Se houve uma manobra, como penso desde o princípio, é evidente que não só foi agendada para o ano eleitoral, como coincide com o período que antecede o PS. Só que Sócrates recuperou, nem sequer foi mais afectado do que sucedeu com o caso do professor mal educado, o caso do diploma ou o dos desenhos de construção civil. O eleitorado vai-se habituando e mesmo que um dia alguém prove que Sócrates roubou o cavalo de D. José estátua equestre do Terreiro do Paço, em Lisboa, o PS arrisca-se a ter a maioria absoluta.
É evidente que a próxima sondagem eleitoral vai apontar para uma descida do PS e, muito provavelmente, o PSD nada ganhará, o que, aliás, tem sucedido em várias sondagens que foram feitas desde que Manuela Ferreira Leite lidera o partido. Mas na hora do voto é muito provável que muitos portugueses prefiram engolir Sócrates a digerir um sapo chamado Manuela Ferreira Leite. Hão-de haver alguns professores que preferiam ser governados pelo Kim Jong-Il, desde que isso resultasse na suspensão do estatuto e da avaliação, mas todos juntos não seriam suficientes para eleger o presidente da junta de algumas freguesias.
A grande vítima do caso Freeport pode muito bem vir a ser Manuela Ferreira Leite, aliás, isso foi evidente na última entrevista de Pedro Passos Coelho, enquanto o país deveria estar a questionar o futuro do primeiro-ministro acabou por ser o PSD a questionar a liderança de Manuela Ferreira Leite. Se alguém tentou dar um empurrão à líder do PSD pode muito bem ter-se enganado e acabou por a prejudicar.
Com a economia a enfrentar a maior crise desde 1975 o país vê um governo a desdobrar-se em acções para limitar os estragos provocado pela crise, enquanto Manuela Ferreira Leite optou por voltar à estratégia de clausura, na esperança de o caso Freeport conseguir os estragos que a sua estratégia não tem provocado. Manuela Ferreira Leite tem-se revelado um enorme erro de casting e agora acaba por ficar prisioneira do caso Freeport, se optar pelo silêncio na esperança de serem as fugas ao segredo de justiça a fazer o serviço arrisca-se a perder protagonismo e a ser acusada de ter fugido perante a crise, se sair para conquistar protagonismo pode ser apontada pelos que falam de cabala. Se Sócrates é suspeito porque um conjunto de factos bem conjugados insinuam que alguém ganhou com o negócio, também é verdade que desta manobra poderiam resultar igualmente benefícios indevidos para o PSD. Mesmo sem carta rogatória da polícia inglesa este partido ficou sob suspeita e é isso que justifica a preocupação de muitos dos seus dirigentes em falar de vitimização.
Mais uma vez Manuela Ferreira Leite falhou, o seu recolhimento e silêncio são mais próprios de um político oportunista, não esteve à altura das circunstâncias, se não fosse Morais Sarmento nenhuma personalidade do PSD teria criticado algo que era criticável. Entre beneficiar de uma jogada suja e demarcar-se dela denunciando-a, ganhando espaço de manobra para depois questionar Sócrates, a líder do PSD optou pela estratégia oportunista. Enquanto isso, os eu guru Pacheo Pereira denunciou o oportunismo da estratégia da liderança do PSD ao lançar insinuações no programa Quadratura do Círculo.
Se Sócrates for inocente o tempo e as investigações jogam a seu favor, Manuela Ferreira Leite arrisca-se a ser a grande vítima do Caso Freeport.