Em tempos de crise esta questão, ainda que não seja colocada de forma directa, tem estado no centro do debate. Ouvimos o patrão do Grupo Jerónimo Martins garantir que despedir trabalhadores seria a última das medidas que adoptaria, antes disso adoptaria outras medidas, incluindo a redução dos ordenados dos quadros. No lado oposto soubemos de um industrial corticeiro que tencionava iniciar despedimentos, como medida preventiva para combater o impacto da crise. Louça entrou no debate e propõe que se legisle no sentido de impedir as empresas com lucros de proceder a despedimentos.
Tenho muitas dúvidas de que uma empresa que é gerida sem que os seus administradores estejam preocupados com o bem-estar dos trabalhadores seja uma empresa bem gerida. Os liberais dir-me-ão que isso não está em questão, os fascistas acrescentarão que isso é um pressuposto do modelo corporativista da empresa e o Loução só não dirá nada porque o líder do BE se recusa, por imposição ideológica, a falar bem de empresas ou patrões.
Na verdade estamos a falar de uma falsa questão, as empresas que não contemplam na sua gestão o respeito pelos seus trabalhadores são empresas sem futuro, perdem os seus trabalhadores mais qualificados e os lucros conseguidos à custa do desprezo dos que lá trabalhadores não são sustentáveis a longo prazo. São empresas que vivem à margem de um modelo social com que se pretende acabar.
É um facto que uma boa parte das empresas e empresários portugueses não têm este tipo de preocupações, o que levará muita gente a pensar que a solução proposta por Louça, impedir as empresas de despedir enquanto tiverem lucros, faz sentido. O problema é que a proposta de Louça soa bem nos ouvidos mas não faz sentido, significa que nenhuma empresa se pode reestruturar para se modernizar se isso implicar redução de empregados e sem o fazer mais tarde ou mais cedo deixará de ter lucros e é muito provável que na hora de encerrar nem tenha recursos para indemnizar os seus trabalhadores.