Um dos aspectos curiosos do caso Freeport é a preocupação de alguns sectores da direita em afirmar que em Portugal não há cabalas, isto é, em Portugal pode haver de tudo, até polícias condenados em tribunal por manobras de difamação como sucedeu neste mesmo caso, mas cabalas é coisa que não há. Pode até haver coincidências como o envolvimento sistemático dos líderes de um partido em casos de que podem resultar decapitação das lideranças, mas cabalas não há.
Podem haver investigadores mais interessados em que as peças processuais cheguem às redacções de jornais amigos do que a um juiz, podem ser sempre os mesmo jornais a receberem essa preciosa informação, podem ser sempre as mesmas vítimas, mas isso é fruto de coincidências.
Temos, pois, que em Portugal há coincidências mas somos todos demasiado honestos e defensores da democracia para que haja cabalas, as teorias da conspiração resultam apenas de meras coincidências.
É uma mera coincidência que o SOL, o semanário que iniciou o processo ainda recentemente foi parcialmente vendido a um conhecido empresário do PSD, que, também por coincidência, é patrão de Marques Mendes. É também uma mera coincidência que o segundo jornal a ter acesso privilegiado ao processo tenha sido o Público, um jornal que se tornou no blogue não oficial dos interesses de Belmiro de Azevedo, o seu dono, desde que Sócrates não transformou o novo aeroporto em aerogare privativa do empreendimento de Tróia. É também uma era coincidência que o terceiro jornal a receber cópias do processo pertença a Pinto Balsemão, número um e apoiante assumido da actual liderança do PSD.
Coincidência das coincidências é este assunto ter voltado à berlinda em ano eleitoral e depois de a Carlyle ter comprado a Freeport. Aliás, esta Carlyle é um verdadeiro gerador de coincidências pois também por mero acaso esteve à beira de comprara a GALP ao preço da uva mijona e ainda por cima com dinheiro barato da CGD. Também por coincidência o parceiro local dessa vigarice era a Fomentinveste liderada por gente do PSD. E como em matéria de coincidências ninguém estranha na época do negócio Manuela Ferreira Leite, a líder do PSD que acredita chegar a primeiro-ministro sem até agora ter conseguido convencer um único português além do Pacheco Pereira, era ministra das Finanças de Durão Barroso. Para acabar com esta lista de coincidências mais uma coincidência, o representante em Portugal da Carlyle é Martins da Cruz, compadre de Durão Barroso e que antes de assumir esta função e ter tentado o negócio da GALP tinha sido ministro dos Negócios Estrangeiros, cargo em que defendeu a diplomacia económicas.
Pois é, em Portugal somos todos uns santinhos e não damos golpes baixos, não lixamos o vizinho nem existem, cabalas, todas as maldades que fazemos é por descuido ou para sabermos toda a verdade.
Em Portugal podem haver muitas coincidências, mas cabalas não, isso é coisa de gente com uma imaginação doentia. Por cá, à excepção do Sócrates, somos todos muito honestos. Somos, não somos?