Abandonadas as propostas de refundação a direita passou a concentrara os seus objectivos nas eleições legislativas e, enquanto estas não chegam, faz política em função das sondagens, razão porque o PSD fica tão irritado com os resultados destas. O caso não é para menos, mesmo com o processo Freeport a ser lançado nos jornais o PSD e Ferreira Leite desceram.
Nem Portas nem Manuela Ferreira Leite têm um projecto político, limitam-se a atirar propostas e a ensaiar estratégias para as avaliar nas próximas sondagens. Portas, mais esperto, apostou em nichos eleitorais, como os agricultores ou os contribuintes da classe média, para lançar propostas simpáticas e, nalguns casos, plenamente justificadas. Igualmente sem qualquer projecto Manuela Ferreira Leite aposta na sua imagem, que nunca foi grande coisa, alternando entre o silêncio e o banzé, entre a recusa de apresentar propostas com receio de serem copiadas e o lançamento de propostas avulsas que chegam a ser disparatadas, como as posições assumidas em relação ao aumento do salário mínimo ou dos aumentos de vencimentos na Função Pública.
A direita não tem projecto político, convencida de que terá o poder quando o PS o perder opta por não apresentar qualquer projecto enquanto aguarda que algo tire Sócrates do Poder. Ao longo da legislatura o debate no interior do PSD em vez de se realizar em torno de propostas ou do programa, evoluiu ao sabor das sondagens, três líderes foram condenados mais pelas más expectativas eleitorais do que pelas suas propostas, ou nem as apresentaram ou se o fizeram ninguém lhes deu atenção.
A esquerda vive um tempo de vacas gordas, se não fosse a necessidade de acusar o PS de direita o PCP já teria defendido que a “maioria de esquerda” seria suficiente para relançar a reforma agrária e voltar a abrir a Lisnave. A extrema-esquerda junta tem quase 20% das intenções de votos e até Manuel Alegre, que se comporta como um verdadeiro coronel ou senhor da guerra eleitoral, sente a tentação pelo perfume da ditadura do proletariado, agora disfarçada sob a forma de “esquerda moderna” ou “esquerda grande”. O problema é que Louçã não está disposto a dar o protagonismo a Manuel Alegre ou a ser ultrapassado por Jerónimo de Sousa, o primeiro não lhe inspira confiança e com o segundo tem umas contas a ajustar, contas do tempo em que Leon Trotsky levou com um machado no México.
A esquerda, onde se mistura as mais variadas correntes, desde os estalinistas aos restos desamparados do PRD de Ramalho Eanes não tem projecto, nela reina a convicção de que para que não haja desemprego basta um decreto a proibir o despedimento, para que haja crédito basta nacionalizar a banca e para que haja riqueza basta distribuir a dos ricos. É uma esquerda que não pensa no futuro, que se recusa a perceber a realidade e a pensar no futuro. Tudo se resolve com receitas que ao longo de um século de história só produziram desastres.
Enfim, tal direita, tal esquerda e enquanto o sistema partidário é incapaz de gerar soluções para o país os portugueses lá vão respondendo às sondagens numa democracia feita de questionários.