O facto de Pedro Passos Coelho ter reunido durante três horas com Sócrates é o reconhecimento de que em Portugal há um governo legítimo e que o líder do PSD fez uma rotura com um passado em que os líderes do seu partido apostavam na de graça. Pode-se questionar a qualidade ou a consistência das suas propostas para o PEC mas é inquestionável que não resolvendo os problemas das finanças públicas algumas dessas propostas são válidas e merecem reflexão.
Pode-se discordar da agenda proposta para a revisão constitucional, discordar das suas propostas de alterações da Constituição ou mesmo duvidar das intenções que estão por detrás dessas propostas, mas é evidente que a forma como Pedro Passos Coelho abordou inesperadamente esta questão revela que pensa por si, que não é um pau mandado dos obscuros assessores de Belém. Ao contrário do que sucedia no mandato anterior liderança não há nem a suspeita nem sinais da mão oculta de Belém na escolha dos líderes, nem mesmo nas opções do partido.
É verdade que Passos Coelho mudou desde que chegou à liderança do PSD, mas também é verdade que mudou para melhor, deixou de discutir a agenda da crise política ainda que isso não signifique que tenha dispensado esse trunfo, até é evidente que algumas das suas propostas parecem querer que Sócrates cumpra um pré-programa de um futuro governo do PSD. Ao abandonar a estratégia sinistra da dupla formada por Pacheco Pereira e Ferreira Leite (um pensava as idiotices enquanto a outra dizia as baboseiras) que centrava a política nos ataques pessoais, até parece que o país ficou mais calmo, há semanas que os protagonistas da vida política deixaram de ser o senhor Palma e os investigadores do MP para serem os agentes políticos, a democracia ganhou muito com isso.
Há anos que o PSD não produzia no parlamento uma intervenção digna dos seus fundadores, isso voltou a suceder com o discurso de Aguiar-Branco nas comemorações do dia 25 de Abril. O ex-candidato à liderança do PSD revelou a dignidade que já tinha exibido na campanha das directas e com Rangel eclipsado no Parlamento Europeu o actual líder tem a possibilidade de c entrar as suas atenções na luta política com o PS.
Mas Pedro Passos Coelho tem ainda um problema difícil de resolver, a unidade do PSD é uma falsa unidade. Enquanto Morais Sarmento foi ao congresso afirmar a sua discordância , não alinhando no unanimismo, outros ou não apareceram ou apenas apareceram na hora da fotografia. Mas se não apareceram no congresso para dar a cara pelo defenderam nos últimos anos, estão no parlamento para prolongar a estratégia política de Manuela Ferreira Leite, senão mesmo para vingar a sua derrota no país e no próprio PSD.
Ao mesmo tempo que vemos Pedro Passos Coelho assumir uma posição construtiva, assistimos na comissão de inquérito a divertidos momentos de intimidade entre Pacheco Pereira e a extrema-esquerda. Ao mesmo tempo que o PSD não faz das questões de carácter o centro do debate político, os seus deputados continuam essa estratégia no parlamento. Pedro Passos Coelho parece não ter oposição interna dentro do seu partido, mas começa a parecer que tal oposição deixou de ter essa oposição interna para passar a ter duas personalidades, há um PSD quando Pedro Passos Coelho aparece, e um outro quando o lúmpen cavaquismo aparece.