Numa época de crise é grande a tentação para medidas que aos olhos da população poderão ajudar a resolver todos os seus problemas, é por isso que um pouco por todo o lado se fala de proteccionismo. Eu próprio expliquei aqui que a solução dos nossos problemas passa mais pelos investimentos públicos dos nossos parceiros comerciais do que dos investimentos decididos pelo Governo. Em limite poderia defender-se que os apoios fossem dirigidos para as empresas que geram procura interna.
A defesa do proteccionismo é própria dos “chicos espertos”, é uma solução oportunista que seria eficaz se os outros países não reagissem. Se pudéssemos condicionar a nossa procura a produtos nacionais e os nossos parceiros comerciais não reagissem resolveríamos uma boa parte dos problemas. Só que o proteccionismo gera proteccionismo e as consequências podem ser devastadoras. O proteccionismo costuma ser uma mezinha apreciada pela direita mais à direita e pela esquerda mais à esquerda, para todos é uma forma de nacionalismo, para a direita com o argumento de que primeiro estão os nossos, para a esquerda porque há que defender os postos de trabalho.
À esquerda o tempo favorece as falsas soluções que assentam no pressuposto de que dividindo a riqueza deixará de haver problemas, não há pobre que não sonhe com essa solução e a extrema-esquerda usa estes tempos de fome para acenar com a sua receita preferida. É fazer as contas, pega-se na fortuna do Belmiro, do Teixeira Duarte e do Amorim, junta-se tudo e divide-se por todos. Só que ninguém explica que uma boa parte dessa fortuna é capital das empresas e que no dia seguinte seriam muitos o empregados destes capitalistas que engrossariam as filas dos desempregados.
Sócrates também decidiu que poderia ter o seu momento bloquista e descobriu que a solução para descer os impostos dos que estão entre os ricos e os pobres está em tirar aos mais ricos. É evidente que os mais ricos ou vão enriquecer menos pois já têm quanto baste e evitam trabalhar para o fisco ou, como costumam fazer outros ricos, deixam de declarar o que ganham.
Estas falsas soluções, feitas à medida da ignorância colectiva lembram-me a República Popular da China no tempo do grande salto em frente promovido por Mao. Alguém se lembrou que os pardais comiam muito trigo o que significava que se matassem muitos pardais aumentaria a produção de cereais, estávamos em 1958 e era lançada a campanha das quatro pestes. Decidiram então largar escolas e trabalho e irem aos milhares para o campo bater latas e tachos até matarem os pássaros que eram apanhados por cansaço. A campanha teve um grande sucesso, só que no ano seguinte muitos chineses morreram à fome, sem pássaros os insectos multiplicaram-se e destruíram as colheitas. Aliás, aconteceu mais ou menos o mesmo quando decidiram derreter tudo, incluindo as alfaias agrícolas, para transformar a China num grande produtor de aço, ficaram com toneladas e toneladas de ferro de má qualidade e a produção agrícola caiu a pique por falta de alfaias.
Costuma ser este o resultado das medidas evidentes, tão evidentes que a maioria da população as compreende e apoia.