E o que questiona a direita, quem foram os ladrões? Não, querem fazer crer que a culpa é do organismo regulador. É como se a PSP fosse culpada de todos os assaltos a bancos. É evidente que o Banco de Portugal teve uma postura simpática com todos os bancos, da mesma forma que todos sabem que muito dificilmente descobriria a fraude.
O próprio Miguel Cadilhe foi a Assembleia da República passar as culpas a Vítor Constâncio, mas ninguém reparou que o ex-administrador pediu ao Governo 600 milhões de euros para resolver o problema. O nosso modelo de economista liberal, que há bem pouco tempo defendia o despedimento de 150.000 funcionários devendo recorrer-se ao ouro do Banco de Portugal para financiar a operação, esqueceu-se de ir ao mercado procurar dinheiro e encontrou no Orçamento a solução para os seus problemas. Como acusar Constâncio se Miguel Cadilhe esteve à frente do banco durante vários meses e só reparou num buraco de 600 milhões. Os modestos administradores nomeados pela CGD descobriram o buraco de 1.800 milhões em muito menos tempo e nem precisaram de encomendar uma auditoria externa. Como pode Cadilhe acusar Constâncio se ele próprio ou aldrabou as contas ou não as soube fazer e estava à frente do próprio BPN?
Ninguém da direita questiona Dias Loureiro, um dos homens fortes do PSD, mesmo sem desempenhar qualquer cargo. Alguém acredita que ele era tão distraído que nunca tropeçou num buraco de 1.800 milhões? E como explicar a sua saída do BPN salvaguardando o seu investimento vendendo as acções antes da crise. Dias Loureiro foi a um vice-governador do BP pedir a intervenção? Afinal não andava assim tão distraído pois deu pela existência de problemas.
É evidente que o caso Freeport veio mesmo a calhar e para a nossa direita um buraco de 1.800 milhões é bem menos grave do que o mail de um primo idiota “fazendo-se” a um contrato de publicidade invocando o parentesco com um primo ministro que ia deixar de o ser. É evidente que sendo Sócrates primeiro-ministro tudo se deve esclarecer. Mas sendo Dias Loureiro um membro do Conselho de Estado e homem forte do PSD, para não referir a importância de personalidades como Oliveira e Costa e Daniel Sanches no poder em Portugal.
Personalidades, como Pacheco Pereira que não perde uma oportunidade para lançar suspeitas sobre Sócrates, não fizeram o mais pequeno comentário sobre a fraude do BPN, quando se referem ao caso é para que queixarem do mau polícia, ninguém fala dos gatunos.
Estão muito preocupados com os passarinhos do Tejo que deixaram de ter a fábrica de pneus para passear ou com a possibilidade do tio de Sócrates, que até é simpatizante do PSD, ter ganho uns cobres. Mas não estão nada incomodados com o facto de os contribuintes terem de pagar o buraco provocado pelos seus velhos amigos. Até poderão sacudir a água do capote porque são contra a nacionalização do BPN, apesar de não o terem sido no primeiro momento. Mas sabem muito bem que com ou sem nacionalização era a economia portuguesa que iria suportar os prejuízo e sem a nacionalização muito provavelmente o sistema financeiro português teria entrado em colapso.
O que sucedeu no BPN era razão suficiente para que o PSD tivesse expulso das suas fileiras todos os que estiveram envolvidos directa ou indirectamente nos negócios do BPN e da SLN. Só depois teria autoridade moral para falar de outros casos ou para fazer perguntas na Comissão de Inquérito.