terça-feira, abril 13, 2010

Nem que fossem perninhas de rã

Para vim votar em Manuel Alegre seria um sapo, mas mesmo que em vez disso fossem perninhas de rã não votaria no poeta, não gosto dele, não me sinto em dívida pelos seus grandiosos contributos para a democracia, não vejo nele a inteligência necessária para o cargo e, acima de tudo, acho que o próximo Presidente da República deve ser escolhido para servir Portugal e não como prémio de uma carreira política sem grande mérito.

A trajectória política recente tem mais que ver com a dificuldade em aceitar a derrota nas directas para a liderança do PS do que o epílogo de um trajecto político. Alegre não ganhou notoriedade pelas suas propostas ou pelos seus contributos para o debate interno no seu partido, conseguiu-o porque os seus ataques sistemáticos ao governo do seu partido alimentaram os adversários políticos à direita e na extrema-esquerda.

Os argumentos da cidadania e da unidade de esquerda não passam de argumento de quem fez uma carreira política quase toda ela à margem destes valores. Alegre foi, de vez em quando, um rebelde, mas mais por afirmação e vaidade pessoal do que por preocupações de cidadania. Mesmo o seu empenho na unidade da esquerda tem muito de falso, para ele a unidade da esquerda é juntar-se ao Bloco de Esquerda e a meia dúzia de personalidades bem pensantes, pondo à margem e, porventura, dividindo o PS e o PCP.

Só assim se compreende que só agora Francisco Louçã tenha percebido as qualidades de Manuel Alegre, ao ponto de nem ter esperado pelas formalização da candidatura ou pela divulgação do seu programa para lhe manifestar apoio incondicional. Manuel Alegre não é propriamente um desconhecido que só agora tenha passado no casting do Bloco de Esquerda, é o mesmo Alegre das últimas presidenciais em que Louçã foi concorrente. O que mudou desde então? Louçã percebeu que a vaidade de Alegre era suficiente para o levar a uma trajectória de colisão com o PS, o que vai de encontro à estratégia partidária da frente eleitoral da extrema-esquerda.

Sucede que não gosto nem de Alegre nem de Francisco Louçã e em circunstância alguma votarei num Presidente da República inventado pelo líder do Bloco de Esquerda. Alegre nunca será Presidente da República se tivesse condições para derrotar Cavaco Silva já o teria feito nas últimas presidenciais ou, pelo menos, teria obrigado Cavaco Silva a uma segunda volta. Andou anos a gabar-se de ter derrotado Soares, mas esqueceu que foi ele o derrotado pelo Cavaco Silva.

A candidatura de Alegre apenas serve para assegurar a vitória de Cavaco Silva e, muito provavelmente, para dividir o PS. Manuel Alegre é demasiado vaidoso para alguma vez aceitar uma derrota, arranjará culpados no seu partido. É por isso que Louçã se apressou a apoiar Alegre e os bloquistas enchem as salas do roteiro gastronónimo do pré-candidato, estão pouco preocupados em saber se Alegre vai ser derrotado por Cavaco Silva, a candidatura de Manuel Alegre será sempre uma vitória da extrema-esquerda.