Salgueiro Maia foi um dos melhores interpretes do 25 de Abril enquanto abrir a porta de Portugal à democracia, teve coragem quando foi necessário tê-la, restaurada à democracia voltou ao seu quartel, deu tudo quanto tinha e nada pediu em troca. Não fez discursos, não pretendeu tutelar a vontade do povo, não assinou artigos como capitão de Abril, fez o que tinha de fazer, foi o que tinha de ser.
Por ser quem foi ficou esquecido, representava a coragem que uma direita apeada do poder absoluto nunca perdoou, chegando ao ponto de um Presidente da República dessa direita o ter desprezado ao mesmo tempo que pagava os serviços prestados de um “pide”, foi mesmos promovido do que outros “revolucionários” mais vistosos e que os oficiais da direita depois de retomada a normalide. Foi esquecido por uns e perseguido por outros. Hoje todos os amamos mas quantos não o esqueceram?
Ainda hoje há quem assine artigos de jornal como “capitão de Abril”, quem decida quais os nomes dos oficiais de Abril que devem constar nas estátuas, quem cobre ao país o favor de lhe ter ajudado a conquistar a liberdade. Salgueiro Maia nunca o fez, não foi comandante de nenhuma região, não foi brigadeiro nem general, não assinou artigos de jornais, não andou nas comendas presidenciais, foi igual ao seu povo.
Não impôs ideais ao país, não deu raspanetes à democracia nem pretendeu decidir que democracia que havia de dar, mas deu um exemplo superior ao que qualquer outro deu, serviu o seu país sem pedir nada em troca porque dar a liberdade a um país é um dever e não um favor, servir o povo é dar sem esperar nada em troca.
Um exemplo que muitos dos seus companheiros de armas e uma boa parte da classe política não conseguiram ou quiseram ver. Salgueiro Maia foi melhor do que todos eles e do que todos nós. Por isso merece o reconhecimento unânime de todos, incluindo dos seus adversários, até do” presidentezinho” que temos que em tempos deu ao “pide” a pensão que recusou a Salgueiro Maia.
Este país deve muito a Salgueiro Maia, muito mais do que alguma vez lhe poderia ter dado em vida, deve-lhe a eternidade que só os heróis merecem. Por isso acho que há muito que os seus restos mortais deviam estar no Panteão Nacional e o novo aeroporto de Lisboa devia ostentar o seu nome, para que todos os que neste país abrem asas o façam porque um dia houve um Salgueiro Maia.