O essencial da política económica do PS tem visado a modernização das empresas e do Estado numa lógica de competitividade da economia, sem que se consiga descortinar qualquer objectivo social de médio ou longo prazo que distinga esta política das sugeridas pela direita. O famoso “Estado social” não é suficiente como argumento ideológico, no essencial não difere do adoptados em países europeus que ao longo de décadas foram governados pela direita, nem sequer difere muito do herdado do 24 de Abril, no essencial os princípios são quase os mesmos.
Mesmo as divisões internas provocadas aparentemente por diferenças ideológicas não passam de pequenas guerras tribais conduzidas por velhos “senhores de guerra” da esquerda que insistem em manter os seus exércitos, usando-os numa lógica de partilha de poder. Manuel Alegre usa as suas tropas para garantir cargos para os seus apoiantes, Cravinho usa a corrupção para manter o protagonismo que o levou a uma situação confortável numa instituição europeia e Paulo Pedroso tenta superar os traumas do processo Casa Pia e regressar ao poder. As divisões internas do PS têm como argumento as divisões ideológicas mas visam essencialmente a partilha do poder, só isso explica que o debate seja em torno do desempenho no poder e o PS estivesse na oposição não haveriam ameaças de criação de novos partidos.
À esquerda do PS o deserto ideológico é o mesmo, o PCP tem vergonha da sua ideologia escondendo-a atrás de programas de falsas coligações e omite-a do programa político que defende em público, desdobra-se em medidas para transformar o capitalismo simpático, mas é incapaz de fazer do seu programa político um programa eleitoral. Afirma a perenidade do marxismo-leninismo mas é incapaz de propor as soluções que evitem o descalabro económico e social que ocorreu em todas as experiências socialista, com excepção da China desde que aderiu ao capitalismo. Opta por justificar a queda das experiências socialistas europeias com erros humanos, omitindo o falhanço na tentativa de criar um modelo económico alternativo ao capitalismo, capaz de gerar mais bem-estar em vez de levar povos inteiros a uma situação de quase miséria, como se assistiu em muitos países da Europa de Leste.
O BE é o paradigma desta ausência ideológica à esquerda, depois de décadas a tentarem provar que eram comunistas mais puros do que o PCP as diversas correntes de extrema-esquerda juntaram-se para retirar qualquer princípio comunista dos seus programas e apresentar aos eleitores um capitalismo simpático, uma espécie de marca branca na prateleira ideológica da esquerda. O BE parece querer chegar ao comunismo por uma via light, sem ninguém dar por isso ou saber para onde vai, transformando os capitalistas nuns “gajos porreiros” por força de medidas como a proibição de despedimentos nas empresas com lucros.
A verdade é que a esquerda não tem ideologia ou tem vergonha de defender em público os projectos que defende em privado, as diferentes correntes de esquerda defendem um capitalismo mais simpático ou capaz de gerar fundos que permitam iludir a realidade com políticas de rendimentos para encobrir o empobrecimento dos marginalizados pelo desenvolvimento económico. Nenhuma corrente de esquerda defende um projecto de sociedade, limitam-se a propor medidas mais ou menos simpáticas ou, pior do que isso, a invocar diferenças ideológicas para terem mais peso na partilha do poder e das benesses que daí resultam.