sábado, fevereiro 07, 2009

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Cacilheiro

IMAGEM DO DIA

[AP]

«Chinese soldiers use washbasins to help irrigate crops in a field at Hejie village in Xuchang in China's Henan province. The People's Liberation Army deployed over 1,000 soldiers to help irrigate crops in Xuchang. China has declared a top-level emergency for the country's worst drought in five decades that has hit eight wheat-growing northern provinces and left more than 4 million people without proper drinking water.» [Washington Post]

JUMENTO DO DIA

Jerónimo de Sousa

O mesmo Jerónimo de Sousa que no congresso do PCP recentemente realizado excluíu qualquer aliança com o PS vem agora admitir uma aliança pós eleitoral, ainda que com condições. Já faltou mais para que o PCP volte ao discurso da maioria de esquerda.

SONDAGEM ESCLARECEDORA

Ao questionar se os portugueses querem que Sócrates seja demitido a sondagem da TVI mostra o que se pretende com o caso Freeport, a direita e a extrema-direita (que se manifesta nos telejornais de sexta da TVI) querem a demissão de Sócrates.

Não querem apenas prejudicar o PS eleitoralmente, não querem arriscar a ir a eleições sem decapitar primeiro o partido do governo. É de esperar mais vagas de peças processuais que pelo seu conteúdo começa a ser mais claro a sua origem e não parece ser o Ministério Público.

AVES DE LISBOA

Rola-do-mar [Arenaria interpres]

QUANDO NÓS SOMOS ELES

«Costuma estar sentada na escada do metro do Marquês, com um cartão pardosobre os joelhos."Ajude por favôr", soletra a esferográfica azul no cartão. Antes, há um ano ou dois, o cartão dizia mais. Acrescentava: "Sou portuguêsa". Entre os passantes houve quem anotasse o certificado de origem, o carimbo de pobre genuína, de pessoa de bem que pede porque precisa, que não é uma parasita da globalização vinda da "terra dela" para a de outros disputar a pouca esmola que resta, que é nossa, nossa responsabilidade, e a quem devemos, por solidariedade e exigência de sangue, dar o que tivermos para dar. Fotografada e analisada em colunas de opinião, a frase acabou censurada às mãos da sua legítima dona. Ficou só o "ajude por favôr", ainda com um acento circunflexo a mais mas sem atestados de raça.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Fernanda Câncio.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

O CENTRO DO ENSINO

«Gosto de publicidade e acho que se aprende muito com ela. Saber o que as pessoas e as empresas querem parecer e ser (quando forem grandes) é informativo e, às vezes, comovente.
Agora há muitas universidades e apesar de haver muitos alunos também não chegam para todas. A concorrência é cruel e há tantos cursos que se torna difícil inventar um que não exista já. Experimente. É um divertido jogo de salão. Quanto mais imaginário parecer, maior a probabilidade das inscrições estarem abertas.

A publicidade das universidades não é menos imaginosa. Ontem reparei que a Universidade Autónoma de Lisboa - cujo logótipo tem uma coroa de louro em cima do A como agradecimento a Apolo - começou a anunciar-se como "A única universidade no centro de Lisboa".

De facto, não é mentira: é no Conde Redondo, tão perto do Marquês de Pombal como do Elefante Branco. Mais central não podia ser. Dá jeito estudar numa universidade tão bem situada. Sai-se das aulas e, passados uns minutos, pode-se estar na Smarta ou no Dolce e Gabbana.

Como irão as outras universidades contra-atacar? Todas estão bem situadas, dependendo do que se pretende. Há, por exemplo, o excelente ISPA em Alfama. Seria incapaz de contra-atacar com "A única universidade no coração do Fado de Lisboa". Mas poderia, se quisesse. Cheira-me que esta guerra, que aproxima, com saborosas promessas, o mundo académico do mundo imobiliário, ainda mal começou.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Miguel Esteves Cardoso.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

REPUTAÇÃO E CREDIBILIDADE

«A Verdade ninguém a conhece. Quem pensa conhecê-la é religioso, no melhor dos casos, ou fanático, na maioria dos exemplos. Há verdades, mentiras e meias-verdades. As meias-verdades são mentiras a dobrar, porque já o são hoje mas só a descobrimos como tal, mais tarde. E doem mais, sentimo-nos duplamente vítimas da mentira. Além disso, se não conhecemos muito bem a Verdade, sabemos muito bem o que é a mentira.

Falar verdade é meio caminho para enfrentar a crise económica e social em que estamos metidos. Melhor dizendo, não mentir nem dizer meias-verdades é a melhor política, em particular, em matéria de finanças públicas. É a única maneira de ter boa reputação, credibilidade e crédito.

O Governo, pelo menos desde meados de Outubro, dá corpo a uma sequência de trapalhadas que agora estão a sair caras, não só ao Governo, mas também ao País (o que é grave).

Em meados de Outubro, afirmava que em 2008 o PIB cresceria 0,8%, quando já se conheciam os dados para os 2 primeiros trimestres. Tal não era possível com base nos indicadores, então disponíveis. Não sabíamos que já estávamos em plena recessão, mas todos sabíamos (e sentíamos) que estávamos muito pior que no primeiro semestre. Agora, a estimativa de crescimento, para 2008, é de 0,3%. O défice público, em 2008, não é o mais baixo da democracia portuguesa. Com os dados publicados em meados de Outubro, será pelo menos 2,9% do PIB, ou seja, mais alto do que em 2007. Em ambos os casos, sem receitas extraordinárias, que é o que interessa, obviamente.

Agora temos uma correcção ao orçamento aprovado para 2009 e mais uma vez se perdeu outra oportunidade para falar verdade. Desde logo, assegura que não existiram receitas extraordinárias, em 2007 e 2008, o que é falso. Basta ler o OE de Outubro para se saber que, em 2008, serão uns significativos 0,7% do PIB e não 0,0%, como diz o Programa de Estabilidade e Crescimento apresentado (1).

Desta vez, o Governo escondeu-se atrás das previsões do Banco de Portugal, que o próprio já tinha dito estarem desactualizadas porque uma série de riscos potenciais se tinham, entretanto, materializado, tanto a nível nacional como internacional.

Mais grave, o Governo ignorou as previsões, já disponíveis, da Standard & Poors (S&P), do The Economist, da Comissão Europeia. Todas, significativamente, mais pessimistas que as do Banco. Ignorou, conscientemente, as consequências do novo rating da S&P para a República. Não quis ouvir as previsões, entretanto tornadas públicas, de vários países, nomeadamente da Espanha.

Já se discute abertamente nas páginas do Financial Times a possibilidade de um país da zona-euro - a Grécia - poder cessar pagamentos, o que, apenas como hipótese, já nos cria sérios problemas. Era assunto temido por mim há muitas semanas mas, não desejando ser ave-agoirenta, nunca o mencionei explicitamente. Mas todos vínhamos tomando conhecimento que tal hipótese estava nas cartas e seria boa política que se guardasse, desde já, alguma margem orçamental para tal eventualidade.

Note-se que em Espanha o défice orçamental ultrapassará os 6%, partindo de um excedente de 2%. E, em Portugal, embora o Governo jure que não ultrapassa os 3,9%, o défice orçamental este ano estará mais perto dos 5 que dos 4%. Tudo isto, se o Governo conseguir financiar-se internacionalmente. Explicando melhor, pode acontecer que o Estado não consiga financiar as projectadas obras de combate à crise e os grandes projectos públicos e o défice ser forçado a ser menor.

Entretanto, ninguém acredita no que o Governo diz e este limita-se a fingir acreditar.

Desta vez, a S&P fez o trabalho de casa e claramente diz que o problema está nas reformas deixadas a meio e no problema orçamental, mais uma vez, ainda por resolver. O facto da SEDES ter salientado, em Junho, o problema das meias reformas, valeu-nos uma campanha (bem organizada, chapeau!) de insultos pessoais.

Quando em Março se anunciou a descida do IVA e eu me insurgi, porque poderia ser necessário o orçamento apoiar o sector financeiro, chamaram-me (pelo menos) irresponsável.
O facto de, há meses, eu e outros chamarmos a atenção de que o problema fundamental de curto prazo é a falta de crédito, não comoveu ninguém. Mas não basta estar certo, é preciso estar certo na hora certa. Li, há dias, que Larry Summers, conhecido professor de Harvard e presidente do National Economic Council de Obama, punha como primeira prioridade o restabelecimento do crédito (a par do emprego) para a política económica americana. Quem ler a imprensa internacional relevante verá que algo de semelhante se passa no Reino Unido. Nós por cá todos bem.

Atribui-se a Keynes o aviso de que "the market can stay irrational longer than you can stay solvent". Em Portugal tal aviso é muito importante. Mais ainda, é importante que o Governo não permaneça irracional mais tempo do que os mercados sem liquidez.

1) Ver PEC (Janeiro 2009), Quadro A-7, linha 4.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Luís Cunha.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

AFINAL O PCP SEMPRE PODERÁ FAZER ALIANÇAS COM O PS

«Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, não afasta um cenário pós-eleitoral de aliança com o PS na entrevista que concedeu ao Correio da Manhã e ao Rádio Clube, que será publicada domingo.
No entanto, Jerónimo de Sousa adianta que primeiro é preciso fazer as contas, isto é, ver como é que os eleitores vão votar nas eleições legislativas do Outono. »
[Correio da Manhã]

Parecer:

Parece que Jerónimo percebeu que o isolamento o prejudica, recorrendo a este truque manhoso apesar de qualquer aliança com o PS ter sido excluída recentemente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao Jerónimo se acha que o PS vai querer aliar-se com ele.»

FENPROF A CAMINHO DA DERROTA

«A Fenprof revelou hoje que cerca de 50 por cento dos professores não entregaram os objectivos individuais (OI), primeiro passo do processo de avaliação, e estima que quando os prazos estiverem concluídos em todas as escolas entre 50 e 60 mil professores não farão a entrega. Da parte do Ministério da Educação, o secretário de estado Valter Lemos já afirmou que a grande maioria dos docentes entregou os OI.» [Correio da Manhã]

Parecer:

Se 50% ou mais dos professores entregaram os objectivos, incluindo sindicalistas da Fenprof, isso significa que Mário Nogueira e o PCP foram derrotados pela ministra da Educação.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Mário Nogueira se não estará a aldrabar os números como é costume.»

CASO FREEPORT AJUDA SÓCRATES E O PS

«A polémica em torno do caso Freeport não está a abalar a confiança dos portugueses no chefe do Governo. De acordo com uma sondagem CM/Aximage, 47,9 por cento dos inquiridos afirmam que preferem José Sócrates para primeiro-ministro. Apenas 22,3 por cento aponta Manuela Ferreira Leite.
O PS também resiste à polémica e subiu mesmo nas intenções de voto. Este mês, os socialistas conquistaram 38,2 por cento das intenções de voto, mais 0,9 pontos percentuais. Já o PSD, apesar de subir 0,5 pontos percentuais, reuniu apenas 23,8 por cento das preferências.»
[Correio da Manhã]

Parecer:

Isto quase merece uma gargalhada, nem o Freeport ajudou Manuela Ferreira Leite.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se à líder do PSD se percebeu a mensagem subjacente aos resultados desta sondagem.»

DISTRITAIS DO PSD ESTÃO INQUIETAS

«"Inquietação" é um sentimento que espelha o clima vivido na reunião que Manuela Ferreira Leite manteve na quarta-feira com os presidentes das distritais do PSD na sede nacional. A maioria das distritais mostrou desconforto por, a apenas 120 dias do primeiro acto eleitoral, as europeias, o partido ainda não ter dado sinais de que está pronto para o combate político.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Parece que o Caso Freeport não chegou para animar o PSD.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Encomende-se outro caso Freeport.»

LOUÇÃ NÃO QUER ACORDO COM HELENA ROSETA

«O líder do BE, Francisco Louçã, admitiu ontem "que não existem condições para se concretizar um entendimento com Helena Roseta para a Câmara Municipal de Lisboa" nas autárquicas deste ano. Louçã referiu ao DN que " o BE continua a considerar importante o papel das listas de cidadãos", mas assegura que "em Lisboa vão ter listas próprias".» [Diário de Notícias]

Parecer:

É evidente que Louçã não fará qualquer acordo, o BE não desiste de medir forças com o PCP. É a isto que Louçã designa por convergência de esquerda.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Manuel Alegre o que acha desta convergência do seu camarada de esquerda Louçã.»

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MICHAEL PAPENDIECK

CRUZ VERMELHA