quarta-feira, outubro 10, 2007

O meu Rafeiro do Alentejo



Há muitos anos tive um “Rafeiro do Alentejo” (parecido mas ainda maior do que o cachorro da imagem), um cão da raça portuguesa que tradicionalmente era usado como cão de guarda de rebanhos na região que lhe deu o nome. Nesse tempo a raça estava quase em extinção, o efeito combinado da reforma agrária e da exportação de ninhadas levou a que o meu rafeiro fosse um dos raros cães dessa raça, quase um dos últimos.

Para ser cão de guarda não precisava de ser ensinado, quando estava em casa dormia preferencialmente junto à porta, na rua ia adiantava-se sempre que se aproximava um cruzamento, sempre que se cruzava pela primeira vez com alguém que vestisse de forma estranha, fosse um vagabundo ou um polícia fardado, tinha que ser bem preso.

A determinada altura estava de férias na terra, por ali muita gente tinha o mau hábito de soltar os cães, que se misturavam com outros tantos que eram vadios. Estava sentado numa esplanada e cada vez que passava um cão e via o meu rafeiro do Alentejo lá se aproximava para o ritual do cumprimento.

Farto de tanta visita inoportuna enxotei um dos cães, não precisei de voltar a fazê-lo, cada vez que um cão se aproximava o meu rafeiro do Alentejo, que de pé metia as patas em cima dos meus ombros, ladrava com uma força que o visitante quase entrava em pânico.

A subserviência de muitos funcionários e dirigentes leva-os a se comportarem de uma forma que me lembra o meu rafeiro do Alentejo, sempre que se cruzam com alguém que pensam não ser do agrado do chefe desatam a ladrar e tentam mesmo morder. Acham que dessa forma estão a proteger e a agradar ao chefe.

Quando eu tinha o rafeiro do Alentejo tinha que recorrer a uma coleira de estrangulamento e passar o tempo a tentar ensiná-lo a comportar-se, se assim não fosse acabaria por o transformar num cão perigoso. Começo a achar que é tempo de Sócrates ter mais cuidado com os seus rafeiros do Alentejo, se não usar umas coleiras de estrangulamento e nada fizer para reduzir os seus instintos animais ainda vai ter um problema grave. Já houve quem tenha sido mordido pelos rafeiro de Sócrates e em vez de terem levado uma reprimenda e passado a usar ensaimo foram afagados pelo dono..

Ou Sócrates cuida dos seus rafeiros ou teremos que concluir que optou por soltar os cães.