "telefone, impressora, Internet e rede informática da autarquia" instrumentos que considera fundamentais para "exercer a minha profissão". » [Diário de Notícias]

Parecer:

Este é o PSD profundo ainda que muito parecido ao actual PSD da capital.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se pelas eleições autárquicas.»

BRIAN KLIMOWSKI

PATRONATO SANTO ANTÓNIO